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Surf no lixo contemporâneo: a que ponto chegamos! E que mundo deixaremos de herança para Keith Richards?

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Tem vuvuzela demais e pensamento de menos



Carta desde perto

Recebo mensagem da nossa estimada leitora Katarina Peixoto, que escreve estas notas a propósito de um vídeo do jornalista belga Michel Collon, que postamos aqui no blog DG dias atrás:

"Sabe, eu não ia fazer isso, dá muito trabalho e o Michel Collon é muito mais um aliado do que um adversário. O que se passa é que as coisas andam muito vuvuzeladas e pouco pensadas. Que na internet, inclusive no nosso mundo internáutico, as coisas não andam menos intolerantes e menos analíticas do que do lado de lá. Não estou falando do DG exatamente. Sabes que prezo e curto o DG. É desnecessário dizer isso, mas eu digo. Porque eu não tiro onda de democrática. Não considero a democracia uma coisa fácil nem ligeira. E sobretudo não respeito democracias esquemáticas, defendidas a despeito da história.

Há um conjunto importante de despautérios ditos pelo Michel Collon nesse vídeo. Sobressai um dado que me parece mais produtivo de considerar, de início. Esse dado é uma concepção política que reputo estreita e ingênua, e aí vai a expressão de uma diferença política que mantenho, pelas seguintes razões: não reduzo qualquer análise ou perspectiva contemporânea sobre os estados das artes na política a um jogo de poder para fazer negócios, como se meia dúzia de donos do mundo se reunissem para roubar e massacrar quem os atrapalha. Não dá para explicar fenômenos como a guerra e o Estado apenas, eu digo APENAS, com essa perspectiva.

O que me causa um certo horror é que essa não é uma perspectiva desenraizada teoricamente, embora seja arbitrária e extremamente equivocada e frágil. Esse tipo de reducionismo contemporâneo tem nome e sobrenome: chama-se Toni Negri e o Michael Hardt. É a turma que chegou a dizer que o império seria o mercado, e não os EUA. É o pessoal que repudia as relações de poder porque o poder é contaminado, vertical e só serve para os poderosos fazerem negócios.

Esse tipo de bobagem pré-escolar parece, na melhor das hipóteses, ter recortado um ou dois enunciados do Manifesto Comunista. Eu digo parece, porque como sabemos Negri e o rapazote Hardt resolveram se dizer spinozistas, sabe-se lá como, que nenhum spinozista de reputação acadêmica os pode levar a sério. Porque o que eles fazem simplesmente não é sério. Não é Marx, não é Spinoza. É um moralismo odara, uma merda hippie e acanhada, com medo de reivindicar a Política, com ressaca da derrota da guerra fria. Embora duvide que Collon não tenha lido Negri e Hardt, é possível que não seja signatário de todas as teses desses. Mas a coisa assim me soou. Essa tese - um tanto naïf - de que se explica interesses geopolíticos como negócios de balcão. Eu penso que a experiência das relações externas entre países é um pouco mais complicada do que isso.

Essas considerações apenas porque só traduzi a fala do Collon até a sua terceira mentira midiática. Devo também dizer que ele usa algumas expressões interessantes, como “eu acreditava que era assim, todo mundo acreditava que era assim”. As inferências e os conteúdos das crenças supostamente passadas de Collon são crenças de um expectador crédulo de novela das seis. Uma coisa meio constrangedora. Mas vou me referir diretamente no texto falado até onde traduzi, com granus salis, ok?

Diz Collon: “Preparando o livro Israel, parlons en, eu pedi a meus assistentes que perguntassem nas ruas de Bruxelas, aleatoriamente, o que as pessoas sabiam sobre a história e a situação do estado de Israel. A resposta foi catastrófica.”

Comentário meu: alguém já saiu às ruas para perguntar a opinião, aleatoriamente, das pessoas sobre a história e a situação da Turquia? Ou da Itália? A resposta seria ou não catastrófica, seja lá o que isso realmente significa?

