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Surf no lixo contemporâneo: a que ponto chegamos! E que mundo deixaremos de herança para Keith Richards?

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Por que mesmo a nossa mídia desconheceu o Bicentenário da Argentina?


A volta do elemento político nacional-popular inominado numa belíssima festa de multidões

A mídia brasileira desconheceu as comemorações da semana do Bicentenário da Independência da Argentina. O silêncio foi gritante.

Ouvi uma socióloga conhecida, figurinha carimbada em rádios e tevês do PIG, onde não raro comparece a meio-pau, afirmar candidamente que é muito difícil comentar sobre a independência da Argentina. "Eles têm duas datas, que se conflitam, e a gente nunca sabe qual a correta" - completou a sedenta. Essa senhora que, apesar de tudo, é inteligente e bem informada, deveria saber que houve um longo e complexo processo de independência formal do vice-reinado do Rio da Prata da coroa espanhola. A semana de 18 de maio a 25 de maio de 1810, marcou o início do desligamento da Espanha, porque o vice-reinado deixou de reconhecer o novo governo espanhol, então ocupado militarmente pelas tropas de Napoleão. Essa tensão - com revoltas e guerras civis localizadas - durou até a sanção da Constituição de 1853. Sendo que a declaração formal de independência ocorreu em 9 de julho de 1816.

A rigor, a Argentina moldou o seu Estado nacional a partir de 1806, com as invasões inglesas, e até a promulgação da Constituição de 1853. As datas, neste caso, tem menos importância que os processos políticos e de identidade nacional e territorial que estavam se gestando na primeira metade do século 19. Só os idiotas da objetividade - como dizia Nelson Rodrigues - adoram cultuar as datas pelas datas. A própria instauração da República no Brasil não foi exatamente em 15 de novembro de 1889. Em 15 de novembro foi o golpe militar contra a família imperial dos Bragança. A República se consolida mesmo somente com o duro Floriano Peixoto (que combateu os conservadores) e graças à força política do governo de Júlio de Castilhos, desde o Rio Grande do Sul.

De qualquer forma, os festejos nacionais argentinos ocorridos durante essa semana, mas que tiveram início ainda na semana passada, foram bonitos, unitários, de multidões, despartidarizados e ao mesmo tempo politizados. Talvez esse forte simbolismo da identidade nacional argentina, agora revigorado, tenha incomodado a nossa mídia oligárquica. A sua plena divulgação poderia se constituir em mau exemplo para os brasileiros - eis o temor tácito dos editores de jornais e demais meios de comunicação brasileiros.

Os atos comemorativos argentinos foram atos de massa, alegres, festivos e com a marca nacionalista, que aos poucos retorna às manifestações de rua no país vizinho. Um elemento nacional-popular, para bem além das desmoralizadas siglas partidárias e bem distantes, também, do movimento sindical pelego, corrupto e viciado dos velhos tempos, que nem vale a pena mencionar.

A Argentina mais uma vez ressurge das cinzas, agora, para um destino talvez diferente do que aquele reservado pelas suas oligarquias sanguinárias e vende-pátria, um destino forjado sim na têmpera do passado, mas agora projetado na ânsia de liberdade e emancipação das novíssimas gerações.

Foto 1: Multidão festeja o bicentenário na avenida 9 de Julio, em Buenos Aires, na noite de 25 de maio, terça-feira passada.

Foto 2: Há muitas semanas iniciou-se uma grande marcha de pessoas do interior do país para reivindicar o respeito e o reconhecimento de direitos às etnias autóctones argentinas e pelo estabelecimento de um Estado multicultural e multiétnico no país.

Fotos de Daniel Garcia/AFP

Clique nas belas imagens para ampliá-las.

13 comentários:

jogos da memoria disse...

E quem é que ainda aguenta essa papo de "como é bom ganhar da Argentina" ?

Fernando F. disse...

