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Surf no lixo contemporâneo: a que ponto chegamos! E que mundo deixaremos de herança para Keith Richards?

terça-feira, 24 de março de 2009

Yeda negocia secretamente com a GM


Elite guasca quer divinizar novamente o obsoleto automóvel particular

Digam o que disserem os moedeiros falsos, mas a ampliação da montadora GM em Gravataí é uma mostra do atraso no qual estamos enterrados. Trata-se de um setor produtivo obsoleto, não dinâmico, próprio do capitalismo do século 19, uma indústria que não se sustenta por si, um meio de transporte caro, não-solidário e excludente.

Senão vejamos: a GM Gravataí não aporta um centavo de ICMS ao Estado do Rio Grande do Sul, portanto é um parasita que os sul-rio-grandenses carregam nas costas há mais de oito longos anos. Agora, com pressões e contrapressões que beiram à chantagem, a General Motors acena com investimentos (que não são bem assim) da ordem de 1 bilhão de dólares. Mas, se formos examinar detidamente a composição desses 1 bi, chegamos à conclusão que não é o que parece.
Achamos um falso brilhante, um caco de vidro opaco.
A montadora projeta apanhar 350 milhões de reais no BNDES (banco de fomento federal), cerca de 150 milhões de reais junto ao Banrisul (banco estadual), mais a poupança de ICMS não-pago sobre uma produção continuada de oito anos (que se estima em centenas de milhares de reais), acrescido da infraestrutura que também “ganhou” do Estado, mais os investimentos privados dos seus sistemistas, vê-se que a GM não deve aportar absolutamente nada do seu próprio caixa. Fará investimentos nominais de 1 bi de dólares, com recursos estatais, créditos de impostos não-pagos, incentivos outros, investimentos de terceirizados/sistemistas e custos infraestruturais zero. A GM gerencia e investe dinheiro dos outros – os nossos, os vossos, menos o próprio.

Esse é o exemplo típico do capitalismo de ficção de que falam muitos autores, onde tudo é teatralidade e espetáculo.

E que produto oferece a GM, mesmo? O automóvel, a mercadoria que se obsoletiza a cada quilômetro que roda, um bem ambientalmente insustentável, que exige o sacrifício de milhares de vidas a cada ano, exige estradas que já não temos mais, exige cidades que estão entupidas, sobretudo, exige um modo de vida social que dá mostras de exaustão existencial.

Pois, apesar de tudo isso que se sabe e se sente no cotidiano de todos nós, o governo Yeda Crusius desde meados do ano passado promove negociações secretas com a direção da General Motors do Brasil para que o sujeito do nosso pesadelo urbano prossiga e tenha prosperidade em solo guasca.

O projeto de ampliação – insana – da GM no RS deve passar pelo crivo da Assembléia estadual. Quanto a isso, não tenho dúvida de que será aprovado por unanimidade e louvor cívico. A nossa elite política reza pelo gibi seboso do senso mais comum e rasteiro. Incapaz de indicar novos caminhos e horizontes, prefere seguir passivamente pelos becos de servidão de sempre, onde só as ruínas e os buracos são novos.

Enquanto em outros rincões do mundo se discutem e se implantam indústrias autossustentáveis, dinâmicas, solidárias, inclusivas e que apontam tecnologicamente para o futuro, nós, os guascas de periferia, estamos aprovando projetos que representam a vanguarda do atraso, insustentáveis, verdadeiras sucatas tecnológicas, que paralisam a vida urbana, e nos reservam um retorno estúpido e nostálgico ao século 19.

Júlio de Castilhos deve estar revirando os ossos. Coisas da vida.

33 comentários:

Anônimo disse...

Bingo, Feiol.

Carlos Eduardo da Maia disse...

Como é que a GM não vai aportar dinheiro do seu próprio bolso se ela vai contrair empréstimo para o investimento? E empréstimo tem que ser pago. Certa esquerda anticapitalista não entende que esse tipo de investimento faz circular capital, agrega conhecimento, gera empregos e impostos diretos e indiretos. Basta ver o crescimento que Gravataí teve desde a instalação da GM. Depois certa esquerda não entende porque a imensa maioria das pessoas não dão a mínima pelota a seus discursos.