Michel Collon: “Há de fato uma ignorância do público e eu penso que essa ignorância não se deve ao acaso, mas já faz 60 anos que a mídia européia, que se diz a melhor do mundo, sustenta essa mentira, e se constata que de fato o público não sabe o essencial. Eu penso que isso se deve a uma operação de propaganda israelita sustentada pela mídia, e eu a resumi no que chamei de dez grandes mentiras midiáticas que justificam Israel.”

Comentário meu: o público não sabe o essencial, a saber, que há dez mentiras midiáticas que justificam Israel. Se Israel se justifica em mentiras, Israel é uma mentira. Esse parece ser o caminho que Collon segue. Eu acho pouco sério usar como critério um microfone randomizado nas ruas, questionando as pessoas sobre temas de geopolítica e história de nações. Esse tipo de coisa, quando é feita, requer método, milhares de entrevistas e critérios de avaliação mais rígidos do que “mentiras midiáticas”. Posso estar enganada, mas ao ler as tais mentiras a coisa só piorou.

Michel Collon: “A primeira grande mentira é aquela que diz que Israel foi criado em reação ao genocídio cometido contra os judeus entre 40-45. Isso é totalmente falso. De fato esse é um projeto colonial, bastante anterior, que é decidido num congresso sionista (...?) em 1897, quando o movimento nacionalista judeu decide colonizar a Palestina.”

Comentário meu: Não nego que muita gente que assiste com entusiasmo à novela das seis acredita que Israel seja uma reação ao genocídio nazi. Mas em escola alguma crianças que cheguem à quinta série teriam essa informação. O projeto de um “lar nacional” não é um projeto colonial, tout court. É engraçado porque ele diz que nesse congresso se decidiu “colonizar a Palestina”. Isso, sim, é totalmente falso. Nesse congresso se decidiu criar um “lar nacional para os judeus”, o que é bem diferente, visto que a decisão de se chegar à Palestina não foi imediata e menos ainda organizada segundo preceitos religiosos, exatamente.

Michel Collon: “Nesse momento o colonialismo não era absolutamente vergonhoso. Eles demandaram às potências coloniais da época, porque eles se deram conta de que precisariam se proteger. Eles pedem ao império turco, que não estava interessado, pedem ao império britânico, que estava muito interessado, porque queriam ter colônicas que estariam instaladas no meio do mundo árabe, entre a parte oeste e a parte leste, eles iriam debilitar a potência que os inquietava e controlariam o canal de Suez que garantiria o acesso às colônias da Índia de onde viriam muitas riquezas.”

Comentário meu: em primeiro lugar, já havia trabalhadores socialistas combatendo o imperialismo e o belicismo na Europa, em 1897. Não é portanto verdade que o colonialismo não era “absolutamente vergonhoso”. Para quem? Segundo quem? Ora bolas, o processo de independentização da América Latina se deu em inícios do século XIX! Gostaria de saber de onde ele tirou que o colonialismo não seria vergonhoso, sem dizer para quem, sem apresentar dados. Mas isso fica um pouco mais claro com a informação seguinte, a de que o império britânico estava muito interessado. Esta sim é uma mentira monumental. O império britânico estava muito interessado era em ter o protetorado da Palestina, porque seria mais uma extensão dos seus poderes imperiais, por razões vinculadas à facilitação do comércio, é verdade, mas para manter um espaço de poder geopoliticamente fundamental. Eles queriam debilitar a potência que os inquietava (o império otomano), certo, mas para tanto um lar nacional judaico ajudaria em quê, se estávamos em 1915, 1917?

Por acaso o império britânico precisaria da criação de um lar nacional judaico para ter uma colônia na Palestina? Dentre os dirigentes políticos da Grã Bretanha, à época, a agenda sionista passava longe de uma posição unânime, tanto que os sionistas foram para a Europa central disputar a idéia entre as comunidades judaicas. A melhor fonte para acompanhar isso, na minha opinião, é Isaiah Berlin, em As Origens do Estado de Israel e a própria declaração, evasiva e nada específica, do Lord Balfour, em 1915. É importante anotar que já a partir de 1870 inúmeros jovens judeus, a imensa maioria socialistas, já estavam migrando para a Palestina, não por razões religiosas, senso estrito, mas para construir uma experiência socialista, conforme eles pensavam. Havia um componente religioso, mas em nada estatal e menos ainda colonial.