Oi Cristóvão.
Eu estive lá em Buenos Aires até segunda pela manhã. Peguei os primeiros dias da comemoração. Era algo fantástico, inimaginável no Brasil. Mais de um milhão de pessoas na Av. 9 de Julio. Show temáticos no obelisco. Na sexta o Rock Argentino comemorando 40 anos. No sábado a integração latino-americana, culminando com o show do Gilberto Gil. No domingo o folclore latinoamericano. Na terça um super show do Fito Paez. Stands de todas 24 províncias, comidas típicas e uma participação popular, com famílias inteiras que dava inveja. Uma bela comemoração.
Os show tinham transmissão pelo canal siete, a tv publica argentina. Procurando deve-se achar por aí.

Quanto ao Teatro Colón, vale frizar que era parte da comemoração da "prefeitura" que é oposição ao governo da presidenta Cristina Fernandez. Era outra comemoração em paralelo, mas que se junta na comemoração maior do Bicentenário.

De qualquer forma é um belo exemplo de patriotismo e festa popular.

Mas a imprensa no Brasil só quer falar mal do Lula, não fica bem dar exemplos de patriotismo latino.
Mas, quem sabe não teremos uma boa cobertura jornalistica do 4 de julho?

Lucas Jerzy Portela disse...

a Argentina tem 2 datas conflitantes de independência?

na Bahia, consideração 3:

- 26 de junho de 1821. A Mui Heroica & Leal Cidade de Cachoeira (titulo que recebeu depois de Dom Pedro II) se declara, sozinha, Republica Independente de Portugal. Até fevereiro de 1822 Feira de Santana, Sao Felix, MAragogipe, Caetite, Lençois, Santo Amaro da Purificação e Rio de Contas se juntarão a declaração. E Cachoeira passa a ser Capital do Estado Independente da Bahia;
- 7 de setembro de 1822. Grito inutil. Depois disso Dom Pedro I levou 2 meses na duvida se ajudava ou nao nas guerras de independencia do Maranhao e da Bahia. Resolveu ajudar, e mandou os generais Cochrane e Labatut;
- 2 de julho de 1823. Fim da Guerra de Independencia da Bahia (libertando, por W.O., o Maranhão - que nunca expulsou os portugueses de lá). Três atos marcam esta guerra: 1) a Tomada de Salvador que se fez em duas frentes; 2) por dentro, ao norte da peninsula, na Batalha das Campinas de Pirajá; pelo mar, com a Batalha Naval, partindo da Foz do Paraguaçú e invadindo a capital pela Jequitaia, em que João das Botas, com 30 saveiros mambembes e analfabeto, expulsou as Galeotas do Governador Luis Antonio Madeira de Melo, o Madeira Podre.

Labatut e Cochrane se mostraram dosi mijões! Cochrane teve caganeira e nao liderou a Naval ao lado de Joao das Botas. Labatut, em Pirajá, mandou tocar "Recuar"; o soldado raso Corneteiro Lopes, do Glorioso Batalhão dos Periquitos (que usava verde e amarelo muito antes de a Bandeira ter sido oficializada), tocou "avançar". Lopes estava certo: vencemos.

A Guerra de Independencia da Bahia (no Reconcavo ainda hoje chamada de RevoluÇão de 1822) é algo de que todo brasileiro deveria se orgulhar. Primeira revolta popular bem sucedida do país, feita por uma aliança entre a aristocracia fumageira e diamantina e o povão. Os heróis são um savereiro analfabeto, uma freira que se interpõe na porta do Convento da Lapa para dar fuga a alguns soldados e morre (Joao Angélica), uma escrava que em Itaparica ateia fogo em galeões portugueses carregados de Oleo de Baleia (Maria Felipa), e uma moça de classe média que se traveste de homem para pegar em armas (Maria Quiteria de Jesus Medeiros, patrona da ala feminina do Exercito Brasileiro).

Foi uma independencia conqustada, ao contrario do que dizem. E por braços mulatos e femininos.

(Feil, se alguma vez na vida puder, veja ver a Parada do Dois de Julho em Salvador. É o unico cortejo civico organizado popularmente, e que so se torna politico/oficial quando chega ao seu fim. O simbolo carregado é uma estatua de uma cabocla tupinamba.

é lindo demais!)

jogos da memoria disse...

Com certeza o 4 de julho vai bombar na TV, Internet e rádios brasileiras. E como diz a Fátima Bernardes, "o presidente Barak Obama..." tem muita gente que acredita que o homem é o presidente do Brasil...

