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terça-feira, 28 de outubro de 2008

Há uma nítida queda-de-braço entre Lula e os banqueiros


Tudo indica que Lula capitulará novamente

Faço questão de copiar/colar a íntegra da matéria de capa da Folha de hoje, assinada pelo jornalista Kennedy de Alencar (que, sabe-se, não é nenhum míriam-leitão-da-vida, que apenas repete o que o mercado lhe assopra). Alencar foi no ponto.

De resto, são disputas de poder e conflitos de classe recorrentes que temos tratado aqui no blog, desde que estourou a crise financeira mundial no começo deste tumultuado outubro.

Tudo indica que Lula vai sucumbir novamente ao seu irrefreável espírito cordial e conciliador, e continuar abrindo mão da soberania sobre parte vital de seu próprio governo, em favor dos bancos, dos rentistas e especuladores de sempre.

O ex-sindicalista, hoje convertido ao pragmatismo expresso da governabilidade de resultados, parece que não está convencido de que a força política e econômica do capital financeiro está com os dias contados, no Brasil e no mundo todo, pelo menos na ênfase e no tom dos últimos trinta anos. Mas vamos ler atentamente o que conta Kennedy Alencar:

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva conversou com grandes banqueiros na semana passada para pressioná-los a abrir as torneiras do crédito. Ouviu respostas desanimadoras.

Segundo a Folha apurou, os grandes bancos disseram que a prioridade, no momento, é construir um "muro de liquidez" - ação preventiva e de sobrevivência no médio e longo prazo em relação à crise econômica mundial, que estrangula o crédito e as empresas.
Lula ficou contrariado, segundo relato de integrantes da equipe econômica. Os grandes bancos aumentaram muito o grau de seletividade para concessão de crédito. A maior parte do dinheiro que entra via redução do compulsório após medidas do Banco Central não retorna ao mercado sob a forma de empréstimo.

Receosos em emprestar e preocupados em manter sua solidez num momento de grandes incertezas, os grandes bancos seguram em caixa os recursos e aplicam nos títulos do próprio governo, atraídos por uma taxa básica de juros (Selic) de 13,75% ao ano.

A Folha apurou ainda que os maiores bancos privados do Brasil têm também procurado se capitalizar para, caso apareça uma oportunidade de compra estratégica de carteiras ou de instituição, terem recursos em caixa para a operação.

Ou seja, a liberação condicionada de estimados R$ 50 bilhões do compulsório (parcela dos depósitos que os bancos são obrigados a recolher no BC), deixando mais recursos livres para empréstimos, tem tido pouco efeito prático.

Os bancos acreditam que neste momento de incerteza o mais importante é manter o caixa reforçado e não comprar carteiras de crédito de instituições menores, que têm pouca liquidez.

Na semana passada, Lula enviou alguns emissários para conversas com empresários e banqueiros. O presidente tem ouvido opiniões de fora da equipe econômica tradicional -Fazenda, Planejamento e BC. Esses emissários detectaram um pessimismo maior do que Lula imaginava. Os contatos diretos do presidente com banqueiros receosos reforçaram a percepção do presidente de que o efeito sobre o Brasil será maior do que a "marola" prevista por ele anteriormente.

Para complicar, há a divisão na equipe econômica e no próprio BC (Banco Central) em relação à taxa de juros. O presidente do BC, Henrique Meirelles, está no grupo mais ortodoxo. Ou seja, o que cogita até elevar juros para combater eventual efeito inflacionário em razão da alta do dólar.

Os críticos do presidente do BC afirmam que é hora de seguir o movimento dos outros bancos centrais, que reduziram juros para tentar aquecer a economia. O argumento é o seguinte: com os juros tão altos, os bancos vão continuar a preferir a segurança dos títulos do Tesouro do que a concessão de crédito. Seria hora de priorizar o crescimento e não a inflação, apesar de a função oficial do BC ser buscar a meta de inflação.

