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Surf no lixo contemporâneo: a que ponto chegamos! E que mundo deixaremos de herança para Keith Richards?

quinta-feira, 29 de julho de 2010

O perigoso desespero de José Serra


Um cenário improvável, mas não descartável

José Serra a rigor nunca foi um sujeito de esquerda. Pertenceu aos quadros da esquerda católica, a chamada Ação Popular, nos idos de 1964, e mesmo depois do golpe. Mas isso não significa muita coisa, ou melhor, não garante nem é razão suficiente para configurar uma identidade de esquerda ao ex-presidente da UNE. Saiu do País, não porque estivesse sendo perseguido pela ditadura, Serra, diga-se de passagem, nunca levou nem peteleco na orelha da repressão policial-militar. Foi para o Chile para estudar, coisa que também não fez de forma completa, e para acompanhar alguns amigos que ficaram indispostos com os gorilas, aqui, um deles foi o professor Cardoso, com relações na Cepal e junto a ambientes acadêmicos. Serra simplesmente foi na carona de seus amigos influentes.

Portanto, se engana Marco Aurélio Garcia que na Folha de hoje diz que Serra (na foto acima, com o ex-governador Arruda, afastado por corrupção no DF) foi um militante de esquerda, ao lamentar que ele - Serra - encerre de "forma tão melancólica a sua carreira pública". Ter passado meteoricamente por organizações com aroma de esquerda, como a AP, convenhamos, não faz deste transeunte passageiro um convicto militante da "filosofia da praxis", como dizia Antonio Gramsci. Nem todo o sujeito que cheira a peixe é necessariamente um pescador profissional, pode tratar-se tão-somente, de alguém que tenha aversão ao banho, por exemplo.

Na presente campanha eleitoral, o candidato da direita tenta dar alguma coerência ao discurso passadista que escolheu. Mas o resultado é patético. Nos últimos dias, Serra tem apelado para o baú de 1964, revivendo consignas contra o sindicalismo, contra o peleguismo, contra o comunismo e só falta convocar - como o velho padre católico/agente da CIA, Patrick Peyton - uma cruzada do rosário em família. Os argentinos tem uma expressão para descrever a atual retórica serrista: discurso gorila. Serra, assim, se presta ao papel de vivandeira tardia (mulheres que no século 19 acompanhavam as tropas militares nas campanhas bélicas dispensando-lhes toda a sorte de serviços ambulantes), em pleno século 21, mesmo sabendo que os militares brasileiros, hoje, estão mais para tigres de papel do que gorilas sequiosos de poder, como em 64.

Desta forma, face ao desastre anunciado com esse parelheiro da direita, não se descartaria o seguinte cenário, mesmo que remoto: Serra renuncia à candidatura, provocando uma comoção nos salões de tapetes puídos do PIG, jogando na imponderável aventura dos agentes provocadores, ao estilo doutora Sandra Cureau. A intenção óbvia seria a de deslegitimar a vitória da candidata lulista, descortinando cenários improváveis e temerários, numa espécie de reedição do janismo tresloucado de 25 de agosto de 1961.

Repito que se trata apenas de uma cenário remoto, mas que não deve ser descartado por aqueles que conhecem um pouco da história brasileira.

Uma coisa é certa: todo o desesperado - qual Serra - quer socializar a sua desesperança a toda a gente.

Coisas da vida.

12 comentários:

Luís disse...

Baixarias eram esperadas nesta campanha, mais do que nunca, e ninguém esperava que VEJA ou FOLHA baixassem o seu tom político-engajado característico, mas o tom escancaradamente anti-comunista assumido pela campanha serrista visa plantar para o futuro, não tenho dúvida alguma, além de não terem nada a perder pois já enxergaram o que tentavam desesperadamente evitar: a vitória de Dilma.

Já que figuras como Ônix Lorenzoni ou Magalhães Neto não bastam, pois não ganham eleição (Yeda foi a exceção do RGS-siri), faz tempo que Serra e o seu PSDB se entregaram de vez à direita para serem a sua representação política renovada, os gestores "modernos" do capitalismo. Se o PSDB é fraco no RGS é porque o PMDB já cumpre esse papel de "modernização" frente à classe-média gaúcha, majoritariamente conservadora, falsa-moralista e imediatista como toda "boa classe-média".
Alguns setores de esquerda demoraram a entender isto... eu esperava não haver mais dúvida, mas conciliadores-mor são conciliadores eternos, afinal.

Carlos Eduardo da Maia disse...

Uma dos assuntos mais superados é a divisão ideológica entre direita e esquerda. O governo Lula que o diga. A europa que o diga. Mas certa esquerda - que se perdeu na linha do tempo -- ainda insiste na velha e arcaica discussão. O que interessa hoje se Serra foi ou não de esquerda? Política é momento, é o agora. Praticamente não existe diferença "ideológica" entre Dilma e Serra. A diferença momentânea seria as alianças que Dilma continuaria a fazer com a dinastia Castro, o fascista do Ahmadinejad e o troglodita do Chávez. Serra se alinharia mais aos americanos e aos países europeus. Mas como mais de 50% dos eleitores brasileiros são semi analfabetos, como divulgou recentemente o TSE, essa discussão menos superficial cai no vazio. O que efetivamente importa é quanto o futuro governo vai dar de bolsa esmola.

