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Surf no lixo contemporâneo: a que ponto chegamos! E que mundo deixaremos de herança para Keith Richards?

domingo, 18 de maio de 2008


Contos Nanicos Gauchescos

(Entre João Simões Lopes Neto e Félix Fénéon)

O brigadiano Jorge Santos de Canoas, Rio Grande do Sul, tinha uma mulher muito feia. No seu aniversário algum gaiato lhe mandou uma estatueta de São Jorge em gesso. Jorge Santos deu um tiro na estatueta e errou. Acertou a mulher que foi enterrada no outro dia.

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O senhor Ariovaldo Mendes, patrão do CTG Laço Crioulo de Itaqui, morreu de enfarto. Avisado em Roma, onde morava, seu único filho explicou por telefone à mãe que não poderia comparecer ao enterro. Estava se recuperando de uma cirurgia plástica para corrigir o nariz grande herdado do pai.

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Em dezembro de 1958, no interior do município de Carazinho, o agricultor Elesbão Matias, que era rengo, carneou e salgou a única porca da sua propriedade. Seu filho mais velho, Elesbãozinho, na época com quinze anos e infinitas espinhas no rosto, chorou escondido uma semana.

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No verão de 1926, em São Gabriel, Rio Grande do Sul, a mulher do estancieiro Protásio Severo veio correndo lhe dizer que avistara ao longe uma nuvem de poeira. Protásio apanhou o binóculo e se colocou no alto da mangueira de pedra.

- Nada, mulher – ajustando as lentes – vem chegando dois homens e um negro.


5 comentários:

Jean Scharlau disse...

Caro vizinho Feil, muito apreciamos aqui em casa a prova dos contos que mandaste. Na falta de coisa melhor, receba este torresminho como amostra do nosso agradecimento.

Anônimo disse...

kkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
muito bom, Feil.

Anônimo disse...

Achei muito bom. Faça mais, Feil.
Na linha do microconto, Ernest Hemingway foi imbatível com este continho de grande conteúdo:

Vende-se: sapatos de bebê, sem uso.

O microconto é a concisão, onde o clima dramático está muito mais fora do que dentro da narrativa. O escritor faz do leitor um parceiro da imaginação criativa.

Ricardo Mainieri disse...

Barbaridade!!!
Literatura mínima, guasca.
De lamber os beiços!!!
Mas, voltando para o jargão culto padrão, muito bons os micro-contos.
Tem enredo, intensidade e o que sempre é ótimo: o final surpreendente.
Transito por um terreno parecido: poesia minimalista.
É um belo exercício.

Ricardo Mainieri

Cristóvão Feil disse...

Obrigado, Ricardo.

CF

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