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segunda-feira, 26 de abril de 2010

ZH envenena a água da internet



Internet possibilita que eleitor de coadjuvante passe a protagonista

O jornal Zero Hora expressa temor com o advento da internet de massa no Brasil, em matéria publicada ontem, na edição dominical (ver acima).

A rigor, as eleições de 2010 serão as primeiras de nossa história com a presença de um protagonista até então coadjuvante lateral nos processos eleitorais brasileiros, pelo menos desde que a TV começou a definir com grande capacidade de influência o voto da cidadania - o eleitor. A força da mídia televisão começou a se impor entre o final dos anos setenta e início dos anos oitenta, no Brasil.

Uma ilustração do fenômeno foi o eclipse dos comícios de massa, seja nos pequenos núcleos urbanos, seja nas grandes capitais do País. As campanhas eleitorais se reduziram a praticamente um endereço: a televisão, muito secundariamente, o rádio, e algum comício ralo nas periferias e no interior profundo do Brasil. Nesses poucos e raros ajuntamentos eleitorais para ouvir um candidato, conta o anedotário, que muitas vezes havia mais assistentes embriagados e cães vira-latas que propriamente cidadãos eleitores com disposição para conhecer programas e plataformas políticas.

Se o processo pré-eleitoral dos comícios faz parte do passado, as campanhas exclusivamente de televisão igualmente tendem a ser fenômeno pretérito. A campanha eleitoral de 2010, arrisco a afirmar, será uma espécie de linha divisória entre duas modalidades preponderantes de campanha eleitoral: o debate monocanal via televisão, e o debate de duas mãos via internet. Tudo indica que este será o último suspiro da televisão como ferramenta tecnológica exclusiva das campanhas eleitorais brasileiras. Hoje, no Brasil existem cerca de 50 a 60 milhões de internautas - pessoas de todas as idades e condições sociais que acessam diária ou regularmente a rede mundial de computadores.

Nas últimas eleições, em 2006, tivemos cerca de 126 milhões de cidadãs e cidadãos brasileiros aptos a escolher seus candidatos. Portanto, a metade desse número coincide com o total de brasileiros que interagem regularmente na rede de computadores do País. Não é exagerado afirmar que esses cerca de 60 milhões de pessoas estão em comício permanente com os seus candidatos e adversários, agora, de forma interativa, participativa e com informações circulando em regime de mão dupla. Com a vantagem de alijar borrachos e cães indesejados.

É esse cenário plural e participativo que a mídia oligárquica brasileira tanto teme. É contra esse ambiente interativo que o jornal da RBS solta suas farpas, visando envenenar a água da fonte internet onde a cidadania vai buscar/levar informações, opiniões, críticas, incentivos e sobretudo formular juízos políticos baseados no debate intenso e permanente. A internet é um meio em formação, com muitas lacunas, incompletudes e defeitos, mas ainda assim constitui-se num salto de qualidade em relação a todas as mídias precedentes, justamente porque permite a interatividade e a participação crítica.

É hilária a receita de Zero Hora para o internauta cético: sugere que este consulte os jornais do dia e/ou consulte um "especialista" de sua confiança. Como se o objeto do ceticismo não fosse precisamente a mídia convencional e reacionária. A receita é tudo o que o cidadão internauta não deve fazer, retroceder ao tempo em que os jornais das oligarquias eram vozes únicas, autoritárias, conservadoras, golpistas (lembrar que praticamente toda a mídia brasileira apoiou o golpe de 1964, contra um governo escolhido em eleições livres e democráticas), onde se praticava algo que a chamada Revolução de 1930 tentou mas foi vencida, o cabresto eleitoral, a tutela do eleitor no sentido de constrangê-lo a votar nos candidatos mais conservadores e atrasados. ZH, portanto, quer a volta do cabresto eleitoral, a volta do aconselhamento junto aos mais sábios, os mais espertos, os mais ricos, os mais "esclarecidos", os que "entendem" de política, de fato e de direito (uma espécie de "direito natural" adquirido).

A RBS está em plena e azafamada corretagem de espaços para empurrar o produto que chama "Eleições 2010". A informação que corre na praça sobre o desempenho das vendas não é boa. Os anunciantes estão reticentes quanto à eficácia das mídias tradicionais (jornal, rádio e TV), especialmente num ano que conta com outra grande atração e oportunidade para investir na publicidade de seu produto, o futebol e a Copa na África do Sul. O mercado sabe e sente a força emergencial - acelerada - da internet. Números divulgados semana passada, indicam que no Brasil a mídia internet vai crescer 29,2% no corrente ano, superando a mídia jornal que vai crescer somente 11,6%. A publicidade na internet brasileira deve alcançar em 2010, cerca de 650 milhões de dólares, segundo a consultoria ZenithOptimedia, empresa do grupo de mídia Publicis, responsável pelos números divulgados na última quinta-feira (22/4) e publicado na Folha.

A matéria de ZH é a expressão do temor da RBS, de resto, do PIG inteiro, para com essa nova realidade, e trata de criar um clima de terror com o objetivo de assustar os segmentos despolitizados de classe média, alguns anunciantes desprevenidos e outros mais sensíveis à arenga conservadora da direita brasuca.

Hoje, certamente os corretores de vendas estão a campo mostrando a matéria de ZH dominical - um copo de veneno líquido - para os (raros) incautos da praça.

