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Surf no lixo contemporâneo: a que ponto chegamos! E que mundo deixaremos de herança para Keith Richards?

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Operadoras de banda larga fazem chantagem com o lulismo


Banda larga para pobre, só com incentivos e fibras óticas grátis

O presidente da Oi, Luiz Eduardo Falco, disse que só com incentivos fiscais será possível oferecer internet a um preço mais baixo do que o atual, como quer o governo. A informação é da Folha, de hoje.

Hoje, segundo o executivo, o preço médio para a velocidade de 600 kbps (kilobits por segundo) é de R$ 50. "Para cair de R$ 50 para R$ 35, tem os incentivos", disse.

Questionado sobre se a proposta da empresa para o governo envolveria um programa parecido com o "Luz para Todos" (universalização do acesso a energia elétrica), Falco disse que sim. "É muito parecido. O governo tem mecanismos, testados e implantados. Uma das alavancas é desoneração de impostos", afirmou.

No "Luz para Todos", há um encargo embutido na tarifa paga por todos os consumidores para financiar a ligação nos locais onde não há luz elétrica.

Falco disse que a participação ou não da Telebrás é ""irrelevante". Segundo ele, Oi, Embratel, Intelig e Eletronet (rede estatal) têm condições de atender, sozinhas, ao mercado, mas que uma combinação de infraestruturas seria melhor.

"Se puder fazer fazer uma combinação desses "backbones" [rede de fibras óticas, que faz a oferta de transporte de dados no atacado] para baratear, é desejável. Se usar a rede pública de graça, fica mais barato. Se usar a rede pública a preço de mercado, não fica."

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Essa operadora Oi foi criada por obra de arranjos político-econômicos do governo lulista, com incentivos do BNDES e outras mumunhas. Pois, agora quer operar com a banda larga popular da internet igualmente mamando nos generosos úberes do Estado.

Isso é chantagem. E esse é o liberalismo brasileiro, dependente do Estado até para ofertar serviços a camadas de consumidores cuja rentabilidade comparativa fica aquém das vantagens de aquisição de papéis especulativos no mercado mundial.

O filé da internet é atender o mercado corporativo ou vender para consumidores urbanos de localização privilegiada das áreas metropolitanas, os chamados consumidores densos e firmes - contemplados pelos cenários azuis projetados nas planilhas matemáticas. Quando se trata do mercado extensivo, de média/baixa renda e rarefeita densidade de consumidores por área urbana ou periférico-rural, as operadoras estrilam, querem "incentivos" do Estado. É que fica mais vantajoso aplicar seus excedentes econômicos operacionais no mercado de derivativos e papéis de especulação do que investir em tecnologia e rede para faixas de consumidores remediados e pobres, cujas taxas de rentabilidade são menores e de perfil mais alongado nos prazos de retorno financeiro do capital.

De qualquer forma é natural essa reação das operadoras, o que não é natural é o Estado brasileiro admitir e ceder (sempre) à ganância cada vez maior destes investidores. Não, do governo Lula, que se esperava outra relação no tratamento do apetite lácteo dos grandes capitais.

3 comentários:

claudia cardoso disse...

"Contrapartida": este é um conceito que parece ser ignorado pelo governo Lula no momento de negociação. Realizou a bendita fusão, sabe-se lá em que condições ofertadas ao Dantas [BrTelecom] e à flia. Jereissati [Oi], e não exigiu nada em troca?

É desconhecer a natureza dos capitalistas... Dá para acreditar nisso???

Com a AMBEV foi um pouco diferente, mas o mesmo final sacana: fundiu-se para ser uma grande empresa nacional e foi vendida, logo depois, para os belgas.

Carlos Eduardo da Maia disse...

É fundamental que a população de baixa renda tenha acesso ao serviço de banda larga.
Existem formas e formas de se fazer isso. Não adianta o governo pedir para uma empresa X, como a Oi da vida, dar a necessária banda larga para as comunidades mais pobres. É muita ingenuidade acreditar que isso ocorra. Até mesmo porque é inconcebível que esse serviço seja feito via monopólio. O governo tem é de fazer um plano a longo prazo com a possibilidade de licitação (mediante contrapartidas sociais) desse serviço em regime de competição. Tem de alargar essa via. Pelo sistema jurídico atual, essa atividade de banda larga não é serviço público, mas atividade econômica e deve ser realizada pela iniciativa privada e, portanto, deve ser lucrativa, razão pela qual serão necessárias contrapartidas. Na necessária privatização das teles -- e existem viúvas do monopólio estatal -- o governo FHC impôs a universalização dos serviços de telefonia e dividiu o país para que diversas empresas diferentes atuassem. O governo Lula quebrou essa divisão e permitiu a fusão concentrando esse serviço nas mãos de menos gente, como foi o caso da autorização para a fusão BrT/Oi. E depois FHC é que foi neoliberal.

Carlos Eduardo da Maia disse...

Cláudia, o Dantas estava fora da BrT quando ela foi negociada. A empresa pertencia aos Fundos de Pensão das Estatais (e depois dizem que FHC foi neoliberal). Dantas era acionista da BrT e deve ter ganho uma grana preta com essa decisão do governo Lula, porque conseguiu transformar em dinheiro o capital que investiu e que estava imobilizado.

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