Você está entrando no Diário Gauche, um blog com as janelas abertas para o mar de incertezas do século 21.

Surf no lixo contemporâneo: a que ponto chegamos! E que mundo deixaremos de herança para Keith Richards?

segunda-feira, 19 de maio de 2008



O “jornalismo” promíscuo de ZH

Para o jornal Zero Hora, do grupo RBS, não há problema nenhum em estampar uma notícia na mesma página que um anúncio pago do próprio sujeito da “notícia”. Vejam o fac-símile acima, retirado hoje do portal da RBS na internet.

O anunciante – no caso, Aracruz Celulose – é objeto de notícia, em um espaço patrocinado por ele próprio. Ora, uma notícia dessas, já não é mais notícia, é puro anúncio, pondo sob suspeita o conjunto jornalístico dessa mídia. A empresa deixa de ter foco jornalístico para assumir a condição de empreendimento mercadológico com interesses jornalísticos. Inverte-se a equação, em prejuízo da notícia, da informação e da verdade factual. Prevalece somente o interesse comercial mais raso – sobre o qual, o leitor não é informado.

Às favas com a decência e o pudor, a ética no jornalismo quem forja é a própria RBS. Um exercício perigoso da chamada ética autônoma, ou ética utilitarista, que faz do agente um legislador de suas próprias normas morais, desconhecendo todo e qualquer condicionamento político e social.

Desta forma, o diário ZH abandona a militância do jornalismo impresso, inclusive antecipando-se às novas tendências, estimuladas por quedas brutais na tiragem e circulação da mídia impressa no mundo todo, e adota despudoradamente o márquetim impresso.

O márquetim impresso de ZH está sempre querendo nos vender algo, sejam mercadorias palpáveis mesmo (telefones, automóveis, bagulhos inúteis, gadgets, etc), sejam mercadorias impalpáveis (a boa imagem social de uma papeleira, por exemplo), ou mesmo ideologias de ocasião – tudo sempre derivado-hipertrofiado do velho liberalismo econômico, repaginado até a náusea.


7 comentários:

Fabrício Nunes disse...

A promiscuidade é antiga. Novidade é este tipo de empreendimento, nocivo tanto ao meio ambiente quanto ao próprio interesse estratégico do estado, receber polpudos incentivos fiscais e materiais do "glorioso" lulismo, o mesmo que ceifou Marina.
Ou alguém duvida do "dedo" do BNDES nisso tudo? Afinal de contas, Lula se prostituiu frente aos mercados.
E não me digam que Yeda também apóia, porque isso NÃO É NOVIDADE...

Anônimo disse...

Fabrício, e a promiscuidade da Luciana Genro com a ZH e a abelha-rainha Rosane de Oliveira?

O que o PSol tem a dizer sobre isso?

Anônimo disse...

Não é somente na ZH. É impressionante a cooptação que as grandes firmas fazem na totalidade da mídia. Toda a "notícia" é norteada pelos interesses dos anunciantes, por exemplo. Como um programa de rádio vai falar contra a "reprivatização" das rodovias estaduais se, esse mesmo programa de rádio, tem parocínio da Associação Gaúcha das Concessionárias de Rodovias? Ou vai falar mal das papeleiras se são elas grandes anunciantes? Existe um conluio podre entre esses atores, que nos deixa a margem dos fatos. Para quem tem um certo discernimento, é evidente. Mas o povo, não se dá conta da armadilha e egole sem questionar, é foda...

Anônimo disse...

Mario, é isso mesmo pode parecer óbvio que se esteja constatando que a mídia está dominada pelos anunciantes, pelas mercadorias dos anunciantes e seus interesses de classe. É óbvio para nós, uma fração de classe média que conseguiu se ilustrar e adquirir consciência social e histórica. Mas a absoluta maioria ainda está sob a névoa da alienação e do esquecimento.
Por isso, os blogs esse fenômeno de nossos dias, são tão importantes. Eles fazem o registro das nossas constatações. É um registro que fica publicado. Não fossem esses pequenos documentos testemunhais da rede de blogs isso se perderia na nossa memória do esquecimento. A web é um instrumento fundamental para a luta pela descolonização das consciências, especialmente no Brasil em que já não temos mais partidos de luta que dêem a linha política aos movimentos. O PT fazia isso, antes de se confundir com os partidos tradicionais eleitoreiros. Mas agora que estamos órfãos de partidos da transformação, os blogs e a web como um todo podem e devem ser território a ser conquistado.

Fabrício Nunes disse...

Sobre a Luciana, gostaria que os intelectualmente honestos debatedores deste espaço reconhecessem que a aproximação dela com ZH - como falam - não acarreta nenhuma traição fundamentalista e muito menos qualquer oferta de dinheiro público às transnacionais, como no caso dos acertos entre lulismo e mercado.
Estou certo?

Anônimo disse...

Certíssimo fabricio. Mas ainda assim é um péssimo começo...

Anônimo disse...

Bem Fabricio,

Aí nó vamos entrar em outra discussão que é a traição. A Traição é traição simplesmente, fundamentalista ou não. Adjetivada ou não!

Agora se formos levar na ponta da faca (ou na provocação) este relacionamento com o PZH, é no minimo meio traiçoeiro, não é mesmo?

A discussão é por aí, o sentimento da traição na relação com o PZH é que gerou esta discussão.

Claudio Dode

Contato com o blog Diário Gauche:

cfeil@ymail.com

Arquivo do Diário Gauche

Perfil do blogueiro:

Porto Alegre, RS, Brazil
Sociólogo