Ontem à noite, o Jornal Nacional (Globo) conseguiu uma proeza: fez um relato minucioso e didático sobre a especulação com derivativos, o chamado mercado futuro, contando com o auxílio de vistosos infográficos e animação 3D, mas “esquecendo” de nominar as empresas que praticaram essa barbeiragem corporativa.
As empresas especuladoras e que agem no limite da responsabilidade, são: Sadia Alimentos e Aracruz Celulose. Analistas de mercado suspeitam que têm muitas outras empresas exportadoras que igualmente atuavam de forma irresponsável no mercado futuro de moedas.
A Sadia e a Aracruz acusaram o golpe porque tem ações em bolsas (Nova York e SP) e caso não o fizessem poderiam sofrer graves sanções do xerifado que cuida dos interesses dos investidores.
Como funciona essa especulação com moedas no Brasil?
Quem pode explicar é o próprio Luís Nassif, que nos escreveu ao blog DG, domingo ainda, explicando o mecanismo especulativo perverso usado por empresários “espertos”.
“Essa especulação foi estimulada pelo Banco Central – diz Nassif - e trouxe um custo incalculável para o país. Ao longo de anos, grandes empresas exportadoras driblaram a apreciação do real através de operações casadas de dólar futuro e DI (juros). O próprio BC estimulou essa prática através dos leilões do chamado ‘swap reverso’. Foi um cala-boca que garantiu o lucro do mercado, o lucro das grandes companhias exportadoras, um custo bilionário para o Tesouro e o aumento da vulnerabilidade externa brasileira”.
”As empresas foram imprudentes – prossegue o blogueiro Nassif - até o limite. Mas o BC foi mais imprudente ainda, permitindo a ampliação desse jogo apenas para reduzir as pressões contra sua política cambial irresponsável”.
A imprudência a que se refere Nassif se deve à especulação irresponsável da papeleira Aracruz, por exemplo, que jogou suas reservas em dólar para bem além da sua capacidade de exportação. Esse é o ponto. Apostar com reservas que resultam de operações comerciais, em princípio, não tem mal algum, trata-se de um mecanismo de proteção cambial lícito e recomendável. Mas a Aracruz apostou além da sua capacidade comercial-operacional de exportadora que é. Apostou muito acima das suas receitas correntes do comércio externo de seus produtos – papel e celulose. E perdeu.
A papeleira Aracruz perdeu R$ 1,95 bilhão e a Sadia perdeu outros R$ 760 milhões. Total da brincadeira de cassino: R$ 2,71 bilhões. Como o mercado externo agora se fecha, tendo em vista a crise internacional de crédito, os empresários-apostadores da Aracruz e da Sadia estão em apuros para fazer caixa e saldar seus compromissos correntes. Resultado: insolvência e possível quebra, logo mais adiante, dependendo da extensão e da duração da crise internacional.
A Aracruz não dá maiores explicações sobre a barbeiragem corporativa que cometeu, limitando-se a informar que "contratou assessoria especializada para a realização de auditoria específica" e "verificar se foram observadas suas políticas internas".
O que revela – para espanto de todos nós – um quase absoluto descontrole gerencial de sua própria atividade, uma vez que só agora vai “verificar se foram observadas suas políticas internas”.
Vejam, pois, damas e cavalheiros, leitores deste blog de província, o quanto é perigosa essa empresa papeleira – para bem além de sua atividade ambientalmente insustentável. Está nas mãos de administradores e executivos que fazem o que se chama gestão temerária, brincando de investir recursos de investidores do mercado de capitais em uma atividade produtiva que não se sustenta ambientalmente e que, financeiramente, comete erros grosseiros de avaliação conjuntural e perspectiva de limites no próprio modelo a qual se insere.
O governo do Rio Grande do Sul, moralmente, tem responsabilidade solidária, sim, com a barbeiragem corporativa da papeleira Aracruz. Essa aventura tucana de apostar num modelo de evidente insustentabilidade (ambiental, econômica e financeira, como está provado) pode sair caro para todo o povo sul-rio-grandense, em especial da Metade Sul do Estado.
Outro setor que também tem responsabilidade solidária com a perigosa aventura das papeleiras é a mídia regional, pequena e grande. Apostaram cegamente numa quimera, nunca tiveram visão crítica e de futuro sobre o business da celulose e papel, nunca sequer cogitaram de alternativas menos comprometedoras do bioma Pampa. Em nome do faturamento fácil e rápido, rifaram na bacia das almas o futuro de 50% do território do nosso Estado.
Agora a realidade está apresentando o seu saldo devedor, embora apenas a contabilidade financeira, já que a contabilidade ambiental ainda está por vir.
Quem se habilita a pagar?
17 comentários:
com a palavra, os venais de sempre da "mérdia" guasca, e a rede bunda suja...
Caro blogueiro, em comentário anterior aventei a hipótese de que esse socorro aos "pequenos bancos" proposto pelo BC do Meirelles tinha a ver com estripulias cambiais. Lendo o Valor de hoje (e também o Nassif), vejo que esses bancos eram a contraparte de algumas exportadoras aventureiras. Eles estão chamando margem ou liquidação de operações por parte destas. Como nessas operações o passo foi maior que a perna (alavancagem) ambos os lados estão "sinucados". E estão chamando o BC pra comparecer com o (nosso) dinheirinho. Os mesmos que gritam contra o gasto (para políticas sociais) público querem que o governo abra a mão. Para eles, é claro. O imbroglio é tanto que estamos a ouvir Armínio Fraga, que instituiu o cãmbio flutuante, pedindo intervenção no mercado de dolar à vista. Lembra o quanto o Lula falou mal do Proer? Pois está fazendo um. E dos grandes.
