Rosário – se quiser – pode superar politicamente as dificuldades eleitorais
O tema candente das cidades brasileiras atualmente é a disputa feroz pela apropriação do solo. Depois de quase três décadas de estagnação econômica, o Brasil prepara-se para retomar o impulso continuado do desenvolvimento produtivo, em que pese a quebra de Wall Street e a inevitável repercussão em cadeia na estrutura econômica (real e virtual) do mundo todo.
A reanimação do setor de construção civil, os expressivos investimentos estatais através do PAC, e a Copa de futebol de 2014 são fatores que excitam a cena urbana de todo o País. Curiosamente, mas por motivos bem conhecidos, a presente corrida eleitoral praticamente ignorou o tema, cuidando senão de aspectos conseqüentes e evitando os seus elementos causais.
Tivemos uma campanha a frio, de retóricas e aparências, que obedeceu a uma pauta tácita ditada pelo interesse hegemônico, obediente às regras purgadoras e desidratadas de tudo que diga respeito à política, ao interesse popular, ao espaço público, aos direitos de cidadania, ao conflito social urbano, à democracia e à participação comunitária.
O que chamamos de pauta tácita, ditada por atores hegemônicos ocultos (que minam inclusive os formuladores estratégico-eleitoral de todos os partidos do espectro político), é o pensamento único do pleito 2008. Nenhum partido conseguiu pautar algo que fugisse à agenda única invisível.
O jornal Zero Hora foi o instrumento privilegiado desta estratégia de pasteurização programada do debate na cidade. A cada dia havia uma falsa questão, a qual todos os candidatos se submetiam de forma obediente e disciplinada.
Invariavelmente, as respostas resultavam de convicções sensíveis puramente pessoais dos indivíduos candidatos e candidatas, jamais recolhidas de orientações orgânicas, seja partidária, seja originada das comunidades interessadas. São expressões do mais puro “achismo” impressionista e fenomênico, baseados tão-somente na experiência imediata e no empirismo exagerado – em suma, na charlatanice.
Os candidatos são perfeitos charlatões - vendedores de ilusões materializados em sortilégios milagrosos que prometem tudo e entregam o nada.
Enquanto isso, o apetite real do business de ocasião tem passe livre na “vida como ela é”. O Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano e Ambiental é uma peça quase que prestes a ser tombada pelo Museu Júlio de Castilhos, tal o seu desuso, o caráter reafirmado de letra morta e a desmoralização institucional a que está submetido.
Mas,
A candidata petista Maria sou-uma-vitoriosa do Rosário pode dar a volta por cima deste pântano informe e paralisador.
Rosário pode ser plural, politizar e problematizar questões tabus na cidade. Pode acabar com o instituto fogacista da democracia direta da burguesia, que semanas atrás ainda logrou êxito em cercar um local nobre da cidade – o morro Ricaldone – com a finalidade particularista de re-valorizar imóveis e re-qualificar seu modo privilegiado de estar e se apropriar da cidade. A prefeitura de Fogaça se transformou num comitê homologador de decisões e carreador de recursos públicos para demandas em favor do privilégio e da especulação urbana.
Se a candidata petista conseguir se diferenciar da agenda única, demarcando posições políticas autônomas, definindo e delimitando os campos sociais de interesse no território urbano de Porto Alegre, sob uma pauta popular, participativa e inclusiva, certamente conseguirá retomar a tradição de luta do velho PT, podendo até prescindir da ajuda do presidente Lula, que, parece, está comprometido demais com 2010 e não se envolverá em disputas locais de província.
12 comentários:
Feil, se a candidata Maria "EU" do Rosário continuar na mesma linha do discurso que fez hoje no Jornal do Almoço, perca as esperanças, a coisa está pior do que eu imaginava. Depois de quase trinta anos nem o PT nem Porto Alegre mereciam isso.
Se a Candidata Rosário resolver colocar em prática a agenda proposta pelo nosso blogueiro Feil, ela perderá a eleição fácil, fácil. O povo de Porto Alegre cansou do velho PT que governou a cidade por 16 anos. Prova cabal disso é que Fogaça fez praticamente dobro de votos de Rosário. Se a administração do velho PT tivesse sido magnífica o partido estaria na frente. Não está. E Lula também está comprometido com 2010, até mesmo porque o José Serra (que está mais à esquerda de Lula) foi vitorioso na eleição e vem com força total.