Michel Collon: “Em seguida os Estados Unidos tomam importância porque lhes interessa o Petróleo e portanto essa reação colonial de Israel não data absolutamente de 40-45, mas antes se trata de um projeto colonial. É preciso que se lembre que à época as potências européias partilharam a África entre si, como umas fatias de bolo. Houve uma Conferência em Berlim em 1885, (...) onde eles partilham a África sem que africano algum tenha sido convidado, e portanto estávamos realmente numa época colonial. Israel é um projeto colonial,é preciso dizê-lo.”

Comentário meu: o interesse dos EUA no Estado de Israel precede as incursões e a máquina de guerra e de consumo que levou à corrida ao petróleo. Portanto, o petróleo não é o que explica, e menos ainda unicamente, a relação dos EUA com Israel. Em segundo lugar, Israel não é um projeto colonial PELO FATO DE QUE o colonialismo europeu partilhou a África! É preciso dizê-lo? Ok, se é preciso dizê-lo, é preciso dizê-lo com consistência. Eu não vi inferência. O fato de que numa época há um tipo de coisa não explica tudo. Há padres pedófilos há duzentos anos não seria uma hipótese para todos os pedófilos há duzentos anos terem sido padres, certo? Nem para que todos os padres há duzentos anos tenham sido pedófilos.

Michel Collon: “Agora, o segundo grande mito que justifica Israel é: “sim mas de fato os judeus retornam à terra de onde foram expulsos no império romano em 70 d.C. Esse também é um mito total, porque eu entrevistei nesse livro o historiador Schlomo Sand, que falou com arqueólogos e historiadores israelenses e todos dizem “não, não houve êxodo, e portanto não há retorno. O grosso da população ficou lá, eles não se moveram. É claro houve migrações, misturas, mas no grosso eles não moveram a população”, o que tem duas consequências burlescas: a primeira é que, no fundo, os descendentes dos judeus da época de Jesus Cristo são os palestinos que vivem lá; a segunda é que, se jamais houve pessoas que partiram, quem são essas pessoas que nos dizem que retornam? De fato esses são os convertidos, os europeus do leste, do oeste, os magrebinos que se converteram em diferentes momentos e por razões diversas à religião judaica e de fato como diz Schlomo Sand, o povo judeu simplesmente não existe como tal. Não há história comum, não há língua comum, não há uma cultura comum, há só uma religião, que não é um povo. Não há um povo muçulmano, um povo cristão, e portanto não há um povo judeu, tampouco”

Comentário meu: aí a coisa realmente engrossa...

A defesa da tese de “retorno” foi uma defesa pragmática, de uma das correntes do sionismo, que foi defendida por algumas comunidades religiosas não ortodoxas, pelo menos à época. Segundo Berlin, a única comunidade judaica que “inventou” um passado para se agarrar à tese de retorno foi a estadunidense, já nos idos de 1910. Portanto a tese religiosa não é um mito que justifica Israel, exatamente, mas um truque retórico ou uma crença religiosa. Israel não precisaria “se justificar” (seja lá o que isso signifique) nisso. E de fato, o movimento sionista, pelo menos até quase os anos 20, NÃO era um movimento religioso, mas político. A migração estritamente religiosa para a Palestina já ocorria há muito tempo, aliás, religiosos, religiosos socialistas, entre outros (anarquistas, cabalistas, como Gershom Sholem, por exemplo).

Não se desfaz mito com a entrevista a um historiador. E não seria um historiador ou um arqueólogo que desmontaria uma crença religiosa. Esse tipo de confusão é semelhante àquela que diz não haver racismo porque não há raça, geneticamente. Não dá para fazer isso. Mas a coisa realmente engrossa é com a série de mentiras ditas na sequência da fala der Collon.

