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Surf no lixo contemporâneo: a que ponto chegamos! E que mundo deixaremos de herança para Keith Richards?

quinta-feira, 22 de maio de 2008


Microcontos Guascas

Em 1934, o peão de estância Sizenando Lopes Camargo, conhecido como Camarguito, comprou umas botas de cano longo em Viamão. À noite, na localidade rural de Capão da Porteira, foi ao circo já calçando as novas botas que rangiam alto.

Como achou o ingresso caro, Camarguito ficou no sereno espiando o espetáculo por um furo na lona do circo.

......

O rico fazendeiro maragato e coronel provisório Ambrósio Dutra comprou um Ford modelo T, em 1925. Pediu para entregar o carro direto na sua propriedade em São Sepé, região central do Rio Grande do Sul, tendo o cuidado de mandar que o colocassem na mangueira dos cavalos da fazenda.

- Vá que o bichinho escape de noite – pensou.

........

No dia 9 de janeiro de 1968, o alambrador e domador de cavalos Deoclécio Silveira, ainda de madrugada, apanhou carona com o caminhão do leite, do rincão de Costa do Oveiro para a área urbana de Viamão. Foi direto para uma casa de mulheres, dirigida por uma tal de Ophélia Camino ou Camini. Gastou como 15 cruzeiros novos em conhaque Dreher, cigarros Grenal e dois pastéis de vento. Ao meio-dia pagou a conta e retirou-se embriagado.

Não comeu ninguém.


11 comentários:

Jens disse...

Petiscos deliciosos. Sensacional.

Jens disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Será que estou exagerando ao ver na 'foto tema' deste blog uma estrela fora de seu habitat?! Abraço. (Rodrigo Foscarin Pedroso)

Anônimo disse...

Caro Feil:

Este teu humilde leitor, vem de plano, salientar que no segundo conto nanico há uma incorreção histórica. Não há como o Coronel Ambrósio Dutra ser Maragato e Proviósio ao mesmo tempo. Pois os provisórios (chimangos), na Revolução de 23, eram as forças auxiliares da BM (civis armados), portanto, repisando, Chimangos. Mas vou encarar isto como uma "licenciosidade poética".

Um abraço maragato,
Orson.

Anônimo disse...

Rodrigo, a estrela é o resgate lá do fundo do tempo da memória, do sonho e da esperança. sv

Cristóvão Feil disse...

Tens integral razão, Orson.
Provisório eram os corpos não- profissionais do castilhismo no poder, comumente militantes locais do PRR.
Contudo, a população chamava de "provisório" todo aquele militar que não fosse de carreira, seja da Brigada estadual, seja do Exército nacional.

Está errado? Formalmente, sim, está errado, mas a idéia é dar aos microcontos esse ar guasca, com sotaque popularesco.

Abraço!

CF

Cristóvão Feil disse...

Errata:

Provisórios (no plural).

Cristóvão Feil disse...

Em tempo, Orson, eu sou chimango, castilhista de quatro costados.

Abç.

CF

Anônimo disse...

Um Simões Lopes Neto, repaginado pela modernidade.
Micro-narrativas, com a essência deste RS, suas estórias & seus personagens.
A última do domador de cavalos está demais.
Revitaliza o "mito" do barranqueador, pois de prendas o vivente parecia não fazer muito gosto...(rs)

Ricardo Mainieri

Anônimo disse...

Obrigado por haver respondido a este leitor, Feil. Parabéns pelos microcontos. Por herança, sou Maragato e Federalista.

Um abraço,

Orson.

Anônimo disse...

Muito boas as histórias. Sutis e significativas. Principalmente a primeira e a última.

Abraço.

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