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sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Um outubro a lembrar


General Frota achava o ditador Geisel complacente com os comunistas

A memória histórica, mesmo que relativamente recente, por vezes é cercada por brumas que a envolvem no esquecimento.

O Governo Geisel (1974-1979) instaurou uma política que pressupunha que as dificuldades internas e externas da ditadura civil-militar imposta em 1964 a levariam, numa questão de tempo, a um esgotamento. Para isso, fazia-se necessário preparar um projeto de transição, de abertura que fosse “lenta, gradual e segura”. Dentro dessa perspectiva, era fundamental que o sucessor de Geisel rezasse por esta mesma cartilha, que estava longe de ser uma unanimidade entre os militares que gerenciavam o Estado no Brasil.

O General Geisel tinha a oposição de setores militares que o consideravam condescendente com o movimento das oposições, onde, quase sempre, detectavam uma ameaça comunista.

Porém, mesmo com a pecha de moderado, Geisel não descuidava dos aspectos repressivos do regime militar: em abril de 1977 fecha o Congresso Nacional dentro de uma das medidas do chamado Pacote de Abril. O general presidente não hesita em acionar o famigerado AI-5 contra a oposição parlamentar, contra o movimento estudantil e sindical e contra qualquer manifestação da sociedade civil considerada como de contestação à política autoritária vigente.

Ao lado disso, a máquina repressiva dos Doi-Codi, braço operacional comandado pelo Centro de Inteligência do Exército (CIEX), continua azeitada e moendo opositores em suas engrenagens.

Mesmo assim, setores das forças armadas capitaneados pelo General Sylvio Frota, ministro do Exército, querem o endurecimento do sistema e não a sua abertura como pretende Geisel e seus aliados. Para isso, a linha dura precisa emplacar o General Frota como o próximo presidente.

Durante o ano de 1977 acirra-se o embate pela sucessão de Geisel. Este, premido entre a truculência da linha dura das forças armadas e os anseios da oposição pela redemocratização do país, defende a candidatura do General João Baptista Figueiredo enfrentando o candidato da linha dura, General Sylvio Frota, Ministro do Exército.

Em setembro de 1977, diante da expulsão de Leonel Brizola do Uruguai, Geisel dá ordens para que Brizola possa voltar ao Brasil desde que seja confinado em algum lugar como Corumbá. O general Frota rebela-se e articula uma forte reação de oficiais superiores contra essa medida. Geisel recua, Brizola é recebido nos Estados Unidos. Ponto para Frota.

Frota e seu grupo radicalizam a luta contra Geisel e seu “pendor esquerdista” que é acusado de complacência com a infiltração comunista. Como prova da brandura do presidente para com o inimigo, Frota apresenta uma lista de 97 notórios subversivos comunistas infiltrados na administração pública do país.

No feriado de 12 de outubro de 1977, o Presidente Geisel chama o Ministro Frota ao Palácio do Planalto e o demite. Frota perde e como prêmio de consolação ganha um pijama para vestir em casa.

Assim, foi sufocada a tentativa de Frota e seus “duros” de chegar ao poder, e o Brasil livre da possibilidade de que a ditadura fosse municiada de chumbo mais grosso.

Portanto, nesse outubro de 2008 é importante que se registre os acontecimentos desse outro outubro, e se destaque que dos 97 nomes incluídos na famigerada lista do General Frota nove eram do Rio Grande do Sul e que quase todos são anistiandos ou anistiados.

Artigo de Calino Ferreira Pacheco Filho, economista. Foi expurgado da FEE/RS em outubro de 1977, por constar na lista do general Frota.

Foto: General Sylvio Frota, entre Ernesto Geisel e João Figueiredo (fardado).

3 comentários:

Anônimo disse...

Feil, com relação ao tema ditadura, anistia, etc, sugiro acompanhar a situação na Espanha, onde a mesa discussão se faz hoje, em termos completamente diferentes (ainda que os argumentos dos que defendem o esqeucimento sejam bem paredicos). Também é interessante a posição da imprensa, bem diferente do Brasil. Mesmo órgãos do establishment, como o El País, tem posição que parece de esquerda perto da FSP etc.

O jornal Público também tarz boa cobertura. http://www.publico.es/165694/garzon/juicio/franquismo/derecha

Anônimo disse...

Sr.Feil, parabéns por este artigo elucidativo para nós! O mal atual de nosso país é a postura da mídia com ranços ditatoriais !! Acobertando o crime de figuras políticas do RGS! RETROCESSO !!

Anônimo disse...

Gostaria que fosse divulgada a lista dos 97 nomes. Curiosidade histórica e tambem e p/ vermos quem ainda continua c/ os mesmos ideais.

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