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Surf no lixo contemporâneo: a que ponto chegamos! E que mundo deixaremos de herança para Keith Richards?

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Zé Cafofinho é mesmo bom



Ontem eu reclamei aqui da prolongada depressão criativa da MPB. Recebi um puxão de orelha de Beto Silva, do Recife. Ele mandou escutar o pernambucano Zé Cafofinho & suas Correntes, ou mais precisamente Tiago Andrade e sua banda.

Vejo que minha provocação rendeu frutos copiosos e sumarentos.

Escutei e gostei do Cafofinho. Ainda estou escutando e acho que vou gostar mais. A ver. Parece de fato um cara criativo, uma brisa morna que balança as folhas verdes da nossa sensibilidade. Vejamos se ele tem fôlego.

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Ao Portela, de Salvador:

Rapaz, não sou rato de internet para saber destes valores musicais todos que você aponta. Só faço navegação de cabotagem. Acredito que pelo Brasil afora tenha de fato incontáveis músicos explorando novas fronteiras da nossa rica musicalidade. Que bom que você nos indica tantos nomes!

A propósito, os caras da banda Móveis Coloniais de Acaju, de Brasília, estão fazendo um concerto hoje em Porto Alegre.

Toma nota aí na sua lista, Portela: Pata de Elefante, música instrumental.

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Madame Cruvinel bem que pode criar um programa na novíssima TV Brasil com esses músicos todos. Cai de maduro a montagem de uma série televisiva de MPB com gente nova, sem figurinha carimbada com o selo azedo da mesmice e do cansaço criativo.

17 comentários:

cazé disse...

cafofinho parece uma cruza de Beirut com Elomar

Jordi disse...

Pois a mim ele parece do mesmo lote dos Zeca Baleiros da vida, muito bons, mas nada de novo. Acho que sou o único que concordou com o post de ontem.

Lucas Jerzy Portela disse...

Não é que eu seja "rato de internet". Calha de que eu vivo na cidade que tem liderado a Reforma Cultural nessa década.

E que fica a menos de mil kilômetros da cidade que liderou a Reforma na década passada (quando aqui em Salvador eramos oprimidos pelo monocordio axe-sistem, mancomunado com o carlismo aparentemente eterno): Recife.

Cidades irmãs que, apesar da rivalidade, sempre se ajudaram mutuamente.

E, Jordi: Retrofoguetes, Baiana System, e principalmente Orkestra Rumpilezz, te garanto: você nunca ouviu nada nem de longe parecido - e os três têm raizes profundas nas nossas tradições (a guitarra eletrica que foi inventada na Bahia antes do gringo por seu Osmar, e toda a miridia ritmica nagô: do vassi a cabila, do barra-vento ao samba-reggae e o pagodão).

Ainda assim, Feil, aí de sua terra tem algo digno de muita nota: Júpiter Maçã. Além de excelente, é bastante inovador.

Anônimo disse...

Indico uns nomes de artistas novos com cds do ano passado. Todos com sonoridades próprias e, melhor de tudo, baixáveis pela internet!:
- Graveola e o Lixo Polifônico (recomendadíssimo, direto de BH;
- Lucas Santanna;
- Wado;
- Karina Buhr;
- Cidadão Instigado.

Outros nomes de outros anos:
- Alessandra Leão;
- Tiné;

Se não fosse pela internet nunca conheceria estes artistas. Infelizmente o jabá segue pesado nas rádios e nos programas de tv...

Abs.

Lucas

Katarina Peixoto disse...

Tiago é meu amigo! Meu amigo há duzentos anos! E ele realmente é muuuito bom!

carlah disse...

Gostei

Anônimo disse...

Então simplesmete pare de esperar o novo lançamento do Caetano Veloso ser empurrado goela abaixo e faça como o Feil.

Se há uma crise de criatividade, certamente ela não pertençe aos artistas, mas à falida indústria cultural.

Na internet, tá assim ó. Mas tem que sair do "cafofo".rsrs

Jordi disse...

Lucas, talvez eu não tenha sido claro, o que eu disse e repito não é que todo esse povo seja ruim, só que não é inovador. Mas se achas Júpiter Maçã excelente ou inovador, acho que nosso problema de entendimento é outro.
De qualquer forma, me parece curioso que toda a produção que apontas esteja tão concentrada geograficamente. Será que não se está forçando a barra um pouco para encontrar "cidades líderes da reforma cultural na década"?
Não tem um certo umbigocentrismo aí?

Lucas Jerzy Portela disse...

Jordi,


não tem umbigocentrismo não. E a concentrção não é exclusivismo: Vanguart e Moveis são do Centro Oeste.

