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Surf no lixo contemporâneo: a que ponto chegamos! E que mundo deixaremos de herança para Keith Richards?

sábado, 17 de julho de 2010

A propósito do casamento gay



O casamento, um inferno

"Por que se fazemos coisas iguais queremos obter resultados diferentes?"
Albert Einstein

Lembro-me de Fernando Peña quando propunha uma certa crítica ao casamento gay. Não que ele fosse contra a equidade e os direitos humanos.

Ele propunha que os homossexuais tivessem a possibilidade histórica de fazer outra coisa. Não lhe seduzia, ao genial radialista, copiar o típico modelo burguês de família, mas sim arriscar-se a pensar em algo novo. Os homossexuais não tinham por que pensar no ninhozinho de amor, nos filhos, nos carros ou natais em família. Haviam chegado até aqui com outros propósitos.

Aqueles que defendem o contrato matrimonial para todos, estão propondo um inferno onde se acredita um paraíso. Creio que algo disso aconteceu com certas feministas que só esboçavam uma visão de gênero, quando, na realidade, era preciso pôr em questão o modelo capitalista de produção. De produção econômica e de produção de subjetividade. A partir daí, querer se achar em igualdade de condições com um homem explorado foi praticamente um ato masoquista.

Agora que o império ordena o mundo, segundo suas próprias leis, ele deixa que nos ocupemos de certas coisas: da salvação das baleias, dos direitos das minorias, dos pobres da África, etcetera. Os direitos humanos, assim pensados, não são o fruto de triunfos obreiros, mas sim apenas um resto com o que nos conformamos.

Agora, senhoras e senhores, até podemos nos ocupar de que os gays possam se casar, herdar, adotar filhos, etcetera. Fazer tudo o que todos os heterossexuais fazem, isto é: cumprir com todas as leis que asseguram a reprodução do sistema capitalista.

Por outro lado, observamos que é a Igreja quem mais se queixa dessa novidade que não traz nada de novo. Entendo que a queixa não é pelos homossexuais em si, mas sim porque a Igreja perdeu campo nisso de ser o resguardo moral do Estado.

Se o Estado moderno já não se rege pelos mandamentos da Igreja, se supõe que há Outro que estabelece um limite em nossa ética diária. Como dizia Aristóteles, no caminho para a felicidade. Os que escolhem um parceiro do mesmo sexo para conviver agora gozarão de todos os benefícios que um heterossexual tem nessa sociedade capitalista burguesa; ou seja, poderão obter um atestado que confirma seu contrato econômico.

Artigo do psicólogo Angel Rutigliano, publicado no diário portenho Página/12, em 20/05/2010, e neste blog DG em 22/05/2010. Tradução deste blogueiro. 
Estamos republicando-o a propósito da aprovação nesta semana pelo Congresso argentino do casamento entre pessoas do mesmo sexo, uma grande conquista dos direitos civis na Argentina. Mas, como bem alerta o artigo acima, é preciso não absolutizar essa conquista, porque ela ainda está inscrita no âmbito da reprodução do sistema capitalista, e não representa nenhuma quebra de paradigma histórico ou de ato revolucionário digno de nota.

Charge de Daniel Paz & Rudy

6 comentários:

Cleber disse...

Uma pena a republicação de artigo tão ruim. Pelo menos a charge é boa.

Lucas Jerzy Portela disse...

Perfeito, Feil.

Muito melhor dar o "passo atrás para avançar dois", de François Miterrand: o Pacto Social Civil, francês.

Nele, se extingue o conceito de casamento, e surge o de coabitação.

Isto é: duas ou mais pessoas que morem juntas desfrutam do direito de família - e não precisam transar para isso. Ou amigos que moram juntos não são, na prática, família? Por que três amigos não podem adotar e criar melhor uma criança do que um casal (mono ou bissexuado) com laços afetivo-sexuais?

Anônimo disse...

"Homossexuais do mundo, uni-vos! Não tendes a perder senão os grilhões....!"

"Homossexuais unidos jamais serão vencidos!"

... e o divórcio?... tão burgues e anti-revolucionário...né não?

Flics

Márcio disse...

"(...) até podemos nos ocupar de que os gays possam se casar, herdar, adotar filhos, etcetera".

Troque-se 'gays' por 'escravos' na e tudo certo ainda na frase? O problema do artigo não é "absolutizar" a conquista, mas é se mostrar quase indiferente à magnífica conquista da sociedade argentina.

Carlos Eduardo da Maia disse...

O autor desse texto precisa urgentemente fazer uma psicanálise.

Juarez Prieb disse...

maia voce é freudiano?

não sabia que existia freudiano de direita

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