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sábado, 12 de junho de 2010

Roudinesco retorna à questão judaica


Depois de Marx e Freud

Eu gosto muito da Elisabeth Roudinesco. Autora de vários livros em defesa da psicanálise, sobre Freud, sobre Lacan e sobre intelectuais outros, sejam marxistas, sejam freudianos, sem prejuízo dos que militam nas duas grandes fontes da interpretação humana, existencial e material dos últimos duzentos anos - os mais acelerados da história do mundo.

Ela está lançando no Brasil, muito a propósito, um novo livro que discute a questão da judeidade (segundo ela, o judaísmo materialista).

Vale a pena ler a entrevista de Roudinesco concedida ao caderno "Cultura", em Zero Hora de hoje. Acesse aqui.

Penso só que ela deveria expor melhor sobre a questão palestina e sobre o sionismo, que surge originalmente como um movimento proto-socialista mas no decorrer do tempo vai sendo capturado pela extrema direita nacionalista de Israel e hoje é um instrumento político dos miliardários para financiar Israel e excluir o povo palestino da Palestina. Não li a recente obra dela - Retorno à Questão Judaica - mas suponho que ali sejam tratados esses temas candentes da atualidade, que a entrevista omite, talvez por falta de indagação dos que a entrevistaram.

O retorno à questão judaica remete a uma das obras de Marx, exatamente, "A Questão Judaica" (1843), onde ele discute com Bruno Bauer sobre os limites da crítica à emancipação política face ao Estado burguês. É óbvio que a questão palestino-israelense ainda nem existia em 1843, e o texto aprofunda um pouco sobre uma categoria pouco tratada por Marx que é a questão do Estado mesmo.

Quanto à Freud, este tratou do judaísmo - ele que era judeu materialista - em "Moisés e o Monoteísmo", pequena obra em tamanho, que busca as raízes egípcias do judaísmo como religião e como principal elemento de identidade do povo hebreu. "Moisés..." junto com "O futuro de uma ilusão" formam as bases para Freud escrever em 1929/30 "O mal-estar na civilização" - obra fundamental para entender o pensamento freudiano que procura interpretar o papel da repressão na montagem civilizacional a que estamos submetidos, nós que trocamos natureza por cultura e pagamos um alto preço por essa opção neurótica.

Espero poder ler em breve o livro de Roudinesco, sempre uma leitura agradável, reveladora e inspiradora.

5 comentários:

Anônimo disse...

"Penso só que ela deveria expor melhor sobre a questão palestina e sobre o sionismo, que surge originalmente como um movimento proto-socialista mas no decorrer do tempo vai sendo capturado pela extrema direita nacionalista de Israel e hoje é um instrumento político dos miliardários para financiar Israel e excluir o povo palestino da Palestina"

Mentira da grossa. Historicamente falso e mentiroso. A " esquerda " israelense sempre compactuou e participou da limpeza etnica, com os crimes contra a humanidade, com assassinato de criancas e mulheres acobertando Der Yassim, com as leis segregacionistas, etc. Isso para ficar nas decadas de 50 e 60. Alem do poder estar nas maos dos trabalhistas de " esquerda ".
A ler esta introducao, racistas e criminosos sao apeanas os " sionistas de direita ".
Aqueles socialistas que nao compactuaram nunca foram sionistas e, grande parte deles, saiu de Israel.

Nilton disse...

Concordo com o comentário anterior; desde o início do conflito, os sucessivos governos trabalhistas trataram os palestinos da mesma forma que a direita israelense hoje trata (em grande parte, com o apoio da esquerda). Sugiro que todos leiam Ilan Pappé, "The Ethnic Cleaning of Palestine", que já deveria ter sido traduzido para o português.
Nilton

Cristóvão Feil disse...

Nilton, quem disse que os trabalhistas de Shimon Perez são de esquerda?

Onde está escrito isso no post?

Essas interpretações ligeiras (como a do anônimo acima) são lamentáveis.

O ato de escrever, o ato de se expressar pela escrita, deve ser mais pensado, mais a frio, e menos apaixonado. O sujeito não pode afirmar algo que o post não diz. Vcs. estão procurando ninho de cavalo.

Lamentável, repito.

CF

Cristóvão Feil disse...

Que adianta ler a obra de Ilan Pappé, se o cara não sabe ler e interpretar um mero post de poucas linhas?

Nilton disse...

Cristovão,

Observa que o comentarista anterior, com o qual concordei, referiu-se à "esquerda israelense" e não a qualquer esquerda (tu sabes muito bem que existem muitas esquerdas; a tua e a do presidente Lula, por exemplo). Quanto ao teu comentário a respeito da leitura de Pappé, me pareceu bastante deselegante e desnecessário, uma vez que minha intenção foi apenas enfatizar o fato de que os sucessivos governos israelenses, independentemente da orientação política auto-proclamada, trataram o problema palestino de forma muito semelhante (a esse respeito a obra do autor citado é abundante em evidências). Também não creio que se possa atribuir a intransigência de Israel em relação aos palestinos somente à “captura do sionismo pela extrema direita israelense”; a realidade é muito mais complexa.
Dessa forma tu vais acabar com meia dúzia de leitores (todos pertencentes à “verdadadeira esquerda”, naturalmente), com o incansável Maia fazendo o contraponto.
Saudações democráticas.
Nilton

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