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Surf no lixo contemporâneo: a que ponto chegamos! E que mundo deixaremos de herança para Keith Richards?

segunda-feira, 12 de maio de 2008


Quatro ‘erres’ contra o consumismo

A fome é uma constante em todas as sociedades históricas. Hoje, entretanto, ela assume dimensões vergonhosas e simplesmente cruéis. Revela uma humanidade que perdeu a compaixão e a piedade. Erradicar a fome é um imperativo humanístico, ético, social e ambiental. Uma pré-condição mais imediata e possível de ser posta logo em prática é um novo padrão de consumo.

A sociedade dominante é notoriamente consumista. Dá centralidade ao consumo privado, sem autolimite, como objetivo da própria sociedade e da vida das pessoas. Consome não apenas o necessário, o que é justificável, mas o supérfluo, o que questionável. Esse consumismo só é possível porque as políticas econômicas que produzem os bens supérfluos são continuamente alimentadas, apoiadas e justificadas.

Grande parte da produção se destina a gerar o que, na realidade, não precisamos para viver decentemente.
Como se trata do supérfluo, recorrem-se a mecanismos de propaganda, de marketing e de persuasão para induzir as pessoas a consumir e a fazê-las crer que o supérfluo é necessário e fonte secreta da felicidade.

O fundamental para esse tipo de marketing é criar hábitos nos consumidores a tal ponto que se crie neles uma cultura consumista e a necessidade imperiosa de consumir. Mais e mais se suscitam necessidades artificiais e em função delas se monta a engrenagem da produção e da distribuição. As necessidades são ilimitadas, por estarem ancoradas no desejo que, por natureza, é ilimitado. Em razão disso, a produção tende a ser também ilimitada.

Surge então uma sociedade, já denunciada por Marx, marcada por fetiches, abarrotada de bens supérfluos, pontilhada de shoppings, verdadeiros santuários do consumo, com altares cheios de ídolos milagreiros, mas ídolos, e, no termo, uma sociedade insatisfeita e vazia porque nada a sacia. Por isso, o consumo é crescente e nervoso, sem sabermos até quando a Terra finita aguentará essa exploração infinita de seus recursos.

Não causa espanto o fato de o presidente Bush conclamar a população para consumir mais e mais e assim salvar a economia em crise, lógico, à custa da sustentabilidade do planeta e de seus ecossistemas. Contra isso, cabe recordar as palavras de Robert Kennedy, em 18 de março de 1968: "Não encontraremos um ideal para a nação nem uma satisfação pessoal na mera acumulação e no mero consumo de bens materiais. O PIB não contempla a beleza de nossa poesia, nem a solidez dos valores familiares, não mede nossa argúcia, nem a nossa coragem, nem a nossa compaixão, nem a nossa devoção à pátria. Mede tudo menos aquilo que torna a vida verdadeiramente digna de ser vivida". Três meses depois foi assassinado.

Para enfrentar o consumismo urge sermos conscientemente anticultura vigente. Há que se incorporar na vida cotidiana os quatro "erres" principais: reduzir os objetos de consumo, reutilizar os que já temos usado, reciclar os produtos dando-lhes outro fim e finalmente rejeitar o que é oferecido pelo marketing com fúria ou sutilmente para ser consumido.

Sem esse espírito de rebeldia conseqüente contra todo tipo de manipulação do desejo e com a vontade de seguir outros caminhos ditados pela moderação, pela justa medida e pelo consumo responsável e solidário, corremos o risco de cairmos nas insídias do consumismo, aumentando o número de famintos e empobrecendo o planeta já devastado.

Artigo do teólogo católico Leonardo Boff, publicado hoje no Jornal do Brasil.

12 comentários:

Anônimo disse...

Cristóvão,

Excelente! Talvez seja chover no molhado, mas... ;)

...Já leste SEM LOGO, da jornalista canadense NAOMI KLEIN? ;)

...E já assististe ao vídeo A HISTÓRIA DAS COISAS?

http://caouivador.wordpress.com/tv-cao/a-historia-das-coisas/

[]'s,
Hélio

Anônimo disse...

Essa questão eu sempre discuto com meus alunos. Tento mostrar-lhes que, o consumismo, "consome" recursos que serão necessários para a vida na Terra alí adiante. Como dizem Henrique Leff e o geógrafo brasileiro Carlos Walter Porto-Gonçalves, a crise ambiental que acomete a humanidade, somente terá solução quando, mudarmos a nossa mentalidade. Sairmos do chamado racionalismo econômico, que a tudo dá "valor", para o racionalismo ambiental, onde se valoriza a vida, o meio ambiente, as pessoas, a natureza. Estamos atrelados às imposições do "marketing", da mídia e de seus anunciantes, ávidos por lucros e mais lucros. Pergunto: onde vamos parar? Talvez quendo já for tarde demais...

