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Surf no lixo contemporâneo: a que ponto chegamos! E que mundo deixaremos de herança para Keith Richards?

terça-feira, 27 de julho de 2010

Dina Sfat, Nelson Jobim e o interesse econômico dos militares brasucas


A conversa fiada do ministro da Defesa

O ministro da Defesa, Nelson Jobim, disse ontem (26) que há grandes vulnerabilidades nas operações de defesa das Forças Armadas brasileiras. A constatação foi feita durante acompanhamento dos exercícios militares da Operação Atlântico 2, que reúne Marinha, Exército e Aeronáutica desde o último dia 19 na costa brasileira. A informação é da Agência Brasil.

O ministro pediu aos comandantes do exercício que preparem um relatório completo sobre as principais deficiências dos militares. “Nossas vulnerabilidades são grandes. Nós não podemos ter operações noturnas, por exemplo. Não temos mísseis antisubmarinos que possam ser lançados de aviões. Há uma série de coisas”, disse o ministro, no Rio de Janeiro.

A Atlântico 2, que reúne 10 mil militares e se encerra no próximo dia 30, é uma das operações conjuntas rotineiras que as Forças Armadas fazem para preparar o emprego do Exército, da Marinha e Aeronáutica em caso de ameaças externas. Entre os exercícios realizados está a defesa de instalações estratégicas, como o Complexo Nuclear de Angra dos Reis.

Ainda durante a visita ao Rio de Janeiro, o ministro disse que conversará nesta semana com o presidente Luiz Inácio Lula da Lula sobre o programa de renovação da frota de caças da Força Aérea Brasileira (FAB), o chamado F-X2. Três tipos de aviões disputam a concorrência da FAB: o francês Rafale, o sueco Gripen NG e o americano F-18 Hornet.

Até o momento, o governo não anunciou o resultado da disputa. A Aeronáutica acredita que o anúncio da escolha só será feito depois das eleições de outubro.

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Ainda durante a ditadura civil-militar, já na fase de distensão, a grande atriz Dina Sfat (foto) mostrou que era uma mulher politizada e corajosa. Ela participava de um programa de televisão como entrevistadora convidada, o entrevistado era um general de peito arfante de patriotismo e boçalidade. Todos puxavam o saco do entrevistado. De tudo que ele falava, a metade era lorota e a outra metade façanhas a la Barão de Münchausen. A folhas tantas, Dina mira o militar e dispara certeiro: "General, em quantas guerras mesmo, no duro, o senhor lutou?" Não obteve resposta, por óbvio, ouviram-se alguns pigarros evasivos e logo foram chamados os comerciais da emissora.

Notem, pois, que a instituição militar em pleno século 21 é um anacronismo absoluto, por que sustentada em conceitos de defesa e segurança nacional completamente superados. Do que nos defendem os militares brasileiros? No duro, como dizia Dina, o que faz essa gente, além de parasitar os cofres públicos? Que contribuição eles dão ao povo e às instituições republicanas brasileiras? Foram instrumento de um golpe civil contra a errante democracia liberal de 1964, ficaram 21 anos no poder, cometeram desmandos, tropelias, crimes, sairam pela condição excrescente que representavam e até hoje não fizeram autocrítica alguma.

Paralelo ao governo arbitrário pelo qual foram responsáveis, setores militares desenvolveram um franco interesse econômico que hoje prospera e soube se fazer player no contexto mundial dos complexos industrial-militares. É disso que trata a manifestação de Nelson Jobim. O ministro está expressando e sendo porta-voz destes interesses econômicos, sempre travestidos da retórica mofada do patriotismo, defesa nacional, Brasil grande potência, interesses estratégicos, blablablablablá.

"Não podemos ter operações noturnas", reclama o ministro Jobim. Ah, que horror, que catástrofe!

Como se estivéssemos à beira de uma convulsão internacional e na iminência de sermos invadidos por exércitos estrangeiros. Ora, essa invasão já acontece, só não tem caráter bélico-militarista tout court. Ela ocorre por via do capital financeiro, através de dívidas e captura de agentes econômicos e cadeias produtivas inteiras. Um exemplo nítido é o agronegócio, todo ele colonizado pelos interesses dos manipuladores de sementes e grãos, dos insumos químicos, da indústria alimentícia, cujos controles em última instância estão nas mãos dos grandes bancos internacionais. Contra esse "inimigo" plenamente internalizado (e com ministério na Esplanada), que armas dispõe o nosso patriótico ministro da Defesa?

Portanto, essa conversa fiada de Nelson Jobim, no fundo e no raso, é pura ideologia, uma manipulação grosseira de conceitos atrasados, obsoletos, que procuram conectar a noção de "forças armadas" com a noção (canalha, segundo Samuel Johnson) de "patriotismo".

É atualíssimo, então, o repto de Dina Sfat. Apenas devemos modificar a conjugação do verbo lutar, agora no futuro do presente:

- Generais, em quantas guerras os senhores ainda lutarão?