Esse debate reforça, na avaliação do Planalto, o cenário no qual o BC deverá manter inalterada a Selic na reunião desta semana.

19 comentários:

MASQUINO disse...

Perderemos nosso governo para os banksters.Isso é que é poder.

Anônimo disse...

Ontem no Roda Viva, o prof. Beluzzo deu uma aula, mostrando em várias oportunidades, o quanto essa cantilena liberal que o PIG repete à exaustão é capenga de lógica. Em uma delas, o jornalista da Folha (não lembro o nome) protestou contra a sugestão do professor que o governo fizesse gasto público frente à crise, em nome de preservar o "dinheiro do contribuinte". Beluzzo tascou uma resposta simples: na perspectiva do desemprego em massa, os contribuintes podem virar não-contribuintes e por consequencia, o dinheiro que o jornalista tanto queria preservar deixaria de existir no futuro. Em seguida uma outra jornalista retrucou dizendo que o governo não tem esse dinheiro. Em resposta, ouviu que tampouco o o Tesouro americano (que é deficitário em termos nominais) tem em caixa o dinheiro que está usando pra socorrer os bancos. Revelou, assim a incapacidade da jornalista em compreender que a moeda, o seu valor e a sua quantidade devem ser regulados de forma soberana pelo Estado que a emite, de acordo com os interesses da sociedade, não do mercado. O professor ainda esqueceu de dizer que o Brasil tem, sim, dinheiro para gastar, porque faz um superávit primário de mais de 5% do PIB, que é entregue todinho aos rentistas. Esse é o dinheiro (e não é pouco) que temos para evitar que a recessão se instale também aqui. Mas, infelizmente, o governo não terá coragem de derrubar os pilares ideológicos do liberalismo que continuam firmes, ainda que só no Brasil, que são o cambio flutuante, o superávit primário e a "autonomia " do BC. Vem aí cortes de gastos, contenção de crédito e, no máximo, a manutenção dos maiores juros reais do mundo. Mesmo diante da pespectiva sombria de recessão, desemprego e crise social, seguiremos caminhando solenemente para o abismo.

Anônimo disse...

a foto lá em cima me lembrou o povinho de uma certa capital sulina... só faltou o pastor com o logo do prbs.

Fabrício Nunes disse...

Profecia atrasada, Feil. Lula já capitulou. No instante em que "afrouxou" o compulsório, acatando regra básica da economia de mercado.

Carlos Eduardo da Maia disse...

O que é, afinal, soberania, cara pálida? Certa esquerda adora ingressar no inventário dos mortos para retirar significados antigos e simbólicos para certas palavras. Puro chavão. A palavra soberania é a mais castigada. O que é, afinal, soberania? Na verdade, a palavra soberania, como neoliberalismo, mídia oligárquica etc. podem ser explicadas pelos simbolos e chavões da semiótica, do estruturalismo e até mesmo do hiper estruturalismo que certa esquerda gauche francesa gosta de rezar. Bingo, descobri o código da Matrix de Baudrillard.

Anônimo disse...

Maia, bebeste o quê, hoje?

Anônimo disse...

Feil, muito interessante esse post, Lula de fato está arreglando faz tempo.
Eu gostaria de ver aqui aqueles petistas eleitorais cheios de idéias sobre Maria do Rosário e outras baboseiras sem importância falarem sobre essa questão central da soberania no governo Lula.
Onde estão esses petistas da revolução pelo voto? Que acham que o voto decide tudo?
Os banqueiros tem menos voto do que o tal vereador Brasinha, no entanto mandam no Brasil de Lula.
E agora, José?

Anônimo disse...

Amigo Feil, que pena de ti. Que foi que tu fez, meu caro, pra merecer esse Maia poluindo aqui todo o dia? O cara só escreve bosta, provoca o tempo todo, tenta desviar a atenção pra ele de um jeito bobo e desqualificado. Como diria uma amiga minha, devota de religião afro-brasileira, parece encosto.

Anônimo disse...

