A interminável "revisão" do Plano Diretor visa beneficiar os especuladores imobiliários e as construtoras de espigões
Números levantados pelo [diário] Jornal do Comércio (20/5) mostram que em quatro meses – de novembro a março – foram aprovados 1.289 projetos imobiliários em Porto Alegre, num total de 1,5 milhão de metros quadrados de área construída, algo como 15 mil apartamentos de 100 metros quadrados. É um indicador do boom imobiliário, que é nacional.
No caso de Porto Alegre estes números mostram também um caso exemplar, de como o poder público pode frustrar as iniciativas da cidadania, atendendo o interesse de minorias organizadas. Todas essas construções seguem o Plano Diretor, que vigora desde janeiro do ano 2.000, mas está em revisão desde 2003.
A revisão era prevista no plano original, mas ganhou força com o surgimento de um forte movimento comunitário, iniciado no Moinhos de Ventos, um dos bairros onde primeiro se fizeram sentir os efeitos do plano.
Com a liberação das alturas, os amplos terrenos com casarões que caracaterizam o bairro se tornaram o principal alvo, para dar lugar a espigões de 20 andares.
Até inéditas passeatas de protesto aconteceram e o movimento em pouco tempo se reproduzia em mais de 20 bairros da região mais impactada pelas novas regras de construção.
“Porto Alegre Vive”, “Fórum de Entidades”, “Em Defesa da Orla”. Passeatas, atos públicos, assembléias, audiências públicas…
A Secretaria do Planejamento levou quatro anos para preparar a proposta de revisão, que a Câmara deveria votar. Só em 2007, quando José Fortunatti assumiu a secretaria do Planejamento, o texto foi para o legislativo.
Lá esteve três anos. Os vereadores mais antigos não lembram algo semelhante. Foi aprovado em novembro passado, mas como dispensaram os consultores técnicos logo depois da votação, a preparação do texto final levou cinco meses.
Agora está pronto, vai para o prefeito. Se tudo correr bem, em 60 dias estará valendo.
É de se perguntar: num período de boom imobiliário, levar sete anos para revisar um Plano Diretor, que foi feito em cinco, não é o mesmo que botar água num balde sem fundo?
Pescado do jornal Já (menos os títulos).
Foto: Eurico Salis, da Travessa dos Venezianos, bairro Cidade Baixa, Porto Alegre, RS. Fotografia a la Edward Hopper, de um lugar bucólico da capital, próximo ao Centro, e ainda intocado pela fúria "concretista" da especulação imobiliária, sem limites de nenhuma espécie.
4 comentários:
a matéria não li, mas a foto é maravilhosa, lembra aquela de parati, que bem poderia ser publicada com os créditos, inclusive o da modelo.
Não sei de quem é a foto, mas trata-se da Travessa dos Venezianos na Cidade Baixa...
Feil, esta encrenca do PD acho que vem de muito tempo, a primeira vez que realmente tomei conhecimento foi quando iso veio à baila na gestão do Olívio (nada contra ele, votei nele)esse gipgipnheconheco vem de muito tempo e casa vez mais estrupado pelos gestores, as explicações as mais esfarrapadas por sinal para justificar a bagunça. Abs
o estatuto da cidade determina que a cada 5 anos o plano diretor seja revisado, uma medida para corrigir eventuais erros, embora também sirva para acentuar desacertos.
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