Você está entrando no Diário Gauche, um blog com as janelas abertas para o mar de incertezas do século 21.

Surf no lixo contemporâneo: a que ponto chegamos! E que mundo deixaremos de herança para Keith Richards?

domingo, 19 de agosto de 2007


Vocês e nós

Vocês quando amam
Exigem bem-estar
Uma cama de cedro
E um colchão especial
Nós quando amamos
É fácil de ajeitar
Com lençóis que bom
Sem lençóis dá no mesmo

Vocês quando amam
Calculam interesses
E quando se desamam
Calculam outra vez,
Nós quando amamos
É como renascer
E se nos desamamos
Não ficamos nada bem

Vocês quando amam
São de outra magnitude
Há fotos fofocas imprensa
E o amor é um boom,
Nós quando amamos
É um amor comum
Tão singelo e tão delicioso
Como ter saúde

Vocês quando amam
Consultam o relógio
Porque o tempo que perdem
Vale meio milhão,
Nós quando amamos
Sem pressa e com fervor
Gozamos e sai
Barata a função

Vocês quando amam
Ao analista vão
Ele é quem avalia
Se o fizeram bem ou mal,
Nós quando amamos
Sem nenhuma afobação
O subconsciente faceiro
Só fica a desfrutar

Vocês quando amam
Exigem bem-estar
Uma cama de cedro
E um colchão especial,
Nós quando amamos
É facil de ajeitar
Com lençóis que bom
Sem lençóis dá no mesmo

Mario Benedetti

Uma modesta homenagem deste blog a todos e a todas que não se cansam de lutar por um País republicano, democrático e participativo – sem parasitas entediados.

Ilustração: Guto Lacaz

Um comentário:

Anônimo disse...

Lindo! Obrigada pela parte que me toca, Feil, mas nós os pobres, estamos no meio dessa guerra, nunca fora dela e a luta política é o último instrumento que nos restou, para irmos construindo meios mais justos de sobrevivência, em sociedade injusta e desigual. Tem uma letra de música que eu gosto muito e cito sempre, porque está sempre na ponta da língua, pra esses que eu sei, são das tucanarias demonistas(sempre cansadas e golpistas e nunca democratas ), hoje no Brasil 2007.

Diz assim:
"Meus senhores hoje eu lavo copos
Faço as camas de todo mundo
Me atiram um micho tostão e eu logo agradeço,
Limpo a mão no avental mas eu sei:
Que um dia eu vou sair daqui.

Certa noite um grito vai se ouvir
E vocês vão perguntar: "Quem foi que gritou no cais?"
Vão me ver lavando os copos e sorrindo.
Vão perguntar: "Por que é que ela sorri?"

Um navio de piratas
Com cinqüenta canhões
Aporta no cais.

Vocês vão me dizer, lave os copos menina,
E um tostão vão me atirar;
Vou guardar o dinheiro, suas camas arrumar, mas eu sei
Que nelas ninguém nunca mais vai se deitar
Só eu sei o que vai se passar

Nesta noite um estrondo vai se ouvir
e vocês vão perguntar: "O que aconteceu no cais?"
Da janela estarei tudo espiando
Vão perguntar:"O que faz ela ali?"

Um navio de piratas
Com cinqüenta canhões
Tudo vai bombardear

A alegria de suas caras vai desaparecer
Porque tudo irá pelos ares
E quando a cidade estiver toda arrasada,
Restará de pé apenas este mísero hotel
"Quem será que da tragédia escapou?"

E durante a noite vão berrar,
Perguntando sem parar: "Quem será que vive ali?"
De manhã, então, eu abrirei a porta.
Vão perguntar: "Quem é esta mulher?"

Um navio de piratas
Com cinqüenta canhões
As velas enfunará

No final da manhã, cem piratas desembarcam
Em silêncio vão avançando
E um por um de vocês eles vão acorrentar
E aos meus pés atirar, para depois me perguntar:
"Quem é que você quer que matemos?"

Haverá silêncio em todo o cais,
Quando ele me perguntar:"Quem é que deve morrer?"
Minha voz então será ouvida: TODOS!
E quando as cabeças rolarem eu direi: Oba!

Um navio de piratas
Com cinqüenta canhões
Pra bem longe vai me levar"

Aposto que muitos aqui conhecem essa letram não é vero??? É da Ópera dos Três Vinténs de Brecht. É a canção cantada pela personagem Polly, no dia de seu casamento, às escondidas dos pais, com Mac Navalha.

Valeu!

Contato com o blog Diário Gauche:

cfeil@ymail.com

Arquivo do Diário Gauche

Perfil do blogueiro:

Porto Alegre, RS, Brazil
Sociólogo