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Surf no lixo contemporâneo: a que ponto chegamos! E que mundo deixaremos de herança para Keith Richards?

terça-feira, 29 de junho de 2010

Mudam-se os tempos na América Latina

O oligarca Martínez de Hoz na mira da Justiça argentina

O bom jornal argentino Página 12 trouxe na edição de ontem uma matéria interessante, entre tantas outras, como todos os dias. A que me refiro e quero comentar é sobre os métodos da última ditadura argentina (1976/83), mais especificamente sobre a grave denúncia de um banqueiro contra o ex-todopoderoso Martínez de Hoz.

O banqueiro Eduardo Saiegh, ex-diretor executivo do Banco Latinoamericano, foi sequestrado no dia 31 de outubro de 1980, em plena ditadura. Sob tortura, foi obrigado a desfazer-se de suas ações na instituição bancária que dirigia. Agora acusa - é esse o objeto da notícia do P12 - o ex-ministro da Economia da ditadura de ser o que chama de "autor de escritório" de seu sequestro e da sua expropriação sob tortura.

Esse fato seria inimaginável no Brasil, por dois motivos: primeiro, não houve similaridade a isso por aqui; segundo, se tivesse ocorrido algo parecido (torturar para roubar), ninguém, nem mesmo um banqueiro, estaria denunciando de forma tão desabrida e corajosa um ex-todopoderoso da ditadura brasileira.

O episódio noticiado ratifica e enfatiza uma rotina metodológico, digamos assim, na ditadura vizinha. Os militares e civis que ocuparam à força o poder usaram essa condição para enriquecer ou enriquecer mais, como é o caso pessoal de Don José Alfredo Martínez de Hoz (foto), ministro da Economia entre 1976 e 1981 e factótum civil da repressão argentina no período. A família Martínez de Hoz chegou à Argentina no final do século 17 e enriqueceu muito com o comércio e o contrabando de mercadorias. Esses celerados tem uma crônica social e econômica semelhante à família Anchorena, cuja história comercial e política foi contada magistralmente pelo sociólogo Juan José Sebreli (leitura que recomendo). Sempre foram predadores oportunistas, associados a quem lhes pudesse agregar mais vantagens pecuniárias e políticas. Foi um Martínez de Hoz o criador da famigerada Sociedade Rural Argentina, nos meados do século 19, e que até hoje - e sempre - tem um papel dos mais retrógrados e brutais nas relações de poder do país de Dieguito Maradona.

O fato de um Martínez de Hoz estar na mira da Justiça é motivo de regozijo geral nas Américas. Desmascara um tipo ideal da velha classe oligárquica que tanta opressão promoveu em nossos países, todos.

Fiquemos atentos à marcha dos acontecimentos na Argentina. O próximo totem oligárquico que pode cair na Argentina é o jornal Clarín, que está por um fio.

A conspiração dos anjos cósmicos - desta vez - parece estar a favor da história e não a seu contrapelo.

A ver.

Um comentário:

Malu disse...

Sonho com o dia de ver algo igual sobre aquele lixo da av Ipiranga que se intitula de jornal!

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