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quinta-feira, 22 de julho de 2010

Cultura contra a impunidade



Depois de 33 anos, a Espanha não quer o esquecimento

Pedro Almodóvar, Javier Bardem, Maribel Verdú entre outros artistas conhecidos da Espanha aparecem neste vídeo interpretando 15 vítimas do franco-fascismo espanhol, que tem por finalidade reivindicar a justiça e uma autêntica política pública em matéria de memória histórica. [Algo que no Brasil, também não temos, ainda.]

Durante a ditadura de Franco, desapareceram cerca de 113 mil pessoas. A campanha - contra a impunidade e pela conciliação com a memória - foi deflagrada na Espanha no último mês de junho, há menos de um mês.

A redemocratização formal da Espanha aconteceu em 1977. No entanto, passados 33 anos, a questão dos desaparecidos ainda permanece como uma ferida aberta na memória dos espanhóis. São mais de 100 mil famílias que clamam por justiça.

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O franquismo ultradireitista e ultramontano se abateu sobre a Espanha de 1939 até 1976. Francisco Franco emergiu vitorioso da guerra civil e governou até a sua morte em 1975.

A Guerra Civil Espanhola deixou mais ou menos 1 milhão de mortos. De certa forma, ela serviu de demonstração do poder bélico que a Itália e a Alemanha vinham armazenando para a Segunda Guerra Mundial.

Terminada a Guerra Civil Espanhola com a vitória dos autodenominados nacionalistas ou Movimiento Nacional, Franco passou a ser o chefe de Estado, proclamando-se "Caudilho de Espanha pela graça de Deus". Vergonhosamente, a Inglaterra e a França foram os primeiros países a reconhecer a legalidade do novo regime espanhol, legitimando o fascismo, antes mesmo da eclosão da Segunda Guerra.

Internamente, o regime praticou uma política econômica autárquica que freou o desenvolvimento do país e o conduziu por um longo período de trevas e repressão.

Joseph Stalin foi um dos responsáveis diretos pela derrota republicana - uma grande aliança de partidos e organizações de esquerda - na guerra civil espanhola. Taticamente não interessava à URSS, enfraquecida economicamente e com graves debilidades políticas internas (uma delas se denominava "o problema Trotski e os veteranos de 1917"), que na Espanha vencesse a unidade popular-republicana.

Agentes stalinistas do Komintern sabotaram a luta republicana na península, assassinaram lideranças importantes da frente popular, fortalecendo indiretamente o nazifascismo (sem falar no pacto assinado com Hitler, em agosto de 1939), com os resultados tragicamente conhecidos.

5 comentários:

Carlos Eduardo da Maia disse...

O grande Almodovar sempre faz questão de destacar em seus filmes que a Espanha de hoje conseguiu superar os traumas e as divisões do passado. Isso está muito claro, por exemplo, no filme "Carne Trêmula".

Anônimo disse...

Claro, o almodovar acha qe tudo isso é passado e assim deve continuar, por isso ele está muito engajado na campanha pea apuração da tortura e o que na Espanha se chama de 'memória histórica', ou seja, não se esquecer de quem fez o quê, quem matou, quem ditou no país por décadas e, principalmente, quem hoje em dia defende qual dos lados.
Deve ser por isso. Ou eu não entendi nada.

Anônimo disse...

Mas é verdade que na Espanha alguns traumas foram 'tratados' e por isso estão superados (não esquecidos). Por exemplo, por lei, não pode haver símbolos do fascismo e da ditadura, com nomes de ditadores, como avenidas chamadas Castello Branco e ginásios estudantis com nome de Emilio Médici, muito menos ruas Sérgio Paranhos Fleury, como há em São Paulo. Mas ainda há muito o que fazer, por isso a campanha em que está engajado o grande Almodovar.
Lutemos também no Brasil contra o esquecimento histórico (aliás, é por isso que há campanha de formato idêntico aqui, com artists etc - alguém sabe qual é a relação da duas?)

Paulo disse...

O problema na Espanha é bem mais complexo. Até hoje a bandeira oficial , chamada de "rojigualda" representa o franquismo. A própria monarquia foi uma imposição dos fascistas para aceitar o processo de democratização não concluído pois ainda mantém povos como os bascos sob estado de excessão e os cárceres com mais de 850 presos políticos. A reivindicação de uma República Federada ainda permanece como uma das lutas da esquerda.

Jordi disse...

Paulo, no geral, o que dizes é verdade, mas a maior parte "da esquerda" espanhola teria dúvidas sobre esse conceito de que os bascos estão "sob estado de exceção".

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