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Surf no lixo contemporâneo: a que ponto chegamos! E que mundo deixaremos de herança para Keith Richards?

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Como estudar e trabalhar com um serviço de internet tão ruim?


Internet de tartarugas

Devagar quase parando. É com essa banda larga que, lamentavelmente, temos de conviver no Brasil.

Situação que torna irônicas as informações de que os internautas brasileiros estão entre os campeões de utilização da internet. Talvez fiquem tanto tempo conectados devido à lentidão do acesso.

O serviço é muito, muito ruim, um acinte, um desrespeito a todos nós, que já não sabemos como viver sem computador, exceto, talvez, o colunista Ruy Castro, pelo que expõe em seus brilhantes artigos nesta Folha, sobre sua independência do telefone celular e do e-mail.

Como estudar, trabalhar e ter várias opções de lazer com um serviço de banda larga tão ruim?

É preocupante, porque a parte digital da vida é cada vez mais importante, especialmente nos mundos empresarial, científico e educacional. Corremos o risco de marcar passo, enquanto contarmos com poucas (e ruins) opções de acesso. Parte da produtividade e do avanço econômico, hoje, corre pelas conexões da web. Ou caminha lentamente, em nossa realidade brasileira.

O governo federal mirou parte do problema - o custo proibitivo para os de menor poder aquisitivo, que são a maioria dos brasileiros. Mas o PNBL (Plano Nacional de Banda Larga), para ter sucesso, terá de oferecer, além de preço justo, velocidade de acesso. Caso contrário, no segmento da classe média, continuaremos nas mãos das mesmas operadoras.

Gostaria de não ter de retomar esse assunto. Mas a impressão que tenho é que não se resolverá tão cedo.

Há horários em que já antevemos sites que não abrirão, porque a banda vai se estreitando até parar.

Vislumbramos que os e-mails ficarão perdidos no espaço, sem o bom humor do velho seriado.

Se o serviço é caro, por que é tão ruim? Normalmente, pagar mais significa, pelo menos, ter bom serviço.

Em geral, quando algum consumidor nos consulta sobre a precariedade de um serviço, sugerimos que o troque. Que opte pelos concorrentes.

No caso do acesso à internet, é complicado sugerir isso. Há um oligopólio mal disfarçado, e o padrão de qualidade é bem semelhante em suas falhas e inconsistência.

Poderíamos ter virado essa página, após o caso do Speedy. Que foi forçado a interromper as vendas do serviço por algum tempo. Após esse período, contudo, ele voltou e a situação no mercado continuou bem semelhante à anterior. Em maior ou menor grau, isso poderia valer também para as outras operadoras.

A banda lenta irrita, atrapalha o ritmo do trabalho e, apesar disso, a fatura do serviço é bem salgada. A Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), esvaziada no atual governo, olha para o lado enquanto sofremos nas mãos das operadoras.

Vai melhorar com o retorno da Telebrás? Depende de como voltar.

Se oferecer bom serviço com alta velocidade de acesso, sacudirá o mercado, não tenho dúvida. Não pode ficar, porém, somente com os internautas que não interessam às companhias privadas. Tem que disputar todo o mercado, inclusive o mais lucrativo.

Quase sempre discordo do Estado empresário. Custa demais e sofre injunções políticas. Vira cabide de empregos. Mas o abuso e o desrespeito na prestação de serviços de acesso à internet são tão descarados, tão evidentes, que a estatização, indiretamente, foi estimulada pelas empresas privadas desse segmento.

O PNBL, portanto, não pode ser somente bravata eleitoral ou apetite estatal pela economia. Já estamos cansados de ser explorados. A expectativa é mudar o cenário desse mercado, para melhor, evidentemente.

Parece que as operadoras não entendem muito bem o que seja atender bem o cliente. Nem do que trata o Código de Defesa do Consumidor, o que é um desplante. Desconhecer a legislação, porém, não é desculpa para não respeitá-la. Tudo isso já passou dos limites. Esperamos que o PNBL mude esse quadro logo.

Artigo da advogada Maria Inês Dolci, publicado hoje na Folha.

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