Eu desconheço as miríades bíblicas e não curto religião, mas não desconheço que a presença judaica na Europa data de mais de mil anos. E que não é razoável nem sério restringir essa presença a uma “conversão religiosa”, quando menos, porque essa presença judaica foi contemporânea da Europa medieval. Disso se segue, se levamos a história a sério, que ser judeu não era, por mil anos, ao menos, ser simplesmente um crente numa religião x. Dizer que não há história comum, que não há cultura comum, que não há língua comum é de uma ignorância tão assombrosa que não posso simplesmente acreditar que ele acredite nisso. Mas diabos, durante 800 anos os judeus da Bielorrússia, que formava uma imensa região, mantinham escolas – para meninos e meninas -, cerimônias, feriados, religiosos e comunitários, e falavam o ídiche! O ídiche, hoje um idioma estudado em universidades, é considerada uma “língua de oprimidos”, um dialeto, que tem mistura de germânico, de russo, de eslavos, mas que tem uma unidade linguística. Até hoje tem uma rádio no Brooklyn, NY, cujos programas são em ídiche. Há uma literatura ídiche, há uma música, poesia ídiche (ver a respeito Benjamin Harshav, o Significado do Ídiche, tem tradução para o português). Meu deus, como é que eu sei isso e esse cara não sabe? É inacreditável. A melhor fonte sobre a presença judaica na Europa Oriental e na Rússia é o insuspeito Michael Löwy, no seu lindíssimo e extraordinário Redenção e Utopia: Judaísmo Libertário na Europa Central (foi editado no Brasil pela Companhia das Letras, mas está esgotado. Só se encontra em sebos).

Reduzir o judaísmo à religiosidade simplesmente é um absurdo. Parte significativa e basicamente a maioria do movimento sionista não era religiosa, mas composta de ateus, socialistas, comunistas. Não só mencheviques, mas bolches eram em boa parte judeus. Era raro que os partidos comunistas e socialistas não fossem cheios de judeus. E não é à toa que os nazistas associavam o judaísmo ao comunismo. Era simplesmente comum que os militantes operários fossem judeus. A tese de Löwy é de que há uma “afinidade eletiva” entre as comunidades judaicas da época e o nascimento do ideário socialista. Há uma identidade teológico-política entre o mito da redenção e a defesa de uma terra prometida, neste mundo, que unificariam comunismo e judaísmo. É portanto um despautério afirmar, com base em “eu entrevistei um historiador”, que não há judeus. Isso simplesmente não é sério. Dizer que os judeus não têm uma história comum me parece tão rigoroso como dizer que os brasileiros não têm uma história comum. Eu realmente não sei o que isso significa. Porque, em termos de narrativas de um passado, os judeus europeus têm uma história comum sob vários aspectos, há mil anos. De resto, confundir povo com religião é meio pré-escolar. É como associar a existência de curdos à religião curda. Chechenos à muçulmanos. Não dá.

Michel Collon: “O terceiro mito: de fato não é grave que eles tenham se instalado na Palestina para colonizar, porque era um deserto sem povo, vazio. Isso também é uma mentira total. Na realidade as testemunhas da época já dizem que a palestina é um oceano de trigo. Há culturas, exportações, fabricação de sabão, de azeite, as famosas laranjas de jafa, e então quando as colônias inglesas e depois os judeus vão se instalar na Palestina em 1920, os camponeses palestinos se recusam a lhes ceder suas terras e então há revoltas, há greves gerais, há manifestações e numerosas mortes; tinha até uma guerrilha palestina, então o lugar era tudo menos um deserto e tudo o que se conseguiu foi por meio da repressão muito muito feroz do ocupante britânico e dos sionistas em seguida. Então se diz, “sim, é verdade, havia palestinos, mas mesmo assim eles partiram”. De fato isso é totalmente falso. Eu acreditei nisso durante um longo tempo, todo mundo acreditou, mas de fato era uma grande versão oficial de Israel, até hoje, quando há novos historiadores israelenses, como Benny Morris, Ilan Pappe que dizem “não”, os “palestinos foram violados, por meio da violência, pelo terror, por toda uma operação sistemática para expulsá-los de fato do país, para esvaziar a terra de seus habitantes. Portanto, isso é também um mito absoluto. Tudo isso concerne à parte da história israelense que nos escondem e que é muito, muito importante de compreender. E em seguida, o que se nos diz atualmente é que Israel é a única democracia no Oriente Médio e portanto é preciso defendê-la, porque é um Estado de Direito. Em primeiro lugar, não é um estado de direito. É o único Estado do Mundo em que a Constituição não fixa os limites de seu território. Em todos os países do mundo há uma constituição estabelecendo que um estado começa aqui e termina ali. Israel não, porque justamente Israel é um projeto de expansão que não tem limite. E além disso, totalmente racista, que diz que Israel é um estado dos judeus, o que quer dizer que os outros são sub-cidadãos, sub-homens e portanto isso é a negação mesma da democracia, uma constituição como essa.”

