E o tolo do Caetano ajudando na picaretagem ideológica...
Domingo assisti a uma picaretagem ideológica explícita no programa global “Fantástico”. Foi protagonizada pelo professor Eduardo Giannetti da Fonseca, um neoliberal de carteirinha, e por Caetano Veloso, um notório desbundado, que emoldurou a vigarice com uma de suas (belas) canções. Eu estava escrevendo um pequeno comentário sobre o assunto, mas hoje vejo que o professor Marcos Nobre o fez com maestria e objetividade na Folha. Uma beleza de artigo-denúncia contra a desonestidade intelectual que campeia como nunca em terras brasucas, agora num veículo de massa como a televisão. O que eu fiz? Deletei o meu comentário e estou publicando abaixo o excelente artigo de Marcos Nobre (professor de filosofia política da Unicamp e pesquisador do Cebrap). Nobre escreveu a obra "Lukács e os limites da reificação".
Eis o artigo:
Giannetti na Terra Prometida
Desde Adão e Eva, a vida humana não seria mais do que uma relação de custo e benefício.
Mesclando depoimentos e comentários, pretendeu mostrar que o tempo é o resultado de uma escolha entre uma "posição credora" e outra "devedora": poupar agora e usufruir depois, ou o contrário.
Mas Giannetti da Fonseca não se contentou em se apoiar na autoridade da Bíblia. Apelou para cenas da vida animal e para depoimentos científicos para dizer que toda a natureza segue a mesma lógica. Todos os seres vivos fazem "trocas no tempo", poupam ou consomem segundo posições "credoras" ou "devedoras".
Tudo muito bem produzido e editado. Com todo tipo de chavão capaz de se encaixar na lição de moral. É com fala mansa e jeito de bom moço que só quer ajudar que disse que tudo não passa de um balanço entre "sonhos e desejos" e "possibilidades e limites". Com direito a Caetano Veloso ao violão repetindo o refrão "tempo, tempo, tempo, tempo".
É como se estivéssemos de volta ao século 18. Os conflitos são apenas resultado das escolhas individuais e da cultura que resulta dessas escolhas. Não há conflitos sociais, exploração, movimento operário, revoluções, guerras. Tudo o que se passou nos últimos dois séculos desaparece para dar lugar ao capitalismo como ordem natural (e divina) das coisas. Só o que resta é uma adaptação "credora" ou "devedora" a essa ordem.
Mas essa impressão também é enganosa. Porque Giannetti toma do século 19 o determinismo biológico e toma do capitalismo atual o vocabulário do mais desenvolvido mercado financeiro. E tudo isso com a técnica mais sofisticada do século 21.
Para quem acha que biologia e economia são apenas dois ramos de uma mesma árvore original, não é difícil concluir que o Brasil ainda esteja mesmo no século 18 e que seja preciso inocular na cultura brasileira o bacilo do capitalismo. A Terra Prometida de Giannetti da Fonseca é a da miséria e da doença da revolução industrial do século 19. Uma terra que o Brasil do século 21 conhece muito bem.
16 comentários:
Tenho como receita não assistir Faustão e Fantástico. São programas irritantes. O capitalismo não faz parte da ordem natural das coisas. É o modelo que está ai e que pode ( e deve) ser modificado e humanizado. Segundo, os deterministas ideológicos (ex materialistas históricos) uma tese, uma teoria e, até mesmo, uma estética só é boa, só é bacana, só é legal, só é tri quando mostrar a exploração do homem pelo homem, os conflitos sociais, a revolução etc... Se um programa de TV, um filme, um livro não focar essa agenda ela é considerada picaretagem. Definitivamente, a picaretagem conquistou o mundo e ela não tem lado ideológico ( a maleta de US$ 750 mil dólares da PDVSA para Kirschner é a demonstração disso).
Onde fica autodeterminação do indivíduo? E tem ainda uma tal de sociobiologia nessa mesma estrada. Se o indíviduo for controlado por um livro de contabilidade, onde entra o conceito de cidadania? Por isso a definição de que o Giannetti é pré século 18. O engraçado é que se um de nós resgata a idéia da determinação pelas relações de produção é, prontamente, taxado de jurássico.
Giannetti estava falando sobre finança individual. Há de se fazer renda ( e evitar o consumo exacerbado) quando a pessoa trabalha para poder usufruir estes valores na velhice, na aposentadoria. Essa seria a relação "custo benefício" que todo mundo (inclusive os picaretas) procura. Isso não é uma determinação, mas uma receita de viver bem, ou melhor de aprender e saber viver bem. Não vejo nada de ideológico nisso. É apenas a realidade que estamos embutidos. Caetano Veloso poderia fazer a trilha sonora dessa discussão: é proibido proibir.
faz tempo que deixei de assistir fantastico e a rede globo ( o liquidificador manipulatorio) , que só faz perder a inteligência e a percepção do mundo.
