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Surf no lixo contemporâneo: a que ponto chegamos! E que mundo deixaremos de herança para Keith Richards?

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Guerra civil no Rio de Janeiro


Efeito Colateral

Antes de escrever sobre o quero escrever acho importante situá-los da atual situação político-criminal do território de onde falo. A Vila do João, onde moro, junto com mais cinco favelas era “dominada” pela facção criminosa A.D.A. (Amigos Dos Amigos). Essa facção mais as facções CV (Comando Vermelho) e TCP (Terceiro Comando Puro) e os Milicianos, são responsáveis pelo “domínio” territorial, político, econômico e social das dezesseis comunidades que compõem o bairro Maré. Essa é a composição da disputa geográfica dos grupos armados em confronto no bairro Maré.

Como podem imaginar, a relação entre essas facções se dá pelo confronto armado na disputa por ampliação do controle territorial. O que acontece hoje na Vila do João e as demais favelas que eram controladas pela facção ADA. É uma investida muito forte da facção rival TCP, que dominou 50% do território que antes era controlado pela facção ADA e, ainda tenta conquistar os outros 50%. A ADA por sua vez tenta assegurar o que lhe restou e tentar recuperar a parte que perdeu, sem muito sucesso, até o momento.

Esse é um pouco o cenário atual. Não é preciso lembrar que são grupos com armas de grosso calibre, sem nenhuma preparação e ávidos por vingança. Isso vai dar numa constante troca de tiros e investidas sucessivas por ambas facções. Desses confrontos quem mais sai prejudicado é o(a) morador(a). Somos nós as vítimas do chamado efeito colateral. Os relatos e depoimentos são os mais tristes, preocupantes e trágicos que se possa imaginar. Nunca antes, na minha história dentro da Maré tive tantas pessoas próximas vitimadas de alguma forma, pelos confrontos entre facções rivais ou entre facções e a polícia.

Morreu um senhor morador da minha rua na quinta-feira passada [23/7] porque foi obrigado a transportar traficantes em meio a uma imensa troca de tiros. A Kombi foi fuzilada pelos traficantes rivais e o senhor morreu. Meu vizinho teve a casa fuzilada e invadida porque traficantes invasores que pensaram terem visto inimigos na casa dele. Ele tem mulher e filha pequena e sua mãe mora na parte de cima da casa. Ontem [28/07/2009], fiquei perdido no meio de uma troca de tiros em meio a uma escuridão provocada por uma queda de energia e soube que um amigo tomou um tiro na perna. Meu irmão, “veterano de guerra” relembrou os tempos de palafita e teve que rastejar em casa para chegar aos interruptores e conseguir apagar as luzes da casa e assim evitar um possível pedido de guarida por algum traficante. Em outro caso, um amigo nosso teve a casa invadida por policiais e foi acordado com fuzil na cara. São inúmeros os casos. São muitos os óbitos. São vários os feridos
fisicamente, socialmente e psicologicamente.

Pessoas inocentes, trabalhadores, pais de família, cidadãos. Pessoas que estão tendo arrancado de si a esperança de uma vida melhor. Que vivem o medo e o risco eminente de uma morte violenta e sem terem a quem pedir socorro.

Como exigir dessas pessoas um voto “consciente”? Como convencê-las de procurar os meios legais para reivindicar seus direitos se nem mesmo se veem como sujeitos corporificados de direito? Cadê o acesso aos instrumentos legais? Onde estão os tais Direitos Humanos, tão ventilados nos últimos tempos? É necessário urgentemente criar meios de acessibilidade a mecanismos que garantam direitos primordiais como o direito de ir e vir e, principalmente, o direito a vida. Sem a garantia de acesso a esses mecanismos fica muito difícil mudar a cultura do macaquinho que nada ver, nada sabe e nada ouve.

Nesses dias de luto e violência tem me levado a refletir mais sobre a favela. Por mais que a violência tenha crescido junto com as favelas, ela [a favela] sempre tentou manter o que mais tem valor: a alegria e a força do seu povo. Mas só isso não basta. Precisamos sair as ruas. Precisamos lutar por dignidade, por respeito, pela vida. Ultimamente só vejo medo nos olhos das pessoas. Nem mesmo o baile funk tão necessário para descarregar nossas angústias e depressões existe mais. Está proibido pela polícia. Chegaram a ponto de proibir sua execução em festa particular, é repressão demais.

Tenho andando assustado, quase não paro na rua, não vejo meus amigos, me assusto com criança correndo, barulho de moto, gente gritando, com o silêncio. Quantos de nós passamos por problemas psicológicos? Quantos sabem disso? Assim tem sido nossos dias e noites. Do jeito que tá não da pé, do jeito que tá só a fé.

Depoimento do geógrafo Francisco Marcelo, morador da favela da Maré, no Rio e pesquisador do Observatório de Favelas do Rio de Janeiro (observatoriodefavelas.org).

26 comentários:

Anônimo disse...

Um relato estarrecedor e apavorante.

André F. disse...

Acho que é o Rio de janeiro que sofre mais com essa guerra.Porque S.paulo tem um tráfico mais disseminado;os traficantes stão mais espalhados!Esse negócio se trata liberando o consumo de droga.Quer cheirar,tem direito.Paga o seu ônus e pronto.Deixar na ilegalidade mais estimula o consumo e gera,é lógico,um mercado irresistível!É grana muito fácil!Com a disseminação do pó na favela esse negócio explodiu.Nenhum "beneficiário" dessa situacão vai apoiar a descriminalização com controle oficial. Os dois mercados mais rentáveis do mundo (droga e arma) tem lugar garantido entre nossa indiferença e preconceito,e recebem até um estímulo da nossa hipocrisia.Enquanto isso o pessoal deita no chão e apaga a luz prá não morrer!!!

André F. disse...

PS:...Ontem casualmente reprisou na net o òtimo filme SCARFACE(Al pacino...)sobre o assunto...

Carlos Eduardo da Maia disse...

Isso se chama ausência de Estado. Ausência de serviço público de qualidade. Quem melhor resolveu esse problema na América Latina foi o governo da Colombia, que vem urbanizando as favelas, montando escolas públicas, melhorando a qualidade dos transportes públicos -- em Bogotá o acesso a algumas favelas é feito por "bondinhos" etc. Na Colômbia, por exemplo, o motoqueiro tem que usar capacete com o número da placa, senão é multado. A América Latina oferece soluções razoáveis e eficientes ao combate do tráfico. E sempre, sempre e sempre com a participação do Estado, com o fundamental serviço público. E tem gente que defende estado mínimo. Temos que defender Estado eficiente e que efetivamente funcione.

Anônimo disse...

31/07/2009 - 11:23

'VEJA' NA SALA DE AULA

Conteúdo dos blogs da revista Veja

Por João Maria Fernandes - Blog do Nassif

“Por que não, então, um gay para suceder Lula? Branco ou preto? Esperem! Vamos fazer logo um “combo” de minorias. A candidata poderia ser mulher, negra e lésbica. E acho que a gente deve acumular experiências, incorporando qualidades de minorias passadas. Poderia ser mulher, negra, lésbica, meio analfabeta e eventualmente sem dedo. O “eneadactalismo” passaria a ser uma exigência para chegar ao topo”.

Zé Bronquinha disse...

De Sarney a Lula, o contorno desses governos em pensar o Estado,seu tamanho , eficiência e eficácia, fica por conta das teses liberais.O que acontece no Rio não é mais que um caminho organizativo e econômico, não ideológico formado e tