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Surf no lixo contemporâneo: a que ponto chegamos! E que mundo deixaremos de herança para Keith Richards?

quinta-feira, 29 de maio de 2008


Príncipe inglês vende casa a corrupto e neto da rainha vende fotografias de casamento à revista sensacionalista

O importante é faturar

Até onde sei, os países de fala inglesa jamais tentaram impor uma ortografia mundial para o inglês, a despeito do fato de que as diferenças entre o inglês nos Estados Unidos e o inglês falado na Inglaterra sejam bem menores do que aquelas que separam o português de Portugal do português brasileiro.

Mesmo assim, certas palavras em inglês podem ter significados bem diferentes nos dois lados do Atlântico.

Tomemos, por exemplo, a palavra "classe", algo que os norte-americanos supostamente não têm, mas os ingleses sim; classe, quero dizer, no velho sentido marxista, de grupos sociais distintos, hierarquicamente organizados.

Em termos gerais, "classe", nos EUA, implica estilo, um atributo pessoal evidente na qualidade do comportamento e do caráter. Mas o que existe de mais estranho no Reino Unido hoje em dia é que falta à família que está acima das classes sociais, a família real dos Windsor, qualquer "classe" no sentido americano do termo.

Dois acontecimentos da semana bastam como prova. Na capela de Saint George, no castelo de Windsor, Peter Phillips, o mais velho dos netos da rainha, se casou com uma canadense chamada Autumn Kelley [foto]. O casal vendeu os direitos fotográficos da cerimônia à revista Hello! por meio milhão de libras. Ian Gibson, que representa os trabalhistas no Parlamento, se queixou: "O povo britânico esperaria que a rainha estivesse acima da posição de tema de reportagem na Hello!. Afinal, ela é a rainha, e não a mulher de um jogador de futebol".

E temos também o caso do príncipe Andrew, o segundo filho da rainha. O príncipe Andrew vendeu sua casa de campo, Sunningdale Park, para um certo Kanes Rakishev, por 15 milhões de libras. Rakishev, 29, é o genro do ex-primeiro-ministro do Cazaquistão, uma antiga república soviética rica em petróleo e gás natural que ocupa a 150ª posição na lista de corrupção da Transparência Internacional (o Brasil ocupa o 72º posto).

O príncipe recebeu 438 mil libras dos contribuintes britânicos no ano passado em seu papel como "embaixador do comércio". Ele certamente comerciou bem com Rakishev, que pagou três milhões de libras acima do preço inicialmente solicitado por Sunningdale Park, uma propriedade que estava à venda havia cinco anos.

Não há classe nenhuma nisso, apenas uma fria transação monetária, que os brasileiros veriam no ato. Os proprietários britânicos de imóveis residenciais cujos valores estão em queda livre decerto adorariam ter um amigo cazaque como esse.

Artigo do historiador britânico Kenneth Maxwell, publicado hoje na Folha.

Um comentário:

Anônimo disse...

Parasitas e decadentes, essa é a família real inglesa.
Um retrato do capitalismo do século XXI. Ambos se merecem.

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