Esse Giannetti é muito conhecido por aqui nas altas rodas, onde rola com muita desenvoltura.
Quanto ao mano Cae (sic), o conhecemos de longe e, não a toa, ficávamos com Chico e Vandré contra Caetano, achando suas atitudes uma forma de levar água para a reação.
Quanto à exploração e atentado à dignidade humana, não se carece de grandes elocubrações teológica ou filosóficas, basta olhar para os canaviais distantes 300km da maior cidade da América Latina, ou olhar nos bairros do Bom Retiro e Brás, por exemplo, para termos o trabalho escravo, sem falar, claro, na Votarantim, distante 70 kms de SP. Olha que não falei do ABCD, onde a exploração é visível para qualquer deficiente visual do neoliberalismo, que hoje preferem ser chamados de "pós-modernos" ou portadores do "choque de gestão". Na época da ditadura militar experimentei esses "choques", que esses acanalhados sabem aplicar muito bem.
Não se pode negar que Caetano teve seu papel na luta contra a ditadura militar, tanto que foi várias vezes censurado e, por fim, "convidado" a deixar o país. Além do que - e isso é questão de gosto, evidentemente - produziu nos anos 70 e início dos 80 belos trabalhos musicais. Nos últimos anos, em decadência, passou a fazer qualquer coisa para aparecer na mídia, o que é uma pena.
Discordo, Omar, Caetano não está em decadência. Você há ouviu a música Musa Híbrida? As últimas músicas de Caetano são bem melhores do que as últimas do Chico. E o Vandré sempre foi um baita chato. Um cara que se perdeu no tempo. É hit de revolucionário da década de 60. Um baita chato. Se é para falar de um cara bom dessa época vamos falar de Sérgio Sampaio.
o gianetti? lembro bem: páginas amarelas da Veja, 2003. Defendendo a invasão de americanos e ingleses ao Iraque. O destaque da entrevista: "eu aceito a guerra". Humanizar o capitalismo, sim, inhôinhô!
Não Maia, Gianetti não falava sobre "finanças individuais", e sim retomava a explicação do capitalismo via a dicotomia prazer x dor. Ou seja, retoma as concepções liberais clássicas de Bentham e Bastiath. Resumindo o lucro é resultado da escolha do individuo em postergar seu consumo (mais dor, menos prazer)e não resultado de uma interação social e material entre individuos. Individualismo metodológico, filosofia do utilitarismo. Gianetti como filósofo sabia muito bem em que terreno estava entrando. Vc como chato de plantão, e liberal de boutique,mediocre e cheio de ranços ideológicos, não.
Uma pergunta, de onde surge o excedente poupado (A DOR!)por estes cidadãos, e pq alguns não conseguem ter a possibilidade desta escolhas? Perguntas q esta vã filosofia não consegue explicar!
Alguns não conseguem, infelizmente, ter a possibilidade destas escolhas porque o Estado não funciona. E para o Estado funcionar é necessário fazer reformas que a esquerda reacionária sequer quer debater, porque preconceituosa e sectária, além de muito burra.
Maia, v. como cidadão bem informado pela Veja canalha e pela imprensa serviçal, deveria ajustar o seu manete. Que você goste do bajulador do balorixá, recentemente enviado ao inferno 9ACM), vá lá, mas vá aprender a diferença entre o lá e o dó, além de lavar a boca, antes de criticar quem quer que seja da MPB, principalmente, vítimas da terrível redentora, ainda que em alguns casos, como no do mano Cae, a perseguição da burra ditadura, lhe rendeu fama e dinheiro.
O último disco do Caetano é muuuuito ruim.
Fui ao show do Chico, paguei uma grana monumental. O que salvou o show -- que foi bom -- foram as antigas músicas. As últimas são muuuuito ruins. Quanto ao Vandré ele ficou perdido naquele tempo obscuro. Vandré não é e nunca foi vanguarda. Um baita chato.
Vou lhe dizer quem é um baita chato...
Esse negócio de música é questão de gosto mesmo. Para meu gosto prefiro o Caetano provocativo e criativo dos anos 70 e início dos 80. Há quem prefira o Caetano caretão e repetitivo dos últimos anos. Há quem sintonize a Rádio Guaíba para escutar música, como fazia o pai e, talvez, o avô.
E a quem não consiga sair das surperficialidades não é seu Maia?
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