Esteio Eletr�nico disse...

O FEIOL, esqueceu-se de dizer que a cada ameaça de crise mundial, estadual, nacional ou munipal a montadora ameaça e demite tantos quantos funcionários lhes interessa.
Sem contar que os lucros são sempre enviados para a matriz ou quando, novamente, nas crises, remete dólares salvadores para seu país de origem.

Anônimo disse...

sim, gera empregos, mas não na proporção do lucro gerado pela empresa.É também gera impostos , mas que serão pagos pelos consumidores e certamente faz circular capital( alguém tem que consumir o que a empresa produz). Esse cara faz parecer que as empresas vêm para cá por que querem ajudar...
vê se acorda

Anônimo disse...

O Maia é do tempo em que "cresicmento gera desenvolvimento".

Anônimo disse...

A América "Latrina" é o depósito do que é dispensado pelos países desenvolvidos.

Anônimo disse...

Maia é um dos poucos que ainda acredita na palavra PROGRESSO.
Ele jura que essa palavrinha mágica é pra valer e é pra todo mundo.

Anônimo disse...

Gera conhecimento ?
Engula esse chavão, bote debaixo da cama para usar noutra hora, não agora.
Eu assisti, creio que em 1997, a memorável palestra de apresentação da GM para a engenharia da UFRGS, auditório da reitoria lotado com 2 mil alunos e professores para assistir Luiz Moan, diretor da GM falando da fábrica e do processo produtivo.
Foi uma apresentação na qual que tivemos de evacuar o auditório por ameaça de bomba, tremenda palhaçada, uma ameaça falsa.
A bomba de verdade foi o constrangimento do apresentador da empresa ao explicar que o ÚNICO laboratório da GM onde ocorria trabalho de engenharia no Brasil era o laboratório de suspensões em São Paulo, onde a suspensão dos modelos criados lá fora eram adaptadas à buraqueira brasileira.
Foi na época que decidi fazer computação e largar de vez as engenharias.
Conhecimento mesmo se constrói nas incubadoras das universidades, nos cursos de pós-graduação e em empresas como o CEITEC.
Circular por circular, coitado desse argumento fraquinho, se o dinheiro for aplicado na malha e na indústria ferroviária, ele também vai circular pela sociedade com a diferença de baratear o transporte de todos os demais itens que a sociedade produz.
Outro argumento medíocre é que empréstimo representa investimento do próprio bolso. Ora, quem não pagou ainda o que deve e ainda periga falir, não tem crédito. Portanto não merece empréstimo, se fosse pouco o risco o empréstimo e vantajosa a operação seria com o Itaú ou com o Bradesco.
Carinha do focinho, defender a socialização do risco. Paga sozinho Maria !

Anônimo disse...

O Maia escreve:

"Depois certa esquerda não entende porque a imensa maioria das pessoas não dão a mínima pelota a seus discursos."

Quando na verdade é o discurso de uma certa direita que ninguém dá a mínima pelota, a começar pelo blog dele.

Claudio Dode

Anônimo disse...

que og dele, Dode?

Anônimo disse...

Certa direita continua apostando na 1ª metade do século XX, onde o carro era a prótese da classe média alta, separatista e predadora. E essa certa direita que tantos males ocasionou ao povo brasileiro, só tem dois focos: seu próprio unbigo e seus interesses medíocres e lesa-pátria.

armando

Anônimo disse...

NaIndia está sendo lançado o Nano Tato, carro popular que custa 2.000,00 dólares!Pergunta: Quanto custará este novo carro da GM, além de todos os incentivos e empréstimos a perder de vista para nós, pobres pagadores desta orgia automobilística??????

Anônimo disse...