Estão forçando a barra na análise. A Aracruz pode ter investido em ativos complicados além da conta, mas dizer que o Estado do RS é responsável por um investimento realizado por uma empresa privada é também ir além da conta. A grande mídia foi rigorosa - e muitas vezes com razão - com o governo do companheiro Olívio, mas a mídia alternativa de esquerda gosta de aproveitar qualquer suspiro do mundo para dizer que a tucana Yeda é a eterna culpada de tudo.
Maia, quem trouxe e deu amplas condições e infraestrutura legal e licenças ambientais fajutas para essa bicheira Aracruz vir para o RS?
Quem?
Isso não é suspiro.
Um empresa que está insolvente e que investiu forte no Estado por força de parceria com a barbitúrica e mais a RBS, é mole ou quer mais?
Isso vai pra contra da véia e da RBS, ah vai!!!!!!!!!!!!!!!
... pra conta....
Tá bom Maia então "tu" é o responsável:
1. pelos incentivos fiscais dados;
2. afrouxar, ou até acabar, com a legislação e fiscalização ambiental (façamos justiça: o governo federal também está, ou estava, fazendo o mesmo);
3. esconder, junto com a mídia amansada, sobre problemas ocorridos com estas papeleiras em outros estados e até outros países;
4. É principalmente por ter votado nesta pessoa absolutamente despreparada que está acampada no piratini.
Isto tudo sem falar no emprestimo de U$ 1 bilhão, negociados e assinados de maneira "quase secreta" dias antes da maior crise financeira mundial já vista, com o aval do governo federal, lembrando-se, porém, que o pagador é o contratante - Rio Grande do Sul! Até agora não vimos nenhuma notícia sobre o dinheiro salvador e suas repercussões para nós pobres gaúchos!
A especulação é fruto do sistema que defendes o qual, neste momento, está ruindo nos estados unidos, europa e japão, com efeitos no resto do planeta!
E pelo visto, mais uma vez, quem pagará a conta é o pobre do povo contribuinte. Tudo para salvar jogadores irresponsáveis.
armando
Quem "degola" o seu próprio governo (setor ambientalista) faz de tudo e é co-responsável, sim, por atrair esse tipo de investimento... simples questão de avaliação política com conotação ideológica, como tudo na vida.
Aos que acham essa avaliação "rigorosa", convido a pedirem a opinião de funcionários da SEMAM... enquanto não pedem, a maior parte da grande imprensa continua cuidando da imagem do seu(s) governo(s)...
Luís, não é "a maior parte da imprensa". É a TOTALIDADE da imprenssona. Caso contrário até se poderia ler o que o Feil escreveu em algum jornal por aí. Mas não, tá tudo no esquema da "mão molhada" e do PF.
Tem jornalistinha por aí que na carteira ganha 500 reais, mas no PF é 20 vezes mais e se juntar com o que pode ganhar de extra a título de estímulo ou bônus operacional de certas "entidades" eles acabam tendo vida mansa e "idéias" bem convictas e "firmes". E não pagam imposto de renda, por ser renda baixa.
Côsa di lôco
Gente de convicções juca! Sabem o que querem!
"a mídia fou rigorosa com o governo do companheiro Olívio"...
Que é isso?
O cara-de-pau assumiu que ama o Olívio?
Enlouqueceu co a crise da "Aracrusius"?
Juca: escrevo "a maior parte" para respeitar os 3 ou 4 articulistas e ao menos uma publicação que tem voz dissonante; mas, rigorosamente, é claro que é a quase totalidade da grande imprensa que sustenta o seu compromisso de classe e de negócios, fazendo pregação política disfarçada de jornalismo (isto porque o capitalismo atual precisa disto para se manter, tanto quanto baionetas, novelas e cooptação direta).
VEJA é apenas um dos exemplos mais gritantes - sabemos que está bem longe de ser o único.
E a Zero Hora? Nada sobre a sua protegida Aracruz?
Já festejaram, fizeram reportagens de duas páginas inteiras, fotos enormes, capas dominicais e agora babau?
Precisa dar uma explicação pros fazendeirotes da Campanha que jogaram tudo nessta tal de Aracú como eles dizem por lá. E os milhares de empregos que prometeram agora vão tudo pra banha?
O pânico de Ól Strite é o mesmo dessa gente humilde e esperançosa com a Aracú.
Alguém vai ter de dizer uma palavra pra esse povo, gente! Nem que seja pra mentir mais um pouco e por mais um tempinho.
Enquanto isso, aqui em SP,
Sorria, Marta, você está sendo enKASSABada. Se a derrota é ine -vitável, “Relaxa e Goza”.
Vidabela
Ô Maia, é uma questão de afinidades.
O picaretas eleitos do estado olham na cara dos picaretas corporativos e se entendem.
Uns flexibilizam tudo de um lado e outros do outro, tu e eu acabamos pagando a conta de algum jeito.
Picareta não "chega" em gente decente porque sabe que não tem abertura.
O "ser caxias", que a Rede Bunda Suja chama de falta de empreendedorismo, falta de visão, dogmatismo, é uma vacina contra más companhias.
Bem, enquanto eu ganhar apenas o que meu suor me paga, e enquanto eu conseguir separar meu lixo sólido aqui em casa, que é que vou fazer prá salvar o mundo?
Pois é, cada um de nós uma andorinha... Correndo o risco de baixar numa represa cheia de óleo e não conseguir mais bater asas.
Algo só mudará quando a tragédia geral não for mais remediável.
Comprem seuis ingressos...
O povo de SP tá de quatro, dizendo para o Kassab "et caterva": bota ni nóis, Kassab. Bota que ocê tá botando num povo macho! Bota tudo ni nóis! Ocê goza e nóis é qui sofre!
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