Você está entrando no Diário Gauche, um blog com as janelas abertas para o mar de incertezas do século 21.

Surf no lixo contemporâneo: a que ponto chegamos! E que mundo deixaremos de herança para Keith Richards?

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Aumento dos juros drena 11 bi para os bancos


A volta do Mandrake

Lá vêm eles, de novo, dar outra volta na torneirinha mágica. E, desta vez, parece que é para soltar um jorro mais forte. Estão ameaçando com um aumento de 0,75 ponto percentual na taxa de juros. Até parece que alcançamos o pleno emprego e que não existe outro remédio para conter um suposto aquecimento da demanda que estaria atiçando o monstro da inflação.

Existem outras medidas, até mais eficientes, para conter um eventual aquecimento da demanda, como a majoração nos depósitos compulsórios dos bancos, ou algumas restrições creditícias. É claro que tais medidas são contrárias aos interesses do sistema financeiro, principal beneficiário do aumento da taxa de juros, que, por sua vez, vai se constituir em mais um poderoso estímulo a massivas entradas de capitais especulativos e consequente valorização artificial do real, em prejuízo de nossas exportações e barateando as importações, freios cumulativos à produção e ao emprego nacionais.

Espalha-se por aí um pavor pelos efeitos que provocaria sobre o orçamento federal um aumento adicional de 0,75 ponto no reajuste dos aposentados do INSS que recebem acima de um salário mínimo. Esse diferencial representaria aproximadamente R$ 1,5 bilhão de aumento no chamado déficit da Previdência. Ora, o aumento da taxa de juros em 0,75 ponto vai gerar um ônus adicional ao Tesouro de não menos que R$ 11 bilhões, no valor dos juros a pagar sobre a dívida pública e, portanto, no déficit total. Claro, quem vai receber esses R$ 11 bilhões é o sistema financeiro. Danem-se os milhões de aposentados e os novos desempregados gerados pelo desestímulo ao investimento e à produção, pela maior taxa de juros e pela contenção do “perigoso” aquecimento da demanda.

Com essas considerações, pretendo desmistificar, mais uma vez, a ação deletéria do Mandrake e sua torneirinha mágica.

Numa economia como a nossa, com alto nível de desemprego, é criminosa toda política orientada à redução do dinamismo do sistema econômico. Sensatas seriam as políticas de estimulo à ampliação do potencial produtivo e à utilização da capacidade instalada, gerando a oferta que irá atender a bendita expansão da demanda, que tanto assusta os apologistas da estabilidade como um fim absoluto. Medo de crescer 5% ao ano, enquanto os chineses crescem a mais de 10%, sem medo de ser feliz? Nossa meta deveria ser de crescer numa média de 7% ao ano, para dobrar nossa renda per capita em 10 anos. Depende somente de vontade política. Potencial para isto o Brasil tem.

Artigo do economista Walter Hahn, consultor da FAO/ONU e conselheiro da Sociedade de Economia do Rio Grande do Sul. Publicado ontem no jornal Zero Hora.

2 comentários:

Jean Scharlau disse...

O que faz da grana para os aposentados um "problema" é que a grana iria para os pobres.

Já os 11 bi a mais na Selic vão, junto com os outros ~180 bilhões da Selic, para os ricaços e poderosíssimos, então está tudo tranquilo.

Remindo disse...

Estes comentaristas de plantão não entendem nada de macroeconomia e muito menos do governo Lula, se dá para crescer 7% sem risco, porque tentar crescer 10 arriscando o que já ganhamos. Quanto ao aumento dos aposentados, foi o maior aumento REAL que eles já ganharam em todos 510 anos do Brasil. Eu sou aposentado e apoio a política economica de Lula. Dálhe Lula. Dilma 2010.

Contato com o blog Diário Gauche:

cfeil@ymail.com

Arquivo do Diário Gauche

Perfil do blogueiro:

Porto Alegre, RS, Brazil
Sociólogo