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Surf no lixo contemporâneo: a que ponto chegamos! E que mundo deixaremos de herança para Keith Richards?

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Contra a impunidade VIP: a prisão de Martínez de Hoz


Final de jogo para o sócio civil do golpe

A prisão do outrora ministro José Alfredo Martínez de Hoz reacende o debate sobre a política econômica da ditadura, com toda a lógica. Mas o cidadão Martínez de Hoz não está sendo processado pela sua ideologia nem pelas reformas que implementou. Está sendo acusado de crime de lesa humanidade cometido sob um contexto de terrorismo de Estado. O sistema legal vigente habilita ações penais se existem crimes supostamente comprovados. O acusado goza de todas as garantias legais, inclusive a presunção de inocência. A acusação a "Joe" não é uma imputação generalizada sobre a sua ação governamental: trata sobre o sequestro extorsivo de Federico Gutheim e seu filho. Um caso típico de uso da máquina estatal como parte de um plano sistemático de repressão e extermínio.

De qualquer maneira, o caso é curioso embora não seja singular. A maioria dos detidos, encarcerados, assassinados ou desaparecidos pela ditadura foram trabalhadores. Federico Gutheim, ao contrário, era um empresário. Integrava um setor que, em grande parte, estimulou a ditadura, alimentou-a de quadros, avalizou-a e a escondeu. Mas houve situações em que a violência estatal se voltou contra protagonistas do setor empresarial ou das classes altas, grandemente, favorecidas com o Processo [como a própria ditadura se nomeava]. Fernando Branca pagou com a vida por ser marido de Martha McCormak, amante do genocida Emilio Massera. Os senhores da vida e da morte na ESMA [centro de tortura da Marinha argentina] também sequestraram e assassinaram outros empresários e se apossaram de seus bens.

Martínez de Hoz foi um ideólogo do regime (talvez o principal) mas, na hora H, enlameou suas luvas brancas, em um abuso de poder sem limite.

Um crime concreto coloca-o frente ao juiz. Se comemora sua prisão pensando em muitas outras responsabilidades, intimamente conectadas mas juridicamente diferentes. [...]

Parte de artigo do jornalista argentino Mario Wainfeld. Publicado hoje no diário Página 12, de Buenos Aires.

Fac-símile parcial da capa do
Página 12, de hoje.

Um comentário:

Luís Guedes disse...

Caro Cristóvâo, perseguição a empresários não foi especialidade argentina. A "ditabranda" perseguiu de tudo que é jeito os donos da Panair com o auxílio luxuoso do "grande" empresário guasca Sr. Berta.Acabo de ler "Pouso forçado" de Daniel Sasaki que conta a trama toda. E de assustar´e revoltar. Como consequência,meu pobre Electra II da 'nossa" Varig que estava em minha mesa de trabalho voou para destino ignorado.... Saudações, Luís Guedes.

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