Comentário meu: de fato, os palestinos foram e seguem sendo massacrados. De fato, a frase da Golda Meir que ficou célebre (“Uma terra sem povo, para um povo sem terra”) é uma infâmia. Ainda assim é preciso dizer que não é verdade que os palestinos desde sempre resistiram. Muitos venderam suas terras em negócios lícitos, sem conflito. Muitos trabalhavam juntos em kibutzim, viviam lado a lado. O conflito começa quando os ingleses, num expediente colonial mais do que batido, tiram o corpo fora e um movimento autoritário sionista começa a se aproveitar da loucura nazi para exterminar os palestinos. Os judeus não chegaram matando. Eles chegaram negociando. Quem chegou matando foram os sionistas da direita, os dissidentes do Haganá, o Irgun (de onde saiu a joça do Likud), que, diante da postura evasiva que visava a deixar ambos, judeus e palestinos, digladiarem-se para dominar, passaram a promover atentados contra os ingleses. O caldo entortou quando os judeus dos EUA, liderados pela criminosa da Golda Meir começaram a chegar e a coisa piorou muito depois da hecatombe do extermínio nazi.

O movimento sionista sofreu um racha interno violento nos idos dos anos 30 e nunca mais se refez. É um horror o expansionismo, é monstruoso, de fato; e a não-delimitação territorial não é o que torna Israel um estado de fato, mas na minha opinião o fato de que não há legislação de direito de família, por exemplo, de não haver respeito à ONU. O tema das fronteiras é especialmente complicado, do ponto de vista da legislação, porque na partilha em 1948 não foi criado ao mesmo tempo um estado palestino e porque seguem se aproveitando disso a direita israelense.

Michel Collon: “Portanto, Israel não é absolutamente uma democracia e eu gostaria de dizer que Israel é o colonialismo, o roubo da terra a limpeza de uma população, isso não pode ser considerado uma democracia. Claro, vão me dizer: “há parlamento, há mídia, há professores na universidade que criticam, isso é verdade, mas como se trata de um estado baseado no roubo da terra, quer dizer é uma democracia entre ladrões, para saber como vão continuar roubando. Isso não é uma democracia, é o colonialismo, é sempre a ditadura”

Comentário meu: reduzir o Estado de Israel a “um estado baseado no roubo da terra, quer dizer, uma democracia entre ladrões” simplesmente não condiz com a história, nem com a realidade, nem com a verdade

Eu concordo com Collon que a saída é a retomada da tese utópica nos anos 60 do século passado, revisitada com critérios laicos e republicanos, um tanto radicais. Israel ser um estado teológico é insuportável. Concordo que a dupla cidadania em Jerusalém é um escândalo. Concordo que o expansionismo é monstruoso. Concordo na defesa de autodeterminação dos povos. Mas não me associo aos expedientes a que ele se associou para defender esses pontos de vista. Eu não acredito que aquilo que eu penso importe ou que eu saiba o que os israelenses e palestinos devem fazer. Eu apenas tenho crenças e procuro bem fundá-las. Aliás, procuro obstinadamente.

