A comédia de erros da venda do Morro Santa Teresa
Deu no portal ClicRBS ontem (às 20h08, conforme fac-símile acima):
Governo do RS reconhece que não era preciso vender terreno para descentralizar a Fase
Secretário garantiu que o próximo orçamento terá R$ 90 milhões para as novas unidades
O governo do Estado reconheceu que não era preciso vender o terreno da Avenida Padre Cacique, em Porto Alegre, para descentralizar a Fundação de Atendimento Sócio-Educativo (Fase). A proposta foi retirada oficialmente da pauta da Assembleia Legislativa nesta quarta-feira.
O Palácio Piratini reconheceu que a descentralização pode ser feita com recursos próprios. O secretário do Planejamento, José Alfredo Parode, afirmou que não há razão para vender o terreno de 72 hectares.
Parode evitou falar em erro político, mas reconheceu que o projeto provocou um grande desgaste ao governo. Ele garantiu que o próximo orçamento terá R$ 90 milhões para as novas unidades da Fase:
— Felizmente, o Estado tem recursos do Tesouro para fazer os investimentos necessários. Não teria sentido a venda de patrimônio.
A Oposição comemorou a retirada do projeto. A bancada do PT vai apresentar um projeto com diretrizes pedagógicas que deverão ser obedecidas durante a discussão. A Secretaria da Justiça já trabalha um novo texto, que será apresentado nos próximos dias.
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O episódio da tentativa de venda da área pública do morro Santa Teresa foi uma prolongada comédia de erros.
Especuladores - tão vagabundos como seus capitais - queriam ganhar dinheiro fácil e abundante.
O governo Yeda, de afogadilho, supos que obteria êxito em passar nos cobres a cobiçada área pública do estado. O álibi era "resolver em definitivo" (dizia a retórica do Piratini/mídia amiga) o problema dos menores infratores da Fase, "a descentralização é a solução" com rima pobre e tudo. Mas o projeto que bateu na Assembléia no finalzinho do ano passado era de uma indigência comovente: tinha somente quatro artigos, o primeiro artigo descrevia o terreno, conforme consta nas escrituras de cartório, o segundo artigo, autorizava o Poder Executivo a efetivar a venda ou permuta da área pública, o terceiro e o quarto artigos mencionam o de praxe, as despesas desta lei correm..., etc e revogam-se as disposições em contrário. A peça de "Justificação", que sempre acompanha qualquer Projeto de Lei conseguia ser mais pobrinha, ainda.
O projeto tinha, portanto, as piores intenções. Limitava-se a uma singela autorização para vender o terreno. Onde estava o projeto de descentralização da Fase, o álibi para as más intenções? Onde estava o projeto sócio-educativo-pedagógico que pudesse amparar a chamada e decantada "reformulação da Fase"?
O projeto era deserto do seu próprio álibi. O argumento sócio-educativo era sumidiço. Povoado estava, sim, de intenções comerciais, puramente pecuniárias, congestionada de suspeitas, das mais evidentes às menos improváveis.
Tudo se passa como se nós não estivéssemos respirando uma atmosfera impregnada pesadamente pela especulação imobiliária no País. Os motivos são sabidos, pelo menos os dois principais: a alavancagem imobiliária do programa federal "Minha Casa, Minha Vida" e o calafrio dinheirista causado pelas gordas perspectivas da Copa 2014.
Sem esquecer - por óbvio - que o Morro Santa Teresa é uma espécie de ilha grega (a Santorini guasca) na escala de valorização imobiliária de Porto Alegre, uma elevação paradisíaca emoldurada pelo Guaíba e com todo o equipamento urbano à disposição de pés e mãos com alta capacidade de acumulação e consumo.
E a mídia amiga, como fica? A abelhinha-operária da família Sirotsky chegou a escrever um verdadeiro editorial acerca da inevitabilidade - ou fatalidade cósmica, mesmo - da venda do terreno público.
Agora, o governo Yeda volta atrás, como se nada houvesse. O bissexto secretário da Justiça e do Desenvolvimento Social, Fernando Schüler, deu uma entrevista lamuriosa hoje a Zero Hora. Ele diz que "infelizmente, mais uma vez, as disputas ideológicas, a guerra dos partidos e o clima eleitoral fizeram o Rio Grande do Sul perder uma grande oportunidade. Nessa disputa fratricida no Estado, quem perde são os mais pobres".
O último refúgio dos canalhas - como afirmava Samuel Johnson (1709-1784) - não é mais o patriotismo. Isso era coisa do século 18. Hoje, os velhacos se protegem intercedendo - sob a náusea dos que os observam - pelas carências dos miseráveis. Sempre numa interpretação ajustada aos seus interesses mais particulares e inconfessados.
De qualquer forma, a governadora Yeda deixou uma legião de pagãos neste episódio tragicômico. Prometeu-lhes o paraíso de Santorini-sur-Guaíba e remeteu-os - ao fim e ao cabo - ao vestíbulo do inferno dos sem-terra. Os especuladores ficaram sem terra, em Porto Alegre. O espumante virou vinagre em vários escritórios de incorporadores da Capital.
Isto posto, temo que a candidata Yeda tenha dificuldades para fazer frente as suas despesas de campanha eleitoral.
Coisas da vida.
Fac-símile acima do ClicRBS. O jornal Zero Hora editou a notícia de forma mais branda, de maneira a não admitir e acusar o golpe sofrido, já que foi um entusiasta de primeira hora do "projeto" yedista. Ninguém desconhece que o grupo RBS, proprietários de ZH, detém o controle de uma incorporadora imobiliária denominada Maiojama.
Foto no miolo do texto: Ilha de Santorini, na Grécia, em pleno mar Mediterrâneo.
6 comentários:
Yeda pensou que isso aqui é uma republiqueta bananeira da década de 30?
ESSE SECRETARIOZINHO por acaso é aquele profissional do CC o cara mais ávido por cc que tem no RS? tipo assim..muda de lado mas não larga uma boquinha? que triste isso por meia dúzia de tostões..cruzes
Não se distraiam. Dona Y quer concorrer e espera ganhar para barganhar novamente. Ela não desistiu do projeto. Apenas adiou.
Esse Fernando Schuller deveria ser investigado pelas relações c/ a RB$; além de tudo, é um vira-casaca, mauricinho metido a intelectual.
Penso que no delírio constante em que aprece viver a Sra Yeda, o fato de suspender a venda agora é só recuo estratégico, pq ela tem como certo o segundo mandato...
Não podemos nos menosprezar. Todos lutadores sinceros, não politiqueiros, sabem que a mobilização dos moradores do morro, servidores da FASE e ambientalistas fizeram mobilização, agitação e propaganda como nos velhos e bons tempos. Junta-se a isso o fato qua Dona Yeda deve ter recebido avisos dos tubarões interessados na área de que não iriam comprá-pla sem expulsar os lá residentes. Aí a porca torceu o rabo, pois que, a emenda ao Projeto garantindo a presença lá das famílias contaminou o projeto.Isto é.Como misturar a pobreza dos vileiros e suas humildes habitações com os novos ricos candidatos a comprar unidades habitacionais no melhor pôr do sol de POA.
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