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terça-feira, 17 de agosto de 2010

Presidente Reagan recebe líderes talibãs na Casa Branca



Os "decepadores de narizes femininos", como estão sendo acusados hoje pela grande (e minúscula) mídia, ouvem a oração edificante de Reagan, e quase nem acreditam. Veja o vídeo acima.

Foi no ano de 1985. Os talibãs eram então chamados de "mujahedin" (guerreiros santificados). Hoje, a mídia estadunidense (e os opinionistas periféricos) emana ódio de raça contra os que já foram agraciados - pelo presidente Reagan - de "cavalheiros", de "lutadores da liberdade" e de serem o "equivalente moral dos pais fundadores da América".

Não é preciso dizer que depois dessa honrosa recepção, os líderes das tribos afegãs que combatiam os invasores soviéticos (da ex-URSS) foram presenteados com muito dinheiro, recursos logísticos, especialistas, e armamentos modernos. Foi graças aos mísseis soviéticos que os mujahedin/talibãs conseguiram derrotar os invasores da já combalida União Soviética. Alguém perguntará: mísseis soviéticos? Como assim? É que a Casa Branca, a diplomacia e o serviço secreto optaram, face a Guerra Fria, por não bater de frente com Moscou, portanto, compravam armamentos e helicópteros no mercado negro (ou pior, através das máfias de armas) para entregar secretamente o produto aos rebeldes afegãos.

Em fevereiro de 1989, os soviéticos se retiram definitivamente do Afeganistão, completamente desmoralizados. Esse fato acelerou o desmoronamento da União Soviética, que se desfaz em Alma Ata (cidade do Cazaquistão onde Trostski foi exilado por Stalin em janeiro de 1928) no dia 21 de dezembro de 1991.

O neoliberalismo - que agora está nos estertores - era presenteado com o seu maior trunfo propagandístico e incentivo ideológico: a derrota humilhante do dogma stalinista do planejamento econômico e do capitalismo de Estado - astuciosamente (mal) denominado de "socialismo".

Muitos sustentam que a queda da URSS foi o primeiro sinal da grande crise do capital - a teoria do elo mais fraco - que se desdobrou de fato anos depois, e hoje encontra-se no seu momento mais dramático, com a depressão generalizada na Europa, especialmente no Leste.

Segundo o economista, pesquisador da Universidade de Viena, que ontem tivemos o privilégio de ouvir em palestra na FEE, Joachim Beker, a "atual crise do Leste europeu faz os números da grande depressão de 1929 parecerem grandezas liliputianas, face a gravidade das suas economias absolutamente quebradas e sem nenhuma perspectiva de futuro".

9 comentários:

Anônimo disse...

Boa postagem. Alguém tem que mandar isso para o imbecil do David Coimbra, pra ele ver quem é que está nas origens das decepações de narizes no Afeganistão.

Há um livro de Slavoj Zizek - se puderem, leiam -, intitulado "Bem-vindo ao exército do real", onde ele mostra como, nessa guerra entre "democracia" liberal e fundamentalismo islãmico, não se trata de pólos opostos, mas de dois momentos de um mesmo processo. Os talibãs são o "excesso" da política externa estado-unidense. A Jihad é McJihad. Não há escolha possível entre esse falso par de opositores. Ambos são duas expressões de um mesmo fenômeno.

José Renato Moura disse...

Os Yanques, naquela época, mandaram até seu melhor soldado, o Rambo (Silvester Stalone), lutar ao lado dos "Guerreiros da Liberdade", em um dos filmes da série-abacaxi. Tem uma cena épica, do Rambo cavalgando ao lado dos afegãos, para depois destruir os tanques soviéticos.

Udo disse...

"Bem-vindo ao deserto do real!" é uma coletânea de cinco ensaios de Slavoj Žižek, onde o autor aborda os acontecimentos de 11 de Setembro e suas conseqüências.

O filósofo esloveno firmou-se como um importante interlocutor nos debates sobre o destino do pensamento político de esquerda, ao mesmo tempo em que se transformou em figura de destaque dos cultural studies norte-americanos, ao fornecer uma outra via de abordagem da cultura contemporânea.