É doloroso e odioso ver e assistir aos horrores cometidos contra os palestinos. É odioso ver as expressões de preconceito e acompanhar a guerra ideológica na mídia. Mas isso não pode nos cegar, não deve nos desviar, não merece ser replicado. A mim o Estado de Israel se justifica do mesmo modo que a IMENSA maioria, senão todos os estados do planeta. Estado algum é natural. Estado algum é feito ou foi feito sem sangue e espontaneamente. Estado algum brota da terra. E Estado algum é uma obra de arte. É o que penso."

Katarina Peixoto

20 comentários:

Anônimo disse...

Israel é uma mentira a serviço do sionismo (principalmente) norte-americano. O dia que os EUA cortarem o cordão umbelical, Israel morre como Estado nacional. As práticas fascistas e espansionistas de Israel são anteriores ao Likud. Israel simplesmente é um Estado Terrorista a serviço de um projeto de dominação a la nacional-socialista, signifique isso o que significar.

armando do prado

Ogro disse...

Se não é uma democracia de ladrões e assassinos, basta devolver a terra e indenizar as vítimas e seguir daí por diante com a democracia que for possível.
Ocorre que a parte "demo" da tal democracia não tem validade se fundada em uma população que sofreu limpeza étnica.
Podem jogar todas as bibliotecas, parlamentos, heroísmos, prédios no lixo, sinto muito.
Um vício de origem.
Existe sim a tal afinidade, mas nesse assunto ela se interdita.

Anônimo disse...

Katarina,
após ler todo seu texto, escolhi uma frase como sendo a melhor, é uma síntese para quem não puder ler tudo:
"(...) Eu não acredito que aquilo que eu penso importe ou que eu saiba o que os israelenses e palestinos devem fazer."
Perfeito.
No mais, há controvérsias. Você por acaso foi aluna do grande mestre FHC, é que você escreve igualzinho a ele. Sugiro um texto do Millor sobre o livro do FHC:
http://oleododiabo.blogspot.com/2010/04/fhc-por-millor-fernandes.html
Mar.

Anônimo disse...

Duas coisas: grande parte dos ajuntamentos políticos de esquerda na Europa a partir de 1940 eram repletos de judeus. Repletos. Existe, sim, e poucos sabem disso, por isso reafirmar, uma esquerda judaica, progressista, e que foi abafada pelo que lá está: extrema-direita judaica;
Outra coisa, para entender a direita judaica, basta ler o Jabotinsky. Tá tudo lá.
No mais, cravado no coraçao do bairro do Bom Fim, em Porto Alegre, temos um Clube de Cultura, clube fundado e mantido por judeus de esquerda nao aliados ao Sionismo.
Ano passado foi defendida uma dissertaçao na História da PUC que conta a história deste clube em relaçao as Ikuf`s mundiais. Está disponível on-line.
Abs.

Lúcio Kobo

Anônimo disse...

Parabéns, Katarina. A simplicidade, ou melhor, a simplificação de coisas complexas, não serve a nenhuma causa, nem àquela dos palestinos, nem à de quem se pretende progressista.
José Eduardo

Anônimo disse...

Minha cara, nada que você escreva irá aliviar o drama de consciência de sentido de pertencimento a um grupo étnico que após sofrer a perseguição da intolerância européia culminando com os campos de concentração nazistas, agora repitam, talvez com maior dose de sadismo por torturarem não só fisicamente, mas, principalmente, psicologicamente um povo sem condições materias de se contrapor ao terror de estado praticado pelo estado israelense.
As pessoas em geral, não tem nenhum problema com o povo judeu, mas o estado israelense precisa ser derrotado com todas as forças que se julgem humanista neste mundo!
Junte-se aos que lutam contra as atrocidades israelitas, que matam milhares de pessoas, ao invés de desperdicar suas energias em tentativas vã de tentar transformar o estado israelita em algo que, definitavemente, não é!!!

jogos da memoria disse...

