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quarta-feira, 22 de agosto de 2007


O velho debate sobre a lei do valor

Em Cuba, por iniciativa de Ernesto Che Guevara (foto), quando ministro do novo governo revolucionário, no período de 1963-64, foi feito um debate sobre o tema da lei do valor, de Marx.

Foram chamados Ernest Mandel e Charles Bettelheim para contribuir no debate, que pelo lado cubano, contava com o próprio Che e o comandante Alberto Mora. Houve uma divisão: Che e Mandel de um lado; e Bettelheim e Mora, de outro. Para estes a lei do valor é uma "lei objetiva" que não desaparecerá senão no comunismo; e para Che e Mandel a lei do valor pode sim ser abolida progressivamente já na transição socialista, pela "intervenção consciente dos homens", ou seja, pela práxis política verdadeiramente revolucionária.

Esse debate nunca foi realizado na URSS stalinista porque o "corifeu do marxismo-leninismo" entendia que o marxismo concebe as leis da ciência como leis da natureza, como reflexos de processos objetivos que se operam independentemente da vontade humana: "essas leis [escreveu Stalin], podemos descobrí-las, conhecê-las, estudá-las, levá-las em consideração por suas ações, explorá-las no interesse da sociedade, mas não podemos modificá-las ou abolí-las".

Como diz Michel Löwy, do qual extraímos esse relato, Stálin "identifica pura e simplesmente a ciência natural e a economia política, as leis da natureza e as leis econômicas historicamente determinadas; quer dizer, ele [Stálin] volta de Marx à economia política clássica". É, pois, pré-marxista. Por sua vez, Che Guevara continuou sempre convicto da superação dos pressupostos da lei do valor até bem depois de deixar as tarefas do governo revolucionário. Mas sempre foi atormentado pela lei do valor, assim como Lênin, quando viu a necessidade de instauração da NEP. A "NEP cubana", se se pode dizer assim, chamou-se Sistema Presupuestário de Financiamiento.

17 comentários:

Anônimo disse...

O estalinismo, e não simplesmente Stalin, pois era orientação dos partidos comunistas, erraram pelo apego ao mecanicismo puro e simples, deixando de lado a dialética e todas as outras circunstâncias.

Faço esse apontamento, porque quando se fala em Stalin, demonstramos um baita voluntarismo, tão pernicioso quanto o do mecanicismo, pois é aceitar que Stalin, fez ou deixou de fazer porque simplesmente queria. É preciso considerar todo o processo histórico envolvido. Como disse outro dia o Feil, Lenin foi inúmeras vezes derrotado no CC, e Stalin se deu bem porque sempre interpretou a vontade média do Politpuro, por oportunismo ou não.

O mesmo vale para nossas análises sobre Lula. A maioria delas, por voluntarismo, entende que ele faz e deixa de fazer porque quer, por simples dilentantismo, esquecendo todos as circunstâncias envolvidas. Não se trata de defesa de Lula, pois, pelo contrário, acho que seu governo está com problema no "manete" (uma parte quer avançar, outra freia delirantemente) , principalmente, na parte econômica.

Carlos Eduardo da Maia disse...

Fidel tirou Che do Banco Nacional (Bacen Cubano) de Cuba, nos primeiros anos da revolução, exatamente porque ele resolveu aplicar a "lei do valor". O resultado foi catastrófico e Che foi retirado por Fidel para fazer o que ele realmente gostava, fazer revoluções pelo mundo afora.
A extinta URSS tinha, no início da década de 80, praticamente toda sua economia estatizada. E quem fixava as diretrizes econômicas e macroeconômicas era o Conselho de Estatais , controlado pelo Partido Comunista. As regras econômicas, lei de oferta e procura etc., a "discutível" ciência econômica não era aplicada à risca pelo Conselho que fixava as diretrizes econômicas de acordo com vontade política e ideológica. Resultado, a URSS foi para o beleléu. Como sempre acontece no socialismo real, o desabastecimento era corrente e o mercado monopolizado estatal implantado pela URSS não conseguiu segurar a onda do Revolução Científico Tecnológica (RCT). Finalmente, o povo unido que jamais será vencido carente de opção econômica e política derrubou o tirano governo da burocracia do estatismo. E tem gente que defende o mesmo regime que nunca dá certo. E por que, afinal, não dá certo?

Carlos Eduardo da Maia disse...

