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quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Brasil: a pobreza é negra, a riqueza é branca


Diferença de renda entre brancos e negros zera só em 2029

Estudo divulgado ontem pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), com base em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) 2007, revela que a diferença de renda entre negros e brancos vem caindo nos últimos anos e, se o ritmo for mantido, deve ser zerada em 2029. A informação é da Agência Brasil.

De acordo com o Ipea, a renda per capita dos negros representa menos da metade da renda domiciliar per capita dos brancos. “Trata-se de uma desigualdade particularmente detestável, na medida em que não é atribuível a nenhuma medida de mérito ou esforço, sendo puramente resultado de discriminações passadas ou presentes”, informa o documento.

Essa desigualdade, no entanto, começou a cair a partir de 2001. Até 2007, um quarto da diferença foi retirada. “Isto quer dizer que ainda faltam outros três quartos. Se o ritmo continuar o mesmo, haverá igualdade na renda domiciliar per capita apenas em 2029”.

A redução da desigualdade até agora não pode ser atribuída à redução da discriminação racial necessariamente, segundo o Ipea. Por causa do grande percentual de negros nas camadas mais pobres da população, a melhoria na distribuição geral da renda teve reflexos diretos na redução de desigualdades por raça.

“É possível que que a redução da razão de rendas não seja conseqüência de uma redução nas práticas discriminatórias e sim do fato de negros serem maioria entre os beneficiários do Programa Bolsa Família, dos benefícios previdenciários indexados ao salário mínimo, do Benefício de Prestação Continuada e dos outros mecanismos de redução da desigualdade geral”, avalia o Ipea.

Segundo a análise, 72% da queda da desigualdade de renda entre negros e brancos se deve à redução generalizada da desigualdade na sociedade brasileira e apenas 28% aconteceu em razão da mobilidade social dos negros, com migração para para classes mais altas. A ausência de políticas de ação afirmativa “de grande envergadura” é apontada pelo Ipea como causa principal desse desequilíbrio.

“A pobreza é predominantemente negra e a riqueza é predominantemente branca”, ressalta o estudo.

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2029. Vamos convir, é muito tempo para um País cujo governo mantém com grande zelo uma política monetária concentradora de renda. A política de juros do Banco Central destina a cada ano cerca de 115 bilhões de reais (mais de 20 vezes o montante destinado ao Bolsa Família) para favorecer menos de 20 mil famílias (80 mil indivíduos, certamente todos brancos) de especuladores e rentistas.

Quem lê esses dados do Ipea, está autorizado a concluir que a política do BC é muito mais que concentradora de renda, é, sobretudo, racista.

5 comentários:

Carlos Eduardo da Maia disse...

Este sim é um assunto de grande prioridade. É inadmissível que um país que se considere no caminho do desenvolvimento tenha esse grande abismo. Por isso que eu digo, repito, reafirmo: este Brasil precisa investir em educação, educação e educação. Precisamos buscar um padrão razoável de igualdade de oportunidade entre as pessoas. E esse investimento não é apenas de cidadania, mas também de preparação para o mercado de trabalho. E uma coisa, como bem se sabe, não exclui a outra.

Anônimo disse...

A política do BC, por essa lógica, é racista. Assim como a política de todos os bancos, financeiras e instituições de crédito (inclusive o Banco do vacitano). Resumindo: o capital é racista.

Carlos Eduardo da Maia disse...

Ary, não adianta nada investir em educação se não tiver recurso, capital, para investir em educação. É ou não é?

Anônimo disse...

Educação formal pra reproduzir ESSE sistemão, Maia?

Anônimo disse...

Olha, é fácil eu de classe média dizer isso. É claro que temos situações que urgem. Mas se realmente chegássemos a uma igualdade de renda entre brancos em negros em 2029 seria uma benção.

Acho que isso vai demorar muito mais pra acontecer. A não ser que alguns negros concentrem bastante renda, e a grnade maioria já não tenha exageradamente pouco. Mas aí serão apenas números, o racismo, os guetos, as desigualdades continuarão existindo.

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