Suzie disse...

Eu assisti,direto, no link que o Nassif colocou em seu blog.
Lindíssima festa!
O PIG?
Está sempre "FORA"!

Cristóvão Feil disse...

Portela, eu não disse que a Argentina tem duas datas nacionais conflitantes.

Engano seu.

CF

Claudinha disse...

Mamita [brasileira] assistiu a um dos desfiles, que teve a presença, na plateia, dos presidentes Chavez, Morales, Correa e Lula. Efeitos visuais lindíssimos, contando a história da independência, que a deixou emocionada. Ela voltou chorando para o Brasil, não queria ter voltado. Por isso, assiste a programação do canal Siete sempre! :-)
Quanto ao povo argentino, Marcos Coimbra afirmou, em entrevista, que é um caso raro de mobilização política: http://esquerdopata.blogspot.com/2010/04/marcos-coimbra-do-vox-populi-nocauteia.html

guima disse...

Feil esse Lucas Portela só pode ser autista, que tem a ver com a Bahia?
Ô meu, se liga no papo.

forinti disse...

Mas todo dia falam de Nova Iorque. Bando de colonizados.

alex disse...

A TRAGÉDIA DE SE TER ESSA MÍDIA NO DIA A DIA

28-Mai-2010 - do Blog do Zé

O problema dos nossos jornais, da nossa grande mídia, não é apenas o monopólio de algumas famílias e oligarquias políticas e o poder político que exercem de forma partidária, mas o cada vez mais péssimo nível do jornalismo que praticam.

Basta ver a cobertura que dão à questão internacional do momento, a do Irã, do acordo sobre o programa nuclear deste país conquistado pela intermediação do presidente Lula em Teerã.

A raras, rarissimas exceções, não mandam jornalistas cobrir os fatos, o desenrolar das questões.

O tempo todo socorrem-se do extenso lixo enviado pelas agências noticiosas internacionais ou limitam-se a traduzir textos de jornalões americanos e europeus. Nos dois casos, não dá para julgar o que é pior.

Afinal, todos sabemos - já escrevi aqui a respeito - as agências noticiosas tem suas matrizes nos Estados Unidos (uma minoria, na Europa) e todas, sem exceção, "comem na mão" em termos de pegar as informações do Pentágono e do Departamento de Estado - ou seja, do governo norte-americano.

E aí, é claro, já vem tudo dirigido, editorializado, na linha de campanha pura que Washington move contra o governo iraniano.

http://www.zedirceu.com.br/

Lucas Jerzy Portela disse...

o motivo pelo qual associei este post a Independência da Bahia é que a nação brasileira, e especialmente a grande mídia, segue ignorando que o Brasil tornou-se independente não por concessão nas Margens do Ipiranga - mas ao menos aqui, por uma guerra popular de 2 anos de duração.

Lucas Jerzy Portela disse...

Feil,


eu não disse que você disse. Eu me referia a socióloga que você cita no inicio do post, que disse que a Argentina tem duas datas de independência conflitantes.

Nelson disse...

Nada há de novo script, meu caro Feil.
Nossos órgãos da mídia hegemônica preferem nos mostrar perseguições da polícia a delinquentes pelas avenidas e rodovias dos EUA a nos informar sobre o que acontece ali, pertinho de nós, para além da fronteira. Preferem nos mostrar qualquer banalidade que ocorre em França, Itália, na Europa Ocidental, a nos possibilitar que passemos a conhecer um pouco mais dos nossos vizinhos.

Os latino-americanos, "somos ensinados a nos desamarmos", resumiu bem Eduardo Galeano. O grande Darcy Ribeiro costumava dizer que a elite de nossos países vive virada de bunda para seu povo e a contemplar, basbaque, a Europa.

Por outro lado, as imagens que vêm da Argentina nas comemorações dos 200 anos de independência são, além de belíssimas, animadoras. Trazem a esperança de um renascer das grandes mobilizações populares por uma vida melhor, por uma país melhor, por uma América Latina que possa, finalmente, se constituir, como no sonho de Bolívar, na Pátria Grande.

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