Temos que pagar a estrangeiros pelo conhecimento da tecnologia de um Magnalev, enquanto poderíamos ter adquirido tal conhecimento se o investimento em universidades não fosse dado às montadoras deste tipo e afins.

Anônimo disse...

O sucesso da Tata Motors na Índia só é possível graças a uma estrutura de classes que não é de classes é de castas, uma coisa de mil anos. Um povo bovino.

Anônimo disse...

A Universidade brasileira é um fracasso institucional, produz mão de obra qualificada pra ser explorada de forma vil pelas montadoras, quando deveria pesquisar para o país adquirir autonomia tecnológica e científica. Nossos universitários no máximo serão celetistas dessas indústrias decadentes e que os países centrais jogam pra cá por causa da poluição que causam.
Que garantias a GM vai dar ao Banrisul e ao BNDES pra pegar 500 milhões de reais? Talvez a assinatura do Luis Moan. Assinatura feita a lápis.

Anônimo disse...

Quase não acreditei quando vi, segunda-feira, a ZH dar como manchete: a GM pode gerar mais 2 mil empregos! Mas agora perdemos a vergonha de uma vez??? 2 mil empregos e vira manchete??? Mas o que que é isso???

Será que não tem um economista digno do nome pra fazer as contas, sobre quanto esses "possíveis" empregos (porque a própria matéria admite que o número é chute) custarão, cada um? E quantos empregos muito mais dignos e úteis à sociedade podem ser gerados com o mesmo valor? Na agricultura orgânica, por exemplo, uma das áreas mais baratas e promissoras quanto a potencial de absorção de mão-de-obra?

O RS tapado de espigões e automóveis, estradas de quinta e corrupção de primeira. Somos nós acenando pra o futuro, ele indo em frente e nós pra trás, pra trás, pra trás...

Anônimo disse...

Sinceramente...
Independente de ser bom ou ruimá verdade é que é apenas uma "agenda Positiva" para tentar manter a Yeda no governo
A GM pode estar com osdias contados no mundo, quem quiser se informar acesse o financial times do ultmo fim de semana...
Só acrediat neste investimentoquem naotiver um minimo conhecimento da real situaçao das montadoras americanas como um todo e da GM em especial..

Anônimo disse...

Maia é uma viuva da ford. Coitado.

Anônimo disse...

Calma, Feil. Lá pelo ano 3100, possivelmente, a GM vai começar a pagar alguns reais de ICMS.
Procure te manter vivo até lá para que possas comprovar.

Anônimo disse...

Vamos fazer a conta:

US$ 1.000.000.000 (um bilhão de dólares)

2.000 vagas

= US$ 500.000 (quinhentos mil dólares) cada emprego.

+/- R$ 1.000.000 cada emprego.

Tá caro estes empregos, né?

Anônimo disse...

Como assim, negocia projeto de US$ 1 bilhão? Quer dizer que eles estão dispostos a repartir os lucros com a gauchada? É isto que a ZH está querendo que entendamos?
Do contrário, acredito que a GM não tem que negociar nada com o governo.
A GM já ganhou 23 anos de isenção de ICMS, empréstimo subsidiado e, mais adiante, ganhou mais um outro presentaço para construir um novo carro. Gentilezas e benesses concedidas pelos governos do Britto e do Rigotto em nome do povo "mais politizado do país", que anda com a boca na orelha por ter, finalmente, uma fábrica de automóveis.
Depois de ganhar tantos presentes dos gaúchos, o mínimo que a GM tem a fazer é negociar salários e condições de trabalho melhores para seus funcionários.

Anônimo disse...

Celetista é empregado privado. Funcionário é servidor público.
Não vamos repetir os erros diários do PIG que chama a todos de "funcionário", tanto faz se é do setor público ou do setor privado. Os analfabetos do PIG ainda não sabem que funcionário é sempre público e somente público.

Anônimo disse...

Fernando, aqui não admitimos intolerância de nenhuma natureza.

CF

Anônimo disse...

No mínimo, nesse contrato, ela quer dar o mesmo favorecimento que daria aos pedágios.
Alguma coisa ela embolsa com isto tudo.