Carlos Eduardo da Maia disse...

Concordo que o consumo exagerado é danoso, mas o consumo, por outro lado, gera emprego, gera renda, faz circular capital e o fetiche da mercadoria também serve para a classe média acobertar suas neuroses. Teve um dia estressado, vivente? Vá pro shopping fazer compras!!! E o frei que fez votos de pobreza quer que as pessoas não consumam. Será que o frei - que fez voto de castidade - também vai pedir que as pessoas façam sexo apenas para procriar? A igreja católica já fez tanto mal ao Brasil, impondo seus pecados e chantagens continua impondo sua moral medieval.

Carlos Eduardo da Maia disse...

Mais, a esquerda caduca adora impor imperativos categóricos: o frei disse que consumo faz mal. Se o frei estivesse no poder, acabaria com o consumismo no Brasil, porque é supérfluo ou não é prioridade. Certa esquerda adora impor seus valores (que são discutíveis) a todos. Em Cuba, o povo não pode acessar à internet de casa (existe uma lei de 2004) porque isso não é prioridade. Quem dita a prioridade, o supérfluo não é a sociedade, mas o burocrata do Estado que com canetaço decide essas coisas. E é exatamente ai que se inicia o totalitarismo.

Anônimo disse...

baita texto.

Anônimo disse...

O Maia agora tá copiando até os bordões do Cristóvão. 'Teve um dia estressado vivente', vai pro shopping. Que coisa, né, Maia?

Anônimo disse...

Maia ,o Frei NÃO É MAIS FREI, é Teólogo, e é casado com a educadora Márcia Miranda!

Anônimo disse...

É duro ter de tentar entender os textos desse Maia. Ele é confuso e obscuro, misturado e sem a menor objetividade. Na ânsia de contrapor todo e qualquer assunto que seja aqui postado, mistura alhos com bugalhos. O que tem a ver o post com sua escrita? NADA! Está evidenciado o carater AMBIENTAL do consumo sem responsabilidade e o Maia vem com dogmas religiosos, com Cuba e outras bobagens. Se o cara tá estressado, que vá se tratar. Sair a consumir por consumir é fuga da realidade... E o Estado tem sim, a responsabilidade sobre o ambiente e deve criar mecanismos para proteger a narureza através do incentivo de um consumo que respeite a natureza e a própria humanidade. Maia, se não tens argumentos fundamentados e que contribuam à discussão, fique calado, não sejas tolo...

Carlos Eduardo da Maia disse...

Rangel, veja o que o frei Boff disse que que o consumidor deve simplesmente rejeitar o que é imposto pelo marketing. Concordo que o consumidor deve ser criterioso e crítico em relação ao marketing, mas que ele deve simplesmente rejeitar o que é "imposto" (como se isso fosse imposto) pelo marketing é o absurdo dos absurdos.

Anônimo disse...

Ô Maia,

É tão difícil defender certas coisas, não é mesmo?
Mas absurdo é dizeres que "imposto" pelo Marketing é o absurdo dos absurdos.

Outro dia em um encontro referentea midia, o Papa (porque a referência ao mercado é uma questão religiosa para o Maia) do Marketing disse e foi publicado (entrevista de página inteira nO Globo):

Não precisam mais pesquisas de opinião, os consumidores não precisam pensar nós decidimos o quê vai ser consumido e eles consomem.

Deve ser o absurdo da prepotência do cara que deveria te chocar.

Claudio Dode

Anônimo disse...

Genial, esse é o tipo de texto que um cientista teria dificuldades em escrever, por ser muito abrangente. É algo que vai muito além da razao, da análise e da busca de alívio imediato. É uma dica pra ao mesmo tempo melhorar nossas vidas individuais e a do nosso planeta.
Marcelo

Anônimo disse...

Primeiro o Boff é o cara, papa não porque foi excluído da igreja católica por defender os pobres( ainda bem). Com certeza o "mala"(sem alça) nunca teve o privilégio de ter o escutado, nem sequer leu um de seus tantos livros. Que tal Maia, para amenizar um pouco esta tua ignorância, "Responder Florindo"ou quem sabe "Ecologia: Grito da Terra, Grito dos Pobres", com certeza "Teologia da Libertação" é muito pros teus neurônios.
Para que nossos filhos e netos possam ter um Planeta vivo precisamos parar de achar que defender a natureza é só não matar os animais, proteger as florestas e não poluir. Se não dermos um basta no consumo desenfreado, com certeza a Gaia, Mãe Terra, não resiste. Essa história de dizer que não vai ter emprego e a economia vai probrejo é coisa de riquinho que acha que o dinheiro vai valer quando não tiver mais nadapra comprar
Vê se diversifica tuas leituras, Maia.

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