Recife e Salvador sempre lideraram, cada uma a seu modo, a renovação estética do país.

Desde o Segundo Império, ou antes até, e passando por todo o século XX. Essa ancestralidade não é substituível por nenhum "dinamismo econômico" de outra parte do país.

O Rio vem logo atrás, mas como concentradora e divulgadora do que Pernambuco e Bahia fazem.

Lucas Jerzy Portela disse...

Jardi,


se você não acha Orkestra Rumpilezz inovador, eu realmente não entendo o que vocIe chama de "inovador".

Você já ouviu a Rumpilezz alguma vez?

Jordi disse...

"Recife e Salvador sempre lideraram, cada uma a seu modo, a renovação estética do país". É uma tese, que se enquadra com perfeição na minha ideia de umbigocentrismo. Mas, como dizem no sul (e provavelmente na Bahia e em Recife também, assim como em Rondônia), palpite e bunda todo mundo tem...

Anônimo disse...

Dê uma olhada no site www.siri.etc.br
Beleza pura!

Lucas Jerzy Portela disse...

Jordi,


e eu continuo achando alucinante como você não vê renovação estética na Orkestra Rumpilezz.

Já ouviu alguma vez?

"umbigocentrismo" é não reconhecer a locomotivo cultural que foi a Recife no MangueBeat, com seus efeitos muito para-além do nordeste-franco.

Jordi disse...

Sim, Lucas, já ouvi a Orkestra Rumpilezz, muito boa música, mas reafirmo o que eu disse (recomendo uma viajadinha pelo Caribe). Mas acho alucinante que ainda se trabalhe com teses que buscam pedras duras como 'cidades que lideraram a reforma cultural da década' (tudo aí é pressuposto questionável, que houve 'reforma cultural', que houve 'cidades líderes', que isso aconteceu por décadas - uma para Salvador e outra para o Recife, etc). O Manguebeat foi boa música, pouco mais que isso, mas na maior parte do país, tocou um tempo nas rádios FM e não reformou a estética de nada. Acho que o problema são os horizontes, as totalizações minimizantes, as ideias de país e as visões de mundo.
O nordeste do Brasil tem uma diversidade musical muito maior do que, por exemplo, o sul. O Recife é um dos lugares mais ricos do mundo nesse aspecto, mas o alcance real da música nordestina no resto do país passa mais pela locomotiva da Ivete Sangalo do que pelo Manguebeat.

Alucinante.

Lucas Jerzy Portela disse...

kkkkkkkk

Rumpilezz não tem nada de nada de nada de nada de nada de música caribenha.

É samba-reggae, cabila, vassi, barravento, toque de angola, ijexá e pagodão/samba-duro.

Coisas que só se encontram no Reconcavo Bahiano.

a novidade é isso tudo com roupagem de jazz sinfonico.

de fato, você não faz a menor idéia do que está falando, Jordi...

Lucas Jerzy Portela disse...

Jordi,


informe-se sobre a reforma cultural bahiana em curso agora, e venha pular um carnaval aqui.


abadá + bloco de corda + axé é uma coisa pra paulista ver.

o carnaval de verdade eh fora das cordas, e não se ouve axé-music. Ouve-se pagodão, samba-reggae e frevo eletrico. E por "frevo eletrico" eu nao digo apenas Armandinho Macedo, mas a renovação da Guitarra Bahiana com Retrofoguetes e o Baiana System (que se voce tambem nao acha inovador, voce tem problemas...)

você, como Feil, tá buscando a musica brasileira que se faz hoje (um dos melhores e mais inovadores momentos de sua historia) no que a Globo mostra de Ivete? Assim não dá...

Jordi disse...

Caro Lucas

Já passei carnavais na Bahia e no Recife (o último no ano passado), jamais em bloco de corda nem usando abadá, já morei em Cuba, terra de muita música de linhagem africana, nos Estados Unidos, terra do jazz, e continuo achando o que acho. Mas mesmo que nunca tivesse ido a lugar nenhum, teria direito de ver as coisas de outra forma. Nunca disse que não havia renovação cultural na Bahia (nem que havia), só que ela não lidera nada em termos de país atualmente. Nunca olho a Globo, acho que o Feil deve olhar pouco, mas sei que o meu gosto não provoca renovações estéticas no país.
Mas, amigo, aqui se encerra nossa conversa, não costumo dialogar nesses termos de "não faz a menor idéia do que está falando" só porque o outro pensa diferente. Isso é puro umbigocentrismo e miopia precoce. Sugiro que tomes um porre de humildade e, quando a ressaca passar, saias a ver mundo.

Um abraço

PS: obrigado pelas dicas musicais, nem tudo eu conhecia e tem coisa realmente boa aí.

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