Cristóvão Feil disse...

Sim, José Renato, muito bem lembrado.

Depois, eu vou comentar sobre esse filme do Silvester Stallone, em "Rambo 3" (de 1988), onde acontecem mais de 208 cenas de extrema violência e morrem 108 pessoas. Esse filme ficou na história do cinema pela violência.
Rambo se alia aos mujahedin e luta contra o exército soviético.
No final, o filme é dedicado "Ao bravo povo do Afeganistão."

Que tal? Comovente, não?

abç.

CF

Anônimo disse...

Que estranho a reportagem. Parece mais uma crítica aos delatores dos decepadores de nariz de mulher e apedrejadores covardes de mulheres. Ma nada foi dito a favor destas mulheres infelizes. Estranho isto, o errado é quem denuncia. O fato em si parece corriqueiro. Fosse a mãe ou irmã de alguém por ai que perdesse o nariz nas garras destes animaletes o assunto seria diferente. Digo animalete em respeito aos animais. Por aqui tem muito amiguinho de animalete. Amiguinho de animalete animalete é.

Guilherme Dal Sasso disse...

Anônimo à cima: alguém aqui defendeu a postura taliban? o que se critica é a postura de Paladino da Liberdade reivindicada pelos EUA e pela mídia parasita e colonizada. Afinal, se o que aconteceu a tal mulher é um horror, horror maior é que isso continue acontecendo ao lado das pilhas de cadáveres (grande maioria de civis) deixadas pelos "Grandes Libertadores". Os EUA não salvam ninguém. Tu és estúpido ou te fazes de louco?

Claudinha disse...

Boa, Feil!

O texto da Time circulou por uma lista feminista da qual faço parte e eu tive que intervir, no sentido de lembrar certos fatos históricos, que algumas feministas esquecem.
Como bem definiu um dos comentaristas, longe de nós apoiar os talibãs, mas é público e notório, que os EUA se aproximam do que há de pior nos países em que deseja intervir. Ainda que não se possa chamar os talibãs de lesa pátria, ou traidores, trata-se de uma seita extremamente fanática e, para piorar, misógena.
Tenho a impressão de que o serviço secreto estadunidense estava muito mal informado, pois, assim que os mujahidins assumiram o poder no Afeganistão, fecharam o país, aniquilaram, inclusive, com o tráfico de drogas [o que deve ser imperdoável para os EUA...] e passam a ser denominados por talibãs pelos EUA-Ocidente.
Com a invasão dos EUA e a Otan, as mulheres afegãs continuam a sofrer atrozmente.

Nelson disse...

Anos atrás, tive o privilégio de assistir uma palestra do historiador e professor da Universidade de Passo Fundo, Mário Maestri, na qual ele discorria sobre o surgimento dos talibãs.

Conforme Maestri, logo após a invasão do Afeganistão pela União Soviética, os Estados Unidos e a Grã-Bretanha vislumbraram uma boa possibilidade de causar um desgaste constante e crescente às forças comunistas. Para isso, o plano implementado foi a criação, com o apoio da Arábia Saudita, de escolas – as chamadas madrassas - em que era ensinado o Alcorão em uma versão fanatizada. Maestri contou que foram abertas em torno de 1000 madrassas que formaram nada menos que 200.000 talibãs (traduzido para o português, talibã quer dizer estudante). Esses fanáticos iriam lutar contra os soviéticos mesmo que ao custo da imolação de suas vidas.

Portanto, se os talibãs têm muito de fanatismo, isso se deve, em grande parte, aos próprios países ocidentais, que contribuíram para isso.

Nelson disse...

Analisando mais friamente a declaração de Reagan, de que os talibãs eram o equivalente moral dos pais fundadores da pátria estadunidense, chego à conclusão de que ele, mesmo sem querer, não estava de todo errado no que falou.
Digo isso porque, se os talibãs admitem o domínio completo da sociedade pelos homens, o que significa relegar a mulher à escravidão, os pais fundadores, Thomas Jefferson, James Madison, George Washington e outros - ou pelo menos o grupo que hegemonizou a construção da constituição dos EUA -, também não demonstravam pejo algum em admitir a escravização dos negros como algo normal.

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