Interessante livro que trata sobre os motivos, sobretudo econômicos, da derrotada do império soviético é do professor Angelo Segrillo (A derrocada do império soviético) editado pela Record.Outro ponto importante é que a URSS não conseguiu passar do rígido modo de produção fordista para a flexibilização do toyotismo. Diz ele numa entrevista exatamente sobre este assunto: "porque os princípios da especialização flexível eram muito diferentes, exigiam fluxos mais horizontais de informações e comando, descentralização. Isto começou a bater de frente com princípios do próprio sistema político soviético extremamente vertical e autoritário, e eles não conseguiram se adaptar a isso."

Anônimo disse...

Essa informação de que Fidel tirou o "Che" do Banco Nacional por causa da "lei do valor", v. a obteve de coxia, bastidores da história, ou veio diretamente da CIA?

Carlos Eduardo da Maia disse...

Das biografias de Che: Jon Lee Anderson e Jorge Castañeda.

Anônimo disse...

Li as duas e não me lembro dessa notícia, pelo menos com a intensidade e forma que v. sempre as coloca aqui no espaço dos que "comem criancinhas".

Anônimo disse...

Peço uma exolicação: O q vem a ser aplicar a "lei do valor" no BC? Apesar de ter lido os 3 volumes do Capital assumo aqui minha ignorância. Gostaria mesmo de saber.

Anônimo disse...

Então, Maia, em que pág. está essa notícia, mesmo nesses livros citados?

Carlos Eduardo da Maia disse...

Quanto tempo, Armando, Che ficou no Banco Nacional? E por que Fidel o tirou de lá? O resultado da gestão do Che (que gostava de acordar cedo e trabalhar até altas horas) no Banco Nacional foi pífio. Ele queria sim fazer mudanças radicais na economia, mas enfrentou resistências por parte dos técnicos, dos economistas, etc. Quem tentou aplicar o idealismo da "lei do valor" de Marx na economia se deu mal. Isso nunca deu certo, porque a teoria na prática é outra; porque é idealista e não tem nada de materialista. Onde, Armando, a aplicação da "lei do valor" deu certo?

Carlos Eduardo da Maia disse...

Armando, hoje quem come criancinha é a mídia oligopolista, burguesa, neoliberal e conservadora.

Anônimo disse...

Não me explicou nada.

Carlos Eduardo da Maia disse...

Vc que não quer entender. Guevara tentou aplicar, mas não levou. Quer que soletre?

Carlos Eduardo da Maia disse...

Responda, Armando, onde a "lei do valor" deu certo? E por que não se consegue aplicar?

Anônimo disse...

Não, eu quero q vc me explique como se demite alguém por aplicar a "lei do valor" no BC.Como se aplica a lei do valor no BC, pois para mim, até onde vai meu entendimento, a mesma corresponde a uma relação social. Seria o mesmo que dizer que o Meirelles fica no Banco Central pois aplica a "lei de Say" ou a "Lei do equilibrio geral" . Ou seja, é uma afirmação totalmente genérica, e que precisa ser explicada nos minimos detalhes se verdadeira, afim do interlocutor não parecer um papagaio de pirata.

Anônimo disse...

Por fim meu caro Maia o fim da "lei do valor" como relação social, se refere a uma alteração nas relações sociais, e não em politicas do BC que aplicam ou não "leis do valor", para mim isto é papo de louco, ou seria de pessoas que reproduzem ideologias baratas???

Anônimo disse...

Ou seja, tanto a NEP soviética como possivelmente o Sistema Presupuestário de Financiamiento(o qual desconheço), pois pressupõe a manutenção da propriedade privada (relação social). Assim mantém a "lei do valor" que é algo por si só passível de interpretações e que no texto, na minha interpretação, é apresentada como a forma de mensuração do valor de mercadoria na relação de produção capitalista (M=c+v+mv), valor este q se reproduz como média dentro de uma industria e no qual o preço oscila dada as variações entre oferta e demanda.

Mas posso estar errado, só gostaria que você me explicasse melhor sua opinião.

Anônimo disse...

Que agora sim para finalizar, na mina opinião pode sim ser "ser abolida progressivamente já na transição socialista, pela "intervenção consciente dos homens"",via eliminação da relação das diferentes txs de lucro via diferentes composições do capital e principalmente eliminando as oscilações resultado da oxd. Al´´em claro da progressiva eliminação da relação em que o capital variável aparece no valor como v (preço da FT) e mv.

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