11 comentários:

zé bronquinhaq disse...

Parte da preocupação da RBS reside na tarefa de eleger a candidata transgênica a senadora dos ruralistas, jornalista Ana Amélia.Sabem eles que a "plebe rude" nunca ouviu falar na tal fulana e se a ouvissem pouco entenderiam, pois a dita cuja só se expressa como lobista do agronegócio. Os demais, acessadores da internet sabem, ou não tardarão em saber, que a tal se mudou para Brasília, circulou com desenvoltura no meio de generais golpistas e torturadores, casou-se com um suplente de senador biônico aqui do RS,do PDS, Octávio Cardoso, e que, se afastando da RBS, em tempos de aposentadoria, receberá vencimentos da Previdência Pública e mais do Fundo de Pensão do Grupo RBS,ficando com a vida mansa, privilégio para poucos lá empregados.

Jefer disse...

Permita-me discordar de parte da análise deste post.

Não há como afirmar que existe um temor das mídias tradicionais com o crescimento da internet. Muito pelo contrário. Todos os grandes grupos de comunicação possuem páginas na internet, ou com assinantes que têm acesso a conteúdo exclusivo ou com anunciantes que pagam para postar seu banner nestas páginas.

O único senão seria a possibilidade que a internet oferece das pessoas se manifestarem expressamente(protestando, criticando, etc. ) sobre aquilo que é publicado por estas empresas, tanto no site quanto em blogues.

Ou seja, a grande mídia já estendeu seus tentáculos para a internet, já ganha dinheiro com isso e compensa a eventual perda de leitores de jornais ou telespectadores.

Juarez Prieb disse...

Jefer, eles NÃO ganham dinheiro com isso. A internet não dá dinheiro, pelo menos por enquanto. É com isso que eles se enervam. Então tem que escrever mesmo que as uvas estão verdes. A internet é uma baixaria, como disse Zrohora ontem.

Anônimo disse...

Eu já estou pensando em me votar na Ana Amélia. Pelo menos, me livro daqueles comentários horrorosos que ela faz na TV.

Que os faça fazer longe de mim, lá no Senado.

Pelo menos, não me aporrinha.

Já notaram como ela respira mal ao falar, engole sílabas e troca palavras....? Isto depois de 50 anos em fazendo a mesma coisa. Um fenômeno.

Anônimo disse...

Zero hora pode escrever o que quiser, afinal ela tem este direito, porém, não vou votar no Serra e acabou, ora, um sujeito que diz que o Brazil não tem dono, é safadeza e sinal de incompetência.Pimentel

Carlos Eduardo da Maia disse...

Menas, Juarez, menas. Seria bom fazer um curso de interpretação de texto. A ZH não disse que a internet é uma baixaria. Existem informações colhidas na internet que são equivocadas, erradas e a criatura antes de utilizar a informação deve consultar os universitários do Silvio Santos ou os especialistas. A grande mídia, como bem referiu o Jefer, tem os melhores e mais diversificados sites. E é muita ingenuidade achar que haverá uma revolução social e uma "desalienação universal" na sociedade por conta da necessária inclusão dos serviços de banda larga sobretudo à população de baixa renda (o que é fundamental para o Brasil se desenvolver).

Juarez disse...

Vc que precisa estudar "interpretação de texto", maia.

Quem falou que haverá uma reovlução social na internet?

Anônimo disse...

Pau que bate em Xico bate em Francisco.
Os blogueiros demonstram fraqueza quando se trata de reunir informação primária, que é o que dá mais trabalho, exige equipes distribuídas pelo mundo.
Eles acabam buscando informação exatamente nos mesmos meios de comunicação que a distorcem e denunciam, mas que são a fonte mais abundante de informações.
Blogueiro é como o grilo falante, mas o veículo de comunicação ainda é o principal buscador, produtor e distribuidor dela.
O que o blogueiro tem, é audiência e credibilidade em matéria de opinião.
A gente passa o pente fino do ceticismo em tudo, já peguei barriga de blogueiro que acredita em tudo que lê e carece de formação especializada.

Anônimo disse...

E a internet não é uma baixaria mesmo, quando se fala de interesse político?

Todo santo dia tem mail falando de tal candidato, ou de outro. Sempre com palavra 'educadas'.

Acho que a ZH quis dizer que devemos consultar SEMPRE fontes confiáveis. O erro deles foi querer citar uma fonte confiável, que não o é.

Tzara Bathana disse...

O problema da grande mídia é que mesmo os "maiores" e """"melhores""" não são mais garantia de hegemonia na internet porque a dinâmica da troca de informações pela rede vai na contramão da centralização de informação em mega-portais. As redes sociais e os blogs possuem um sistema de enlaces que conduzem o internauta por outros caminhos e isso é uma coisa que o PIG não admite. A internet, para o bem e para o mau, permite uma liberdade de escolha que os meios normais não permitem, pois são impostos.Agora, sugerir que se compare informação da internet com os grandes jornalões é perguntar para a raposa quem roubou as galinhas.

Anônimo disse...

Tem maior baixaria que a própria RBS, com suas canetinhas de aluguel.
Matérias, por exemplo, que colocam a questão socioeducativa como se passasse pela comercialização de um terreno, são pura pilantragem. Só não passa por onde deve, os profissionais e interessados no assunto.
Qualquer aluno de jornalismo que cursar uma cadeira de ética passa longe...

Claudio Dode

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