Jbmartins-Contra o Golpe disse...

Achei uma materia legalç que apresenta o Sr Roberto Freire, olhe aqui http://amoralnato.blogspot.com/2010/07/vida-e-obra-de-roberto-freire.html será que tem por ai um roteiro real da vida politica do Sr Ze Zerra Abaixo????

Ataliba disse...

Maia!! quantos pedágios o SERRA deixou para os Paulistas pagar no dia a dia ? A maior exploração deste século !!! E você o que é!??#*!! O RISCO PAÍS NO GOVERNO DO PSDB 2.000!! SEM MORAL !!

Anônimo disse...

Sr. Maia é um reacionário dos mais tarimbados. Não tem mais esquerda e direita?Não existe diferença ideológica entre Dilma e Serra?Ora que visão anacrônica. O problema do sr. Maia é que não tem coragem de se assumir como direita, ou seja, apoiador das guerras por petróleo, das ditaduras militares, do apartheid social. É um ser que perambula pelo vácuo, detonando os avanços do Governo Lula, que aliás é de centro-esquerda. Sr Maia por ser covarde e provocador, o sr não passa de um medíocre agente do "quanto pior melhor".

Anônimo disse...

Acho que o espirito "janio" baixou foi no blogueiro mesmo.

Vão perder - a direita,digo - e vão perder feio. Vão espernear e bastante... depois vão ser articular - tá cheio de maias por ai - novamente em uma nova oposicão. Só isso... sem fantasmas.

Anônimo disse...

Não sei com quem o Serra faria alianças internacionais, mas o FH nunca fez com europeus, pelo contrário, todas as vezes que eles enfrentaram os Estados Unidos, o PSDB ficou do lado destes. Mas o Serra provavelmente teria atrelado sua economia à Alca, à economia norte-americana, e nós teríamos quebrado em 2008, como aconteceu com o México. Mas o Serra também apoiaria as invasões ilegais de países, as ditaduras sustentadas pelos Estados Unidos mundo afora, o governo nuclear-fascita e colonialista de Israel, e não faria nenhum esforço para a abertura de Cuba nem da negociação com o Irã.

Uma dos assuntos mais superados é esse de que não há mais ideologia. Ah, e esse bordão babaca de 'certa esquerda', nem se fala...

Anônimo disse...

a quadrilha demo-tucanalha tá desesperada, e já recrutaram certas procuradorazinhas (em busca de 15 minutos de fama) e deputadozinhos obscuros, medíocres e de má-fama para fazer o trabalho sujo.
mas não adianta, vão levar de relho!!!

Hermes Vargas dos Santos disse...

Então não existe mais a divisão entre esquerda e direita, e seus segmentos adjuntos - centro, centro-esquerda e centro-direita! Alguém poderia me informar em que ano foi publicado essa lei, que eliminou tais categorias políticas? Estou um pouco atrapalhado quanto à minha atual condição doutrinária, ideológica, pois não sei mais onde estou posicionado. Afinal, se não posso estar à esquerda, ao centro ou à direita, onde estou? Há alguma regulamentação a respeito disso, um decreto, detalhando como é que a gente se localiza de agora em diante? Por favor, ajudem!

Azarias disse...

Taí, rapaz! Uma coisa que não tinha pensado. Já pensou Serra renunciar à candidatura? Já pensou a turma do "Cansei", "Millenium(?)" e os fardados de Jobim, os paladinos do mercado financeiro, como o Sr. Dantas e o paladino da justiça, Sr. Gilmar, sairem em passeata, pela Paulista ou na Candelária, a favôr do retorno à Ditabranda?
Não citando a Regina Duarte, que têm uma fazenda em reserva indigena e agora sonha todas as noites com John Wayne vindo salvá-la.(Sabe ela que o lenço dele era côr-de-rosa?)

Anônimo disse...

Pior é o que acreditam que realmente são de esquerda e se vendem tal qual os mesaleiros o fizeram. É o esquerdista que se transforma em burgues do capital alheio.

Anônimo disse...

Esse texto vai contra fatos históricos registrados. Tenta rescrever a história. José Serra foi condenado à prisão pela ditadura, naqueles processos sumários tipicos da época, em que em três dias o acusado estava julgado ou condenado. Se mandou pro Chile porque ia em cana nas próximas horas após a condenação. Isso é fato histórico, não opinião. No Chile, ajudou Marco Aurélio Garcia a escapar da morte, arranjando lugar para ele em uma das embaixadas que recebiam "refugiados". Enfim, pode-se gostar ou não de Serra. Mas reescrever a história, daí é muito stalinismo minha gente.

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