Fotografia: Antonio Guerreiro.

11 comentários:

Clovis Horst Lindner disse...

Estamos esperando que esse exército mofado e inútil pelo menos faça alguma coisa importante para proteger a nossa floresta. Enquanto eles buscam falsos inimigos das FARC eventualmente escondidos na nossa floresta, em plena luz do dia lotam navios de madeira preciosa todos os santos dias e a mofalhada verde não consegue botar sequer um canalha desses na cadeia. Para que armas para a noite, se eles nem enxergam o que acontece à luz do dia???

Remindo disse...

Não guerrearam, mas mataram e torturaram brasileiros.

cazé disse...

Excelente texto, Feil. Parabéns. Alguém tem que dizer essas verdades. Os milicos brasileiros são uma piada que nos custam muito caro.

lucino santana disse...

Olá Amigo(a)!

Sou do interior da bahia, fiz esse jingle
pra companheira Dilma, agora tenho que divulgar
pra ver se chega até ela!

por favor escute ai... e me ajude ai!

foi publicado nesse blog aqui.

http://www.participabr.com.br/noticias/entry/na-boca-do-povo/

Publique ai no seu blog tambem! pra ver se chega na companheira!


obrigado!

(77) 9929 1348 (77) 9129 1651

rafael disse...

Só pra constar: o tal do Jobim é ministro da defesa de qual governo mesmo? Quem o nomeou e o manteve até agora?
Este é o tal do "lulismo de resultados" do qual vc tanto fala, o mesmo que se recusou a mexer no vespeiro da ditadura. Puro cagaço!
E alguns ainda acreditam que este é um governo progressista...

Azarias disse...

Em pleno governo FHC, um submarino de nossa(?) Marinha de Guerra(?) afundou em porto do Rio de Janeiro. Estava sendo vigiado por empresa de segurança terceirizada.
Com este negócio de Estado Minimo, nossas fronteiras secas e molhadas (nada com o Ney Matogrosso) estão a ver navios(?).

Carlos Eduardo da Maia disse...

Vamos, pois, então, lutar contra o mercado contra o monopólio, os oligopólios, contra a plena concorrência. Isso é discurso simplório e arcaico e repleto de paranóia. Os nossos inimigos não são os mercados, mas exatamente aqueles que, por ideologias caducas, querem reduzir ou eliminar os mercados (que não são deuses) e a necessária concorrência. Esses são os inimigos que devem ser combatidos, mas com a arma do voto. E Dina Sfat era realmente muito corajosa. Grande Dina.

Anônimo disse...

Olha o mala do da maia aí! Continua enchendo o saco com suas ideologias caducas e suas idéias arcaicas repletas de paranóias(contra a guerrilheira malvada por exemplo). É um discurso repleto de contradições, deve estar desesperado pois vê seu CC ser ameaçado com derrota fragorosa dos "liberais" nas próximas eleiçoes, tanto aqui no sul com a expulsão da quadrilha do piratini como em nível nacional com a vitória da Dilma( que tem, dentre tantos méritos, o fato de ser da escola desenvolvimentista e não ser nem nunca ter sido petista,embora filiada a esse partido).A religião de livre mercado do da maia e outros já foi abandonada há uns oitenta anos nos países industrializados pois levou a crises gravíssimas, convulsões sociais,revoluçoes, guerras civis, duas grandes guerras mundiais e milhões de mortos na conta da tirania do livre mercado,que matou muito mais que qualquer ditadura. São a favor do livre mercado só quando os favorece. Quando aparecem as dificuldades correm para o socorro estatal e/ou os braços de tiranos como hitler ou perseguiçoes fascistas como no macartismo. E depois de 2008 só mesmo babacas colonizados ainda acreditam no discurso neoliberal.Ah! tu não deve conhecer a trajetória de Dina Sfat (que era "stalinista" pra quem não sabe) ô da maia, ela era o oposto de tudo o que essa ideologia anti-democratica de "livre mercado=dawinismo social" representa.

Renan disse...

Excelente o texto. Foi o que eu sempre pensei sobre os militares mas não tinha coragem de dizer, ainda mais por ter vários na minha família.

Marcelo Eichler disse...

Feil,

é um pouco de ingenuidade e uma certa bobagem esta tua manifestação, a Suíça, por exemplo, não participa de guerras a uns 400 anos e tem um grande orçamento militar.

Sds,
Eichler

claudia cardoso disse...

Precisaremos defender o pré-sal, evidentemente. Brasil tem minérios [foi o segundo país em extração mineral em 2009], água potável e petróleo. Mas, ao que parece, o sr. Jobim é lobbysta de alguma indústria de armamento... Precisaria de um exercício militar para dar-se conta de possíveis falhas de segurança? Claro que não! Aí tem coisa... Quem sabe, seja outro Ministério para atender interesses econômicos estrangeiros...

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