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"Lula não quer ver empresa quebrar", era o que se ouvia ontem de gente graúda do governo, com variações mais ou menos grandiloqüentes. Isto é, muita gente do governo afora o Banco Central, que não usa a palavra "quebrar" nem está dizendo coisa alguma além das inanidades de costume, "país mais preparado, apesar da crise grave", "muita calma nesta hora" e afins. Do que Lula está falando?
O governo se refere ao vexame das perdas de empresas como Sadia e Aracruz com engenharias cambiais da lavra de gente que deveria estar brincando de videogame, e não conduzindo as finanças de companhias que empregam milhares de pessoas.
O dólar a quase R$ 2,50 era motivo suficiente para o BC queimar reservas. Talvez os desejos expressos por Lula, o Salvador, tenham sido o piparote que levou o BC a vender dólar em dinheiro vivo e a relaxar mais uma vez o compulsório (dinheiro que os bancos estacionam no BC).
Mas tem mais coisa aí?
Primeiro, apesar da boataria, não há medida do estrago causado pelas operações irresponsáveis e ineptas com câmbio. Sadia e Aracruz, aliás, nem explicaram exatamente em que se meteram (mas uma dessas empresas ligou desesperada para o governo logo no dia em que descobriu o tamanho da besteira, pedindo socorro).
Pelo menos outras duas empresas que tinham citado tais operações ("target forward") em notas dos balanços de junho ainda estão quietas, embora a escala absoluta e relativa de suas apostas tenha sido bem menor que a da Sadia e da Aracruz.
Uma dúzia de empresas negou em público que tenha feito hedge além do convencional. Verdade? Se é o caso, alguém propagandeia dificuldades para ganhar facilidades?
Segundo, também não se sabe se as empresas do videogame financeiro tinham alguma outra cobertura ou se bancos ficaram a ver navios por serem a contraparte desses negócios. Há apenas rumores, embora a observação do resultado do fluxo cambial, do mercado de câmbio na BM&F e a louca desvalorização do real nas últimas três semanas indiquem que tem gente fazendo farra para pressionar a cotação do dólar e/ou empresa no bico do corvo.
De resto, o governo redigiu uma medida provisória vaga a respeito da natureza dos empréstimos que o BC poderá oferecer a bancos em troca de garantias irritantemente vagas, tanto na natureza como no preço.
Tudo isso posto, e como há menos transparência no mercado financeiro do Brasil do que no balanço do pior banco falido dos EUA, a gente fica de orelha
Ok, reservas são empilhadas justamente para atenuar crises. Mas o emprego desse investimento público caro precisa de explicações - no mínimo prestação de contas posterior, pública e privada. Afinal, empresas e/ou bancos estão pedindo água, fora do mercado, para reparar suas estripulias - quando fizeram dinheiro, não o distribuíram na praça nem deram uma gorjeta ao BC.
No mercado, ninguém está fazendo o favor de ajudá-las - o mercado está justamente arrebanhando caixa e fechando as porteiras. Quando é que vamos saber quem fez besteira?
Artigo de Vinicius Torres Freire, publicado hoje na Folha.
10 comentários:
Dinheiro público não deve servir para pagar a ganãncia de Aracruz e Sadia que resolveram investir no mercado de risco como se fossem operadores de videogame. Muito boa a análise do Torres Freire na Folha de hoje. Pesquei lá para o depósito.
Como esse mundo tá virado ...
Correm boatos, certamente provenientes de gente feia, boba e malvada, que algumas outras "grandes" empresas embarcaram nessa canoa furada. Seria interessante, talvez, acompanhar "grandes" concessões de financiamentos do BNDES nos próximos meses...
Inclusive, francisco goulart, verificar os financiamentos do BNDES para investimentos em países de grande risco como Bolívia, Equador e Venezuela. Investir no Equador e na Bolívia é o mesmo que investir no Freddy Mac ou Fanny Mae. É alto risco.
As bandalheiras do Freddy Mac e da Fanny Mae estão aí escancaradas com os resultados sendo de pouco em pouco sendo conhecidos. E o alto risco era escondido pela opção política do mercado sem regulação. As agências de riscos recomendavam. não é mesmo?
Já na Bolivia, Equador e Venezuela o risco é para os Freddy Macs e Fanny Maes da vida que crescem e se locupletam com golpes e trambiques.
Claudio Dode
Feil. Nada de novo no front. Apenas se consuma, uma vez mais, a velha lógica: privatizar os lucros e socializar os prejuízos. Na realidade, a lógica do que chamam de mercado, bem ao gosto da ideologia neoliberal.
Quando os ganhos são fartos, devem ser distribuídos entre uns poucos, que, dizem, têm mérito para tanto.
Quando o prejuízo se avizinha ou se estabelece, tratam de suplicar socorro ao "papai" Estado.
O Estado assume o ônus e vai repartí-lo sobre os ombros da maioria que, muitas vezes, nada tem a ver com a história.
O BNDES deu uma grana pra Odebrecht, Maia idiota. E eles foram lá fazer merda e garantir com o trabalho porco deles uma graninha extra pros netos estudarem em algum país limpo, sem "pobre, preto e puto".
Jonny.
Olha...já tô me tapando de nojo desse auxílio aos bancos!
Vai desempregar muita gente??? alguém me explique,mas quem trabalha duro, vai continuar trabalhando no no limite ! vai dando uma raiva!
se o pres.lula der auxílio aos ricos,não voto nele e nem na dilma.
Quero o FHC de volta.
Trabalhar duro e não ter nada,já sei como é que é!
A grana não foi apenas para a Odebrecht. O BNDES não dá financiamento ás escuras. O dinheiro foi liberado para a Odebrecht investir no Equador.
Dois comentários
Maia, hoje em dia risco é investir nos Eua, na Inglaterra e na Islândia. Mau dinheirinho vou aplicar todinho na terra do Chávez. Todos meus cem reais.
Ué, o negócio da papeleira não era papel.
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