Anônimo disse...

Noiram, ela já disse "por menos de 100 mil eu nem levanto da cadeira".

Anônimo disse...

100 mil só para iniciarem os trabalhos. Essa velha mercenária não se contentaria com 100 mil em um contrato de 1 bilhão de dólares.

Anônimo disse...

Bem, meu caro colega de comentários, Bins. Diante da tua afirmação, resolvi dar uma olhada no significado da palavra, no Google. Abaixo, listo o que encontrei em quatro endereços:
HTTP://WWW.PRIBERAM.PT/DLPO/DLPO.ASPX
o que exerce funções públicas ou particulares; empregado.
HTTP://MICHAELIS.UOL.COM.BR/
1 O que exerce funções de cargo público. 2 Aquele que tem emprego permanente e retribuído. 3 Empregado.
HTTP://WWW.DICIONARIODEPORTUGUES.COM/
s.m. Empregado. / Empregado público titular de um emprego permanente num grau da hierarquia administrativa
HTTP://WWW.DICIONARIODOAURELIO.COM/
s.m. Empregado. / Empregado público titular de um emprego permanente num grau da hierarquia administrativa.
Por estes quatro endereços, funcionário seria a mesma que empregado.

À parte a polêmica, na minha concepção creio que, como funcionário pode ser designada toda pessoa que contribui com seu trabalho para que algo funcione. Neste sentido, então, não importaria se o trabalho é executado em instituição pública ou privada. Penso eu, com o risco de estar equivocado.

Breton disse...

Só não concordo que a indústria automobilistica é obsoleta nos países centrais. O desespero dos americanos com a quebra das suas grandes "montadoras" foi sintomática. A indústria automobilistica, ainda tem, de fato, um grande peso no sustentáculo real da economia capitalista, central ou periférica. Mas que é uma industria "estupida" do ponto de vistal social e ecológico, e é uma estupidez estimulá-la, ah, isso é. E infelizmente não é só a Yeda que faz isso, a 1ª iniciativa da equipe do Lulinha paz e amor foi despejar grana para eles...infelizmente

Remindo disse...

Agora que a Yedinha jea tem sua mansão em POA, tá querendo uma casa na praia.

Anônimo disse...

empregados das empresas privadas não são celetistas nem funcionários, sim colaboradores.
esse pessoal adora inovar!

Anônimo disse...

O Nano Tata não tem quase nada dentro, pesa metade do que um Fiat Uno, não é barato simplesmente porque é feito em um país de castas.
É barato porque foi PROJETADO para a India por indús.
Capiche ??
Nossos carros são feitos por projetistas estrangeiros para serem o entry-level do 1º mundo.
Começa por aí as diferenças.
A contabilidade das montadoras brasileiras é uma caixa preta.
Os impostos se limitam aos impostos de consumo (IPI e ICMS) e a parte do IR é algo envolto em segredos (seria por ser alto ou por ser baixo ?).
Impossível dizer qual o preço fariam se fossem competir com a Tata.

Everton disse...

Saiu isto, hj, na link da Revista amanhã (!?)
Negócios
GM opta pelo Sul para fugir do "sindicalismo predador", diz André Beer Ex-presidente da montadora no Brasil vê, também, razões de mercado para a decisão de produzir em Gravataí
Para quem quiser ler: Procure pelo titulo, porque o link é gigantesco...assim com a injeção de $ público nesta empresa multi.

Everton disse...

Uma citação do gerentão da GM:

"São José dos Campos (SP) tem sido uma dor de cabeça permanente, e desde o meu tempo. Lamentavelmente, não se tem conseguido um bom diálogo com os trabalhadores. É um sindicalismo radical, que não existe, ainda, no Sul. Este sindicalismo predador é o que mais contribuiu para levar a companhia à situação em que ela está nos Estados Unidos", fulmina André Beer.
Resumo:
Os operarios do Sul, são mais docéis e suscetiveis a maior controle social e empresarial

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