A questão é que o discurso do orçamento participativo, fórum social mundial não cativa mais ninguém. O discurso de Rosário não tem que ser esse para ganhar eleição. Rosário para se eleger tem conquistar o voto da classe média portoalegrense que é maioria na cidade..... E isso é muiiiito difícil.
O Carlos Eduardo Maia está certo, temos que mudar nosso discurso e nos reagruparmos com o PCdoB e o PSB. Chega de choradeira, eleição se ganha nas ruas e não nas páginas dos jornais. Agora, dizer que o Serra está mais a esquerda que o Lula é loucura. O Feil não se dá conta que o portoalegrense é burguês de carteirinha e um bastente burrinho. O Fogaça é só a cara deles.
Prezado,
Veja a última da Globo:
Rede Globo censura anúncio do Sindicato dos Bancários de Pernambuco.
http://portalctb.org.br/site/index.php?option=com_content&Itemid=&task=view&id=2209
Luis Cláudio
ps: parabéns pelo blog
Irretocável. O Maia quer insistir em dizer que o PT perdeu votos...houve FRACIONAMENTO entre PSOL e PC(?) do B. O Feil está certo. Precisa cativar esta esquerda que quer sim o FSM de volta, quer políticas públicas, quer diálogo nas bases. DEMOCRACIA, na assepção radical da palavra.
Se a lógica do Maia estivesse correta MAria teria feito muitos votos, pois ela não fala em OP, FSM, em nada que lembre os 16 anos do PT, adotando o discurso mais senso comum e despolitizado ao estilo Fogaça. Por isso a perplexidade de quem é de esquerda em Porto Alegre. Se ela apresentasse um discurso com nítido caráter de esquerda do velho PT vencedor a história seria outra.A realidade Maia, é mais concreta que teus desejos conservadores de classe média.
Perfeito pmarkes, destruistes o raciocínio furado do bichinho escroto da maia. Foi exatamente o discurso insosso da Rosário que quase levou a "barbie" ao 2º turno. Se não fosse a retomada (ainda que de forma "leve") do antigo discurso na reta final, não sei, não sei...
Acredito que a maioria que votou em Manuela, Luciana e Vera vai votor no PT no 2° turno. É uma nova eleição que começa do 0xO e vai depender da competência do PT em explorar as mazelas do desgoverno Fogaça para iniciar a virada. A propósito, a denúncia do Onyx no debate da prbs, sobre os desvios da passagem TRI ( que pode configurar uma roubalheira maior que a do DETRAN) deve ser investigada/levantada.
Feil, concordo plenamente com a tua análise.
Há condições possíveis para a candidatura da Maria do Rosário se superar nessas eleições.
É preciso encontrar caminhos para exteriorizar indignação dos cidadãos que não estão tendo suas necessidades vitais, culturais e políticas atendidas. Além de faltar um planejamento urbano mais amplo e de curto, médio e longo prazo.
Agora haverá mais tempo para mostrar os projetos inovadores para a cidade, nas áreas de segurança, reciclagem de lixo (lixo é luz),educação, cultura,saneamento básico, transporte,etc.
É preciso mostrar sobre tudo que são dois projetos políticos diferentes, o atual está estacionado há 4 anos na cidade, apenas consumindo os seus recursos e a máquina da prefeitura para a releição do prefeito e de vários secretários. Enquanto que o projeto da Frente Popular sempre se caracteriza pelo dinamismo, inovação, políticas sociais integradas.
JOSÉ Fogaça já teve sua vez, agora é MARIA do ROSÁRIO!
Cláudia
Clairton,
Também acredito que os eleitores da Manuela e da Luciana irão votar em Maria do Rosário.
Ah! só desejo que elas tenham um pouco do imaginário social utópico histórico ético estético, tipo Maria da Conceição Tavares, Rosa Luxemburgo para orquestrar a virada. As três juntas com suas virtudes éticas e estéticas podem enfrentar a convocação de Simon e dizer que o seu candidato já teve a sua oportunidade, agora chegou a vez de Maria do Rosário.
Cândida
Acredito que o clima estrelar da região metropolitana e Vale dos Sinos deve incluir a capital nessa rota iluminada.
Hannah
"Rosário pode ser plural, politizar e problematizar questões tabus na cidade." Acho que ela não tem nem vontade e nem capacidade para fazer o que sugeres. E, infelizmente, o PT não demonstra interesse em politizar nada!
Quanto ao Morro Ricaldone, não era praça e, por isto, poderia ser cercado, mas o Parque Harmonia É praça (uso comum do povo) e foi fechado na surdina!
Luciana
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