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quinta-feira, 15 de abril de 2010

Oligopólio dos bancos impede a queda dos juros, diz o ministro Mantega


Presidente Henrique Meirelles estava junto quando o ministro da Fazenda fez a declaração

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, voltou a criticar os bancos privados na manhã de ontem. Para ele, o setor financeiro é "oligopolizado" e a falta de competição é um dos limitadores para a queda dos juros para os tomadores finais. A atuação mais agressiva das instituições financeiras públicas nos últimos anos, que oferecem taxas mais baixas, segundo o ministro, melhorou a situação, mas ainda não é o suficiente. A informação está no jornal Valor Econômico, edição de hoje.

"Falta concorrência no setor financeiro, que é oligopolizado. Mas está sendo estimulado pelos bancos públicos. Graças a eles, há mais competitividade. Mas está aquém do que gostaríamos", disse o ministro em audiência pública na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Dívida Pública, na Câmara dos Deputados. "Quando o crédito for mais barato teremos uma expansão maior", completou.

Aproveitando a oportunidade para enaltecer o ritmo de expansão do PIB, "o maior ciclo de expansão da economia nos últimos 30 anos", o ministro afirmou que a economia brasileira "não tem medo de crescer", mas que o país tem de ir "devagar para não atropelar" um crescimento sustentado. "A virtude do nosso crescimento é que é equilibrado. Se crescêssemos a 10% ou 11%, geraríamos desequilíbrios. Entre 5% e 5,5% é um patamar satisfatório para a economia", disse, ao comentar se o Brasil poderia crescer em ritmo chinês.

Com relação ao nível de endividamento público, tema da CPI, Mantega afirmou que "não é pecado ter dívida pública". Ele completou dizendo que a situação hoje é diferente do passado, quando a dívida externa era "um sério problema para o país, nos deixava de mãos atadas, à mercê dos credores internacionais, seguindo ordens, uma coisa vexaminosa".

Também presente à audiência, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles fez uma rápida apresentação sobre a trajetória cadente do custo da dívida pública. O Brasil fez "uma inversão de um ciclo vicioso para um ciclo virtuoso" na economia. "Uma política econômica deve ser medida pelos resultados. Não se pode analisar apenas itens pontuais", afirmou, ao discursar sobre a melhoria dos indicadores macroeconômicos.

Meirelles disse ainda que a economia brasileira apresenta uma situação de "indubitável" melhora, cabendo ao governo trabalhar e aguardar que as agências de rating revisem a classificação do país. "Vamos deixar as agências de riscos fazerem o trabalho delas. Estamos fazendo o nosso e esperamos ser reconhecidos", disse em rápida entrevista coletiva ao final da audiência.

O presidente do Banco Central preferiu não fazer comentários sobre política monetária e também não confirmou as chances de nova elevação nos depósitos compulsórios para os bancos. "Não pré-anunciamos decisões de política monetária", afirmou, reiterando que a recente devolução de quase R$ 71 bilhões para os cofres do BC restabeleceu o compulsório a níveis próximos aos praticados antes da crise e que a medida está ligada apenas à liquidez do sistema financeiro.

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Guido Mantega foi no nervo da questão, justo no momento em que o presidente do BC se sente livre para anunciar que o Copom vai decretar nova corrida altista nos juros brasileiros. Henrique Meirelles, o soberano da política econômica do lulismo de resultados, anunciou em Porto Alegre, segunda-feira passada que os juros subirão em 15 dias - na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil.

Guido Mantega está querendo dizer que o Brasil está colonizado pelos poderosos senhores do oligopólio bancário-financeiro. Este é o ponto. Vive-se no Brasil sob o jugo da hegemonia do mercado financeiro. Gostaria que isso não fosse verdade, sei que os petistas torcem o nariz para esse enunciado amargo, porém realista, mas eles tem que torcer o nariz é para o presidente Lula que ficou sete anos prisioneiro na jaula de ferro do pacto financeiro. E cumpre-o à risca, sem direito à liberdade condicional. O que Mantega está dizendo é o seguinte: é hora de denunciar esse compromisso, o pacto Palocci/bancos está vencido, fizemos a nossa parte, os bancos se verticalizaram mais e mais, os bancos ganharam muito dinheiro com o nosso governo, os rentistas e especuladores ficaram mais obesos de riqueza amealhada à custa do trabalho da Nação, é hora, pois, de dar um basta nisso.

Esse é o recado compacto e sintético de Guido Mantega.

Dilma Rousseff precisa resolver essa equação política: repactua o compromisso de classe com a banca e alonga a agonia do nosso jugo colonial por mais um quadriênio ou põe o pau na mesa e oferece um cronograma de contrapartidas firmes que os bancos devem cumprir em prazos escalonados a fim de permitir que o Brasil volte a crescer a taxas compatíveis com as nossas necessidades de resgate da dívida social e não das veleidades privadas e a ganância sem fim dos mercados financeiros, que, diga-se de passagem, estão em baixa no mundo todo.

A conjuntura internacional favorece essa segunda opção. Só no Brasil os bancos ousam aumentar juros, sem que o governo central não dê um pio de censura ou interdição, mesmo.

Foto de Valter Campanato/ABr: O ministro da Fazenda, Guido Mantega, falou ontem na CPI da Dívida Pública, na Câmara de Deputados; ao lado, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, arrogante, finge ignorar o que está sendo dito.

P.S.: É significativo que essa notícia relevante não tenha saído nos jornais Estadão, Folha, O Globo, e Zero Hora. Como se vê, ao PIG não interessa expor as contradições de seu inspirador ideológico e principal provedor comercial, o capital financeiro e especulativo. O debate sobre o caráter oligopolista dos bancos brasileiros está proscrito pelo PIG, evidentemente.

4 comentários:

Carlos Eduardo da Maia disse...

Por que, então, os bancos publicos, administrados por políticos ligados ao pop presidente, como Banco do Brasil e Caixa Federal, não baixam os seus juros? Se BB e CEF baixassem os juros induziria o mercado a fazer o mesmo. Mas isso não é feito. E por que não é feito?Resposta óbvia, não existe interesse dos bancos estatais em reduzir os juros. Por que será? Porque alguém lucra com isso. E nos prometeram um Brasil decente.

Carlos Eduardo da Mágoa disse...

ô, bobalhão, os juros dos bancos oficiais são mais baixos, em média, para serviços comparáveis. E ainda fazem financiamentos específicos a juros que nenhum banco provado faria.

Mas o presidente 'pop' tá difícil de a urubuzada engolir, né?

Que mágoa, rapaz...

"Deixe em paz meu coração..."

Carlos Eduardo da Maia disse...

Sim, são mais baixos, mas essa diferença entre os juros cobrados pelos bancos privados e oficiais é microscópica, poderia ser maior.

Eu sou daqueles que acha que a administraçaõ do "lulismo de resultados" é boa, mas não voto na candidata do PT, por uma série de motivos. Uma coisa é ter popularidade e outra é ver essa popularidade revestida em votos para uma candidata que não se elegeu nem para síndica de prédio.

Anônimo disse...

Errado, pra variar. A diferença não é microscópica, principalmente porque os bancos públicos prstam serviços que os privados não querem, pois não enriquecem banqueiro nem os acionistas.

Ah, que dizer que se o candidato fosse o Lula tu votarias? Ele se elegeu para várias coisas... Pois que sabe ainda vais ter a oportunidade?

E se o problema é se eleger, então a eleição legitimará a Dilma, e as tuas mágoas serão afogadas em petróleo do pré-sal?

"que ele é um poço até aqui de..."

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