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quarta-feira, 23 de junho de 2010

Estudo do Ministério do Planejamento aponta o calote e a sonegação do agronegócio



O importante documento, entretanto, foi retirado da internet porque incomodou os interesses da agricultura de exportação

O modelo de política agrícola adotado pelo Brasil gera concentração de renda, terra e riquezas em vez de estimular investimentos em infraestrutura, pesquisa e sistema de escoamentos das safras, aponta uma dura avaliação do Portal do Planejamento, retirado da internet após o jornal Valor divulgar as fortes críticas sobre programas do próprio governo.

A análise da seção "reflexões críticas" sobre o desenho da política agrícola afirma que esse conjunto de ações também estimulam o fluxo migratório e ajudam a "favelizar" os centros urbanos do país. A política oficial do governo estimula, ainda, o comprometimento de vastas áreas do país, "em função da degradação ambiental", gerada pela expansão "desordenada" da fronteira agrícola no país, "muitas vezes estimulada pelo próprio governo", segundo o documento oficial do Ministério do Planejamento.

A avaliação da Secretaria de Planejamento e Investimentos Estratégicos (SPI) sobre o programa aponta que o modelo tem gerado forte concentração de endividamento desde o congelamento de preços e as importações maciças impostas pelo Plano Cruzado, em 1986.

Os dados recolhidos pelos gestores do Portal do Planejamento apontam que, ainda em 1999, apenas 0,31% dos mutuários do crédito rural respondiam por 37% do total da dívida agrícola. Pior: não há informações detalhadas sobre o endividamento.

Mesmo assim, os gestores relatam despesas de R$ 22,6 bilhões da União com as renegociações das dívidas entre 1995 e 2008 gerados pela prorrogação de prazos de pagamento e das mudanças nos encargos dos empréstimos. "Associam-se a isso a cultura bastante arraigada em determinada parcela desse setor de não-quitação de compromissos financeiros gerada pelo perdão de dívidas ocorrido no passado, a sonegação de impostos e o forte lobby exercido pelos representantes do setor", critica o texto do Ministério do Planejamento [do governo Lula].

A avaliação crítica aponta, ainda, as precárias condições de trabalho e da educação ainda existentes no meio rural. "São muito elevados os índices de informalidade no setor e de insuficiência de assistência e extensão rural aos produtores.Agrava esse quadro a crescente mecanização do setor, sem o acompanhamento de iniciativas que levem capacitação aos produtores", afirma o documento oficial do governo.

Em relação às ações de assistência técnica e extensão rural, as "deficiências" apontadas são abordadas de forma suscinta pelos gestores, mas também são alvos de forte crítica. A informação está no jornal diário Valor Econômico, edição de hoje.

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O fato deste documento ter sido retirado sumariamente do portal web do Ministério do Planejamento é um escândalo gravíssimo.

O titular da Secretaria de Planejamento e Investimentos Estratégicos (SPI) é o baiano Afonso Oliveira de Almeida, desde maio de 2007, segundo o portal do Ministério.

O ministro do Planejamento é Paulo Bernardo Silva (na foto, posando tardiamente de quinto Beatle), cujo sobrenome ele omite, talvez por não considerar uma alcunha de tradição e nobreza, tanto quanto aspira ostentar. Esse sujeito foi sindicalista (ex-bancário) e se projetou na vida pública como secretário da Fazenda do famígero Zeca do PT, ex-governador do Mato Grosso do Sul. O senhor Silva - de escassas luzes - foi secretário do inesquecível Zeca do PT por longos 60 dias. De resto, construiu a sua vida partidária petista como burocrata ad hoc cevado na "estufa de quadros" de José Dirceu, que o catapultou - ex abrupto - para o Ministério do Planejamento, em 2005.

Portanto, é certamente ao ministro senhor Silva que se deve debitar o fenômeno do eclipse misterioso de tão importante documento produzido pela SPI.

Repito: o fato é grave. E o documento sequestrado é importantíssimo para fazer a disputa com o agronegócio caloteiro e sonegador.

2 comentários:

Tupamaro disse...

O sr. Paulo Bernardo Silva, Ministro do Planejamento e funcionário ou ex do Banco do Brasil, não necessitaria de qualquer assesoramento de técnicos do ministério que dirige para chegar a esta clara e nítida conclusão sobre o agronegócio brasileiro. Qualquer funcionário do BB, desde os mais novos até os mais antigos, conhece o histórico de calotes dos barões do espaço rural brasileiro. Dentre as oligarquias do Brasil, é a parcela que mais mama nas tetas do Estado, e também a mais retrógada e reacionária de todas.

Anônimo disse...

Haha... ri alto aqui quando li "o documento foi tirado do ar porque contrariava o agro-negócio".

O troço apontava a ineficiência das políticas públicas do governo Lula em TODOS os setores (não só na agricultura), e por isso foi tirado rapidinho do ar.

Quem diz isso não sou eu, mas o ministro da Educação, que ficou indignado por ter sido criticado.

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