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sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Para evitar a guerra iminente, Irã quer o Brasil de mediador



A guerra e a corrupção fazem parte da natureza do sistema capitalista

Todos sabemos que a situação do Irã está por um fio. De um lado, o Irã quer exercer o seu direito de uso da tecnologia nuclear para fins pacíficos, de outro, a crise do sistema empurra os Estados Unidos e seus aliados - como é mesmo da natureza do capitalismo - para a guerra, como forma de superação do atual ciclo depressivo do capital. A depressão da década de 30 foi superada com o esforço industrial e tecnológico de guerra e a opção política pelo fascismo de algumas frações das classes proprietárias europeias, em quase todos os países da Europa, e não só naqueles que protagonizaram o Eixo.

De fato, depois da Segunda Guerra, o capitalismo saiu mais triunfante do que nunca - afinal, havia engolido a vida de cerca de 60 milhões de pessoas - e despontou como sistema virtuoso e capacitado a atender a todas as demandas sociais e políticas da humanidade.

Mas esse longo ciclo - sempre pontuado por corridas armamentistas e guerras regionais constantes - chegou ao fim. Agora, urge novamente mais um conflito de grandes proporções para alimentar as entranhas do decadente sistemão velho de guerra. É da sua natureza, uma imanência do capitalismo, tanto a guerra, quanto a corrupção.

Pois, duas semanas antes de o Grupo de Viena – formado pelos Estados Unidos, França e Rússia – retomar as negociações com o Irã em torno do desenvolvimento do programa nuclear, o governo do presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, quer o Brasil como mediador para o fim do impasse com a comunidade internacional. Em entrevista à Agência Brasil, o embaixador do Irã no Brasil, Mohsen Shaterzadeh, disse que os iranianos vão insistir que o acordo sobre a troca de urânio seja a base das negociações, sem a possibilidade de substituí-lo.

Para Shaterzadeh, a atuação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ajudou a reforçar o papel relevante que os países em desenvolvimento desempenham no cenário internacional. “A presença do Brasil trouxe uma esperança e um suporte para os países em desenvolvimento”, disse ele, sem mencionar as suspeitas da comunidade internacional de que o programa nuclear do Irã produza secretamente armas atômicas. As suspeitas são negadas pelas autoridades iranianas.

O embaixador acrescentou que “a base das negociações é a Declaração de Teerã [nome oficial do acordo que determina a troca de urânio pouco enriquecido pelo material enriquecido a 20%]. A Declaração de Teerã deverá ser lembrada na história mundial”.

A retomada das negociações com o Irã pelo Grupo de Viena ocorre no momento em que o país é alvo de um série de sanções impostas pela maior parte da comunidade internacional. A adoção das sanções foi definida três semanas e meia depois de negociado o acordo para a troca de urânio. Inicialmente, o Conselho de Segurança das Nações Unidas fixou as restrições, depois vieram os Estados Unidos, a União Europeia e o Canadá.  As medidas restringem eventuais acordos e negócios, principalmente nas áreas militar e comercial.

No entanto, Shaterzadeh disse que a solução para encerrar a polêmica em torno da questão nuclear iraniana está na declaração firmada em 17 de maio, em Teerã. Na ocasião, Ahmadinejad assinou o acordo sobre a troca de urânio na presença de Lula e do primeiro-ministro da Turquia, Tayyip Erdogan. Para o embaixador, é necessário apenas definir alguns ajustes para a adoção do texto.

Pelo acordo, Ahmadinejad reafirma, no primeiro de dez itens, o compromisso de não proliferação de armas. A base da declaração é o acordo para o envio de 1,2 tonelada de urânio enriquecido a 3,5% para a Turquia. No prazo de até um ano, 120 quilos do material enriquecido, em território turco, a 20% será encaminhado para o Irã.

Nos demais parágrafos do texto, o governo do Irã informa estar convencido de que o acordo é o início de uma nova “proposta positiva e construtiva, em uma atmosfera de não confronto, que conduz a uma era de interação e cooperação”.

Há ainda a informação de que o urânio enriquecido na Turquia será de propriedade do Irã. Os iranianos, porém, admitem a inspeção de especialistas estrangeiros – uma referência à Agência Internacional de Energia Atômica (Aiea). Pela declaração, o Irã exige que sejam adotadas garantias e respeitados os termos do acordo.

No texto original do acordo, no 9º parágrafo, os governos da Turquia e do Brasil afirmam confiar nas negociações entre o Irã e o chamado grupo dos países 5 +1 – que reúne os cinco integrantes do Conselho de Segurança das Nações Unidas: os Estados Unidos, a Rússia, China, França e a Inglaterra, além da Alemanha.

No último item, Brasil e Turquia elogiam os compromissos firmados no acordo e os esforços realizados para alcançá-lo. Em contrapartida, o governo do Irã informa que “também avalia os esforços construtivos de países amigos, Turquia e Brasil, criando o ambiente propício para a realização dos direitos nucleares do Irã”.

2 comentários:

Anônimo disse...

No livro "o Teatro do Bem e do Mal", o jornalista e escritor uruguaio, Eduardo Galeano, explica:
"A indústria armamentista precisa de guerras assim como a indústria de casacos precisa de invernos.

Gustavo Guglielmi disse...

Galeano é insuficiente na sua análise. Não é só a industria armamentista, é todo o sistema capitalista que necessita de guerras constantes para renovar suas forças cíclicas.

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