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terça-feira, 1 de junho de 2010

Odebrecht cria joint venture com gigante europeu no campo da indústria de guerra


O que está por trás desta notícia

A organização Odebrecht e o conglomerado europeu EADS DS - Defence & Security, anunciaram ontem (31), em Munique, na Alemanha, a criação de uma joint venture destinada a operar junto às Forças Armadas, organizações governamentais e indústrias nacionais, além de mercado exportador. A nova empresa será instalada em São Paulo.

É um acordo de gigantes - a Odebrecht é um dos três maiores grupos empresariais do País e a EADS é a segunda maior corporação do mundo no campo de Defesa, produtos e serviços militares [eufemismo para indústria de guerra]. De acordo com o superintendente da Odebrecht Industrial, Roberto Simões, "a EADS DS é um parceiro com amplo interesse em transferência de tecnologia avançada".

Simões destacou as capacidades da Odebrecht em projeção geopolítica, marketing internacional e ações comerciais de grande porte."É também uma plataforma de exportações de olho no futuro", disse, lembrando que a EADS pretende ter uma forte atuação - inclusive de produção - fora da Europa até 2020.

O valor do investimento inicial da joint venture será definido até o dia 15 de julho, da mesma forma que a nova marca.

O presidente da EADS DS, Stefan Zoller, disse que o negócio "é a comprovação de nosso compromisso com o Brasil no sentido de criar uma base industrial local por meio de uma cooperação de longo prazo que inclui a transferência de tecnologias".

Os dois parceiros mantém importantes contratos no Brasil no campo da Defesa. A EADS vai fornecer 51 helicópteros pesados para a Marinha, o Exército e a Aeronáutica. Todos serão produzidos na fábrica da Helibrás, em Itajubá (MG). O contrato é da ordem de R$ 1,8 bilhão. A Odebrecht é a parceira dos armadores franceses DCNS no programa Pro Sub, do qual resultarão um estaleiro, uma base naval, quatro submarinos Scorpéne, de propulsão diesel-elétrica e um submarino nuclear - um pacote de cerca de 6,7 bilhões de euros. A informação é do Estadão, de ontem.

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Por que replicar essa notícia aqui no blog? - perguntará o curioso fundamental.

Ora, essa notícia é muito importante, além de ser uma das raras informações que circulam na grande imprensa - Estadão - sobre assuntos de defesa, tecnologia militar, indústria bélica, o interesse econômico por trás das guerras, etc. O setor, sabidamente, é fechado e quase não está interessado em divulgar suas estratégias comerciais e tecnológicas no polpudo mercado de guerra do mundo globalitário.

Mas o motivo principal de repassar a notícia é o seguinte: mostrar que há no Brasil uma diferença marcante entre os objetivos estratégicos dos militares brasileiros e os horizontes estreitos - em termos de business - dos militares uruguaios e argentinos, por exemplo, só para citar dois vizinhos onde os gorilas tiveram hegemonia política e cometeram crimes em série, quando no poder.

Então, cabe a pergunta: por que não houve o julgamento dos militares no Brasil, a exemplo do que ocorreu e ocorre no Uruguai, na Argentina, e no Chile?

Eu tenho uma linha de argumentação para essa resposta, posso estar errado. Vejamos: os militares brasileiros souberam montar uma estratégia de sobrevivência econômica para depois do período ditatorial. Os demais militares dos países do Cone Sul, igualmente protagonistas de ditaduras fechadas, repressivas e que pisotearam nos direitos humanos, nunca tiveram projetos econômicos sólidos, muitos se contentaram em expropriar individualmente suas vítimas durante a tortura, fazendo-os repassar em cartório, propriedades, bens e direitos, inclusive, sobre filhos menores. Já os militares brasileiros tiveram uma visão mais macro da realidade que os esperava depois da redemocratização formal do país. Mesmo durante a ditadura, eles trataram de ocupar cargos executivos estratégicos nas grandes corporações estatais e não-estatais, haja vista, que muitos empresários privados os convidavam para ocupar funções administrativas em suas empresas, nem que fosse de modo decorativo, a fim de facilitar e azeitar a vida civil de seu negócio em licitações públicas e oportunidades que só o Estado poderia oferecer. De qualquer forma, os militares brasucas aos poucos forjaram o que se chama um sólido interesse econômico na formação social brasileira, para além do papel legal que a Constituição nacional lhes reserva.

Assim, portadores de personalidade econômica no cenário complexo do capitalismo do Brasil, os militares crioulos lograram alcançar uma blindagem simbólica em torno da corporação que representam, porque membros militantes - players mesmo - na teia de interesses sociais e econômicos das chamadas classes empresariais tapuias.

A projeção do grupo Odebrecht como player internacional no mercado de guerra não é fenômeno isolado e destituído de base social e política na história do País nos últimos 40 anos.

Nada acontece do nada, e, claro, não é o Estadão que vai contar essa história como ela é e foi.

2 comentários:

Andre Passos disse...

Belo raciocínio Cristóvão. Dá uma tese de doutorado.

Abraço

André

Vinicius disse...

Cristóvão, só uma observação: Na Zero Hora de hoje, na internet, caderno de economia, primeiro texto: Feira na "Serra" expõe bom momento para calçados.
Porque esse "Serra" com inicial maiúscula? Que tal?

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