Prezada katarina,

É realmente uma grande pena, porque você estava indo tão bem, com seu ar de super schollar, tergiversando sobre os pontos baixos do vídeo, quando de repente se sai com essa: "A mim o Estado de Israel se justifica do mesmo modo que a IMENSA maioria, senão todos os estados do planeta. Estado algum é natural. Estado algum é feito ou foi feito sem sangue e espontaneamente. Estado algum brota da terra. E Estado algum é uma obra de arte. É o que penso."
Isso acaba com todo o elenco de idéias brilhantes em que você vinha tão bem. Quer dizer, que daqui há 50 anos, quando não existir mais faixa de gaza, nem palestinos, deixa assim, já que Israel se justifica do mesmo modo que "a IMENSA maioria, senão todos os estados do planeta" não é mesmo? tsk, tsk, tsk....Vinha tão bem nossa doutoranda. Parabéns a
quem publicou o vídeo, pois o que interessa é o atacado, não o varejo. As mentiras ainda irão persistir por muito tempo.

Katarina Peixoto disse...

De fato, o que eu digo é nada. Já o que Michel Collon diz é algo importante. Mesmo que ele diga mentiras. Mesmo que espalhe absurdos. É isso. Eu aluna de FHC. É isso aí, Cristóvão. Tô fora das arquibancadas. OBS: Que me conste os judeus do Clube de Cultura não eram anti-sionistas, mas de esquerda. Nem todo sionismo é de direita, repito. Embora inutilmente.

Katarina Peixoto disse...

Oi Jogos de Memória. A inferência que você faz, de que "está tudo bem" pelo fato de que estados não sejam obra da natureza nem de arte, segundo eu disse, não é correta. Eu não disse nem jamais direi que está tudo bem, exatamente porque Estado e bem combinam mais acidentalmente do que necessariamente. Mas não vou mais encher o saco. O que interessa é a verdade, o conhecimento da história e o compromisso com o sentido das coisas. Entre o atacado e o varejo eu fico com o que não se negocia.

Gilberto Jordan disse...

Escreveu Katarina Peixoto: "A mim o Estado de Israel se justifica do mesmo modo que a IMENSA maioria, senão todos os estados do planeta. Estado algum é natural. Estado algum é feito ou foi feito sem sangue e espontaneamente. Estado algum brota da terra. E Estado algum é uma obra de arte. É o que eu penso".
A autora podia ter dispensado toda a arenga anterior e ficado com esta última parte do texto.No mínimo nos pouparia o tempo perdido por tê-lo lido.Estado natural? O Estado é feito? Alguém pode imaginar um Estado com toda a sua complexidade brotando da terra? Sem nenhuma historicidade? Alguém já pensou no Estado como uma obra de arte? Tudo isso para justificar, sim justificar, os crimes do Estado de Israel e dos psicopatas que o dirigem.Se todos os Estados cometeram, ao longo de sua história, e continuam cometendo os piores crimes, violências e crueldades,por que deveríamos condenar Israel por seus crimes? É isso o que a autora quer dizer? Confesso que não tinha visto ainda uma defesa tão insólita do Estado de Israel.

Anônimo disse...

Katarina,

Me desculpe, mas neste ponto da história, não existe maior absurdo que o holocausto palestino.

Eu sou do tempo em que o sionismo era crime,a ssim como, o seu irmão não judeu o nazismo o é agora.

O sionismo se consegues dividir em esquerda e direita, com certeza não será (e se algum podessemos assistir(porque representam o império) em tribunal que julgue os crimes do simples roubo ou saque, ao holocausto perpretado contra o povo palestino.

Claudio Dode

Gilberto Jordan disse...

Para finalizar meu comentário anterior sobre o texto da Katarina Peixoto e principalmente a sua parte final, poderíamos dizer, parsafraseando a justificativa que a autora faz do Estado de Israel, que os argumentos ali contidos poderiam também ser utilizados para justificar todas as atrocidades praticadas pelo Estado nazista.Inclusive aquelas em que os judeus foram as vítimas. O que tenho absoluta certeza a autora não concordaria.

Katarina Peixoto disse...

