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quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Os limites do mundo do trabalho

O último capitalismo exige uma "noção ampliada do trabalho", conforme sugere Ricardo Antunes. Noção essa que vai borrar ainda mais os limites fronteiriços das subclasses do mundo do trabalho, bem como de todo o espectro social resultante dessa última (mas não derradeira) divisão social do trabalho. Desta maneira, o conceito tradicional de classes, se já era um cobertor curto; hoje, precisa ser reinventado para que acompanhe a complexidade, cada vez mais alargada, da divisão social do trabalho, bem como as múltiplas formas de trabalho que contribuem para o valor das mercadorias, sem esquecer, a subordinação progressiva de parcelas crescentes da vida social à lógica da lei do valor.

Uma noção ampliada do trabalho implica uma noção ampliada da alienação do trabalho e uma conseqüente noção ampliada da ideologia no imaginário social da nossa época. O conceito de classe, por ser uma noção dinâmica, deve considerar a nova ordem ampliada dos problemas do trabalho, da alienação, da ideologia e suas mútuas interpenetrações; bem como a luta de classes, que é o movimento vivo dessas contradições da realidade objetiva e subjetiva dos indivíduos.

Marx, que morreu antes de terminar o capítulo 52 de O Capital, o capítulo das classes sociais, no afã de explicar a totalidade do modo de produção capitalista, simplificou e esquematizou o fenômeno das classes em dois sujeitos principais; embora sempre tenha reconhecido que "camadas intermediárias e transitórias obscurecem os limites das classes". E polemizando com Malthus, no capítulo 19 de O Capital, reconheceu que "o proletariado trabalhador forme uma proporção constantemente diminuída do total da população (mesmo se ela crescer em números absolutos); esta é, de fato, a tendência da sociedade burguesa".

O que Marx preconizava como tendência, transformou-se em realidade, na sociedade burguesa contemporânea.

A razão iluminista vê agora uma chance de realização completa de sua aspiração revolucionária, e cavalgando a ciência, tecnologiza todo o processo produtivo, se autotransformando em razão instrumental, conforme foi apontado pelo pessoal da Escola de Frankfurt.

A racionalidade fordista e os cálculos científicos do engenheiro Taylor, desde pelo menos a década de 80, já esgotaram o seu contributo à modernidade. O fordismo, a partir da década de 20, mais fortemente depois da Segunda Guerra, já vinha reduzindo drasticamente o trabalho vivo na produção; ele funda o grande consumo de massa, operando em economia de escala que barateava custos e propiciava preços vantajosos para os novíssimos consumidores. O fordismo é um fenômeno fabril, que se originou na indústria de automóveis, tendo uma incidência privilegiada na produção, mas já com repercussões na distribuição: uma racionalidade que "iluminava" muito além das fábricas e dos automóveis.

Depois do fordismo, o mundo do trabalho, ao contrário de extinguir-se, torna-se complexo e quase insondável, por que submetendo invisivelmente setores outros a sua condição de existencia; existencia esta, cada vez mais subordinada à lógica inexorável da mercadoria.

Essa dificuldade de conhecer os limites do mundo do trabalho é próprio da fragmentária multidivisão social do trabalho animado pela constante incorporação de novas tecnologias e as conseqüentes necessidades (urgentíssimas) de realização do valor.

Ilustração do pintor norte-americano Norman Rockwell (1894-1978) que foi, digamos assim, o retratista mais saliente do fenômeno fordista e da nascente sociedade de consumo dos EUA. Acima, um desempregado pela crise de 29.


8 comentários:

Anônimo disse...

Aqui o nosso trabalhador, por exemplo os dos canaviais e de soja, são reduzidos a músculos, a simples energia, ou no dizer de Marx, à não-identidade do trabalho abstrato, ao "quantum nele contido da substância constituidora do valor".

Anônimo disse...

Sem esquecer as formas modernas na indústria, trazidas pela Toyota, que deu no chamado KAROSHI, forma elevada de estresse dos trabalhadores.

Carlos Eduardo da Maia disse...

O fim da era do fordismo e a passagem para a flexibilização do Toyotismo é uma das causas da derrocada do socialismo real e, também, da crise de identidade de uma esquerda que não consegue compreender a complexidade e a pluralidade do mundo que estamos embutidos. E não consegue entender exatamente porque está presa e engessada a um software, a um programa, a um dogma ultrapassado. Marx que foi um excelente crítico do capitalismo, mas um péssimo conselheiro volta sempre e explica o capitalismo de nossos dias. Mas o que sabe Marx sobre o toyotismo? O que sabe Marx sobre o mundo da velocidade da informação, da flexibilização, das alternativas e opções, dos fluxos e refluxos, das tribos que vivem nas cidades modernas e sobre a imensa classe média que tomou conta da Europa e está ocupando o espaço da cidade moderna? Esses fenômenos modernos, Freud explica, mas Marx não explica.

Anônimo disse...

Maia, qual a tua tribo?

Sem brincadeira, critica construtiva. Feil tu estas postando demais e o conteúdo não é simples, para quem trabalha (aqui excluo o Maia) ta dificil de acompanhar.

Carlos Eduardo da Maia disse...

Eu faço parte de diversas tribos. E tu?

Anônimo disse...

Seria da tribo nipônica CANSEI?

Anônimo disse...

A tribo do Maia não seria CC Prefeitura de Porto alegre?

Anônimo disse...

Eu acho que é a tribo dos filinhos de papai do Leblon

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