Manolo, protesto, maiores juros reais do mundo, não! O da Islândia é maior (18%).
armando

Anônimo disse...

Dizem as más línguas, que o Lula andou sondando o Delfim para o Bacen.

armando

Anônimo disse...

O bichinho escroto da maia ainda não
se recuperou do porre (regado a muito álcool e otras cositas más??) da festança que a turma dele fez para comemorar a continuidade da desgraça em Porto Alegre por mais 4 anos.

Soberania é não doar a Vale do Rio Doce e a telefonia do país como FHC fez. Soberania é não dar dinheiro público para a GM e a Ford como o britto e o rigotto fizeram. E agora que ambas estão a beira da falência o que este pessoal tem a dizer??? Soberania é não submeter o país a vontade de meia dúzia de banqueiros.

Mas, logicamente, certas verdades não conseguem entrar em mentes poluídas pela religião chamada mercado, neoliberalismo, livre iniciativa e aquela famosa mão invisível.

Anônimo disse...

Armando, calma que o ano ainda não terminou, nós chegamos aos 18% logo aí.

Carlos Eduardo da Maia disse...

Certa esquerda não tem a mínima noção de como funciona o mercado. Pergunte para qualquer motoboy que ganha sua grana prestando serviço de um lado para o outro que ele sabe muito mais sobre o mercado do que os ideólogos de certa esquerda. O Lula pediu aos bancos que emprestem, mas os bancos não está emprestando. E certa esquerda não entende isso. Quem é que vai ser o louco, o maluco, o lelé da cuca de abrir o caixa do empréstimo numa hora dessas? Quem emprestar agora corre o grande risco de quebrar. Isso não tem nada a ver com questão de classe (classe, que classe?), isso tem a ver com a santa prudência. Se eu fosse acionista de um banco e ele resolvesse abrir a torneira do empréstimo numa hora dessas, apenas porque o Lula recomendou, eu tiraria todo o meu santo dinheirinho desse investimento. Podes crer.

Carlos Eduardo da Maia disse...

Clairton, a Vale está aqui no Brasil gerando zilhões de emprego, gerando muito mais imposto do que na época da estatal, sendo muito mais eficiente e agregando muito mais serviço, conhecimento e valor. Soberania para você é manter a Vale nas mãos do estatismo? Isso não é soberania, isso é corporativismo. Bem fez FHC de ter privatizado outro templo do corporativismo estatal, o ineficiente sistema Telebrás que alijava a população de baixa renda do importante serviço telefônico. A desestatização das teles transformou o Brasil definitivamente num país de serviços, de agilidade, de velocidade, de mais eficiência e mais flexibilidade. E as viúvas do estatismo gostam mesmo é de chorar de saudades pelos velhos tempos da ineficiência do estatismo, bons tempos aqueles da "soberania".

Anônimo disse...

Tá certo, então recolha-se o compulsório antes liberado. Acontece, seu Maia, o sr. está ocultando parte da história, os bancos estão com os compulsórios menores, só que não estão dando crédito, estão pegando essa grana e aplicando nos papeís da dívida pública cujo árbitro é o Bacen, ou seja, os próprios bancos na pessoa de Meirelles.
E o Lula tolera essa putaria dentro da própria casa presidencial. Pode?

Carlos Eduardo da Maia disse...

Simples, Gustavo, aumenta novamente o compulsório....Errou o BAcen ao diminuir o compulsório.

Anônimo disse...

Eu só sei...que a volta veio bem mais rápida.
A tchurma da privataria vai fazer cara de paisagem.
Que ano!
É uma rebordosa daquelas!
Quem será que está ganhando?
Cadê a tchurma do Fórum da Liberdade?

Anônimo disse...

O Maia disse:

"Certa esquerda não tem a mínima noção de como funciona o mercado."

Nem mesmo aquela certa direita acredita mais nisso. O Cara não lê nem jornal.

Claudio Dode

Carlos Eduardo da Maia disse...

Suzie, você tem saudades do monopólio estatal das teles?

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