Em quê o que eu disse justificaria o nazismo e em quê justificaria o Estado de Israel? Em quê???!! Nada do que eu diga ou deixe de dizer justifica o estado de Israel. Mas Gilberto Jordan então poderia me explicar o que querem dizer aqueles que acusam Israel de ser um "estado artificial". Bom, pode ter sido a minha índole facínora que tenha me feito escrever que estados não são naturais. Mas eu não inventei esse antônimo, em todo caso. Quanto à obra de arte, bem, essa é outra referência textual, mas isso virou defeito. Virtude é vuvuzela. Póóóóó

Roberto disse...

Eu leio e releio e não vejo onde a Katarina "justificou" o estado de Israel (o que quer que isso signifique) e muito menos a opressão dos palestinos, que o pessoal da leitura dinâmica quer inferir a partir do que ela disse. Katarina, como anda o teu lindo blog, "Palestina do espetáculo triunfante"? Faz tempo que não visito...

Em tempo: não concordo com tudo o que o texto dela diz, mas que ela não diz essas coisas, ah, isso não diz! Ela faz uma discussão de alto nível, como cabe quando o assunto é importante.

Maurício Santos disse...

Caríssima Katarina, belíssimo texto, pura claridade; pesquisa histórica e coisa e tal. Realmente adorei. E a parte final que gerou tanta polêmica (!?) fechou de forma esplêndida a tua argumentação e acho até que propõe um solo mais rico e fértil ou um patamar mais interessante para a discussão sobre os absurdos do Estado de Israel e a necessária libertação da Palestina (com o que todos concordam aqui, apesar dos pesares e das nervuras). É claro que me conheces e sabes o valor que tem e continuará tendo pra mim o trabalho de Hardt e Negri; mas tua antiga e intensa alergia a eles, pra mim, não atrapalhou a leitura deste texto, até porque, alergia não é contagiosa e tenho também as minhas :). Prefiro te agradecer pelo ótimo texto porque é o caminho das noções comuns ;). Valeu! (poderia estar lá na Palestina do Esp. Triunfante...)

Gilberto Jordan disse...

Volto, não para comentar o texto da Katarina Peixoto, que infelizmente não conheço, mas para felicitar a iniciativa do Diário Gauche em propor temas atuais e explosivos, como esse sobre Israel, para estimular o debate. Para ti, Katarina, peço escusa por ter sido um pouco impertinente. A paixão que aflora num debate como esse, onde temos algumas posições já definidas, qualquer idéia menos clara pode induzir, neste caso eu, a ver chifre em cabeça de cavalo. Um debate como esse que estamos realizando sempre é muito limitado. Espero poder dialogar contigo em outra ocasião onde, o que afirmamos aqui, poderá ser melhor esclarecido.

Anônimo disse...

De fato, Katarina, eles nao eram anti-sionistas. Escrevi que nao eram aliados do sionismo. E por isso tentaram construir uma alternativa, cultural, ao pensamento dominante dos direitosos. E é pra isso que surgiram os IKUF's no mundo inteiro.
A dissertaçao está lá. E é bem boa.
Abs.

Kobo

Sueli disse...

Que texto longo e enrolado,pois sou leiga,e gostaria de entender melhor.Mas não consigo entender,"eu não falar seu língua", e assim,como vou pensar?!?
Deve ser só para alunos de pós...
PÓÓÓS ...

Último abraço no blog... vou deletar,pois é muita informação pra minha área cortical ainda em desenvolvimento. Não acesso mais.

Márcio disse...

Ae, galera. Vocês tão viajando sobre as posições de Katarina. Nada poderia ser mais grosseiro do que identificá-la como defensora das atrocidades israeli - mesmo porque (e principalmente porque) isso não se deduz em absoluto da argumentação dela. Acessem o perfil que ela usa para assinar os comentários aqui e vejam o título do (excelente e saudoso) blog que ela mantinha. Quem acompanha Katarina pela internet sabe da impossibilidade de associá-la ao terrorismo isrealense.

Stringhini disse...

o debate é muito bom, façam críticas mas não tentem eliminar quem propõem o debate. caso contrário estarão copiando o comportamento do PIG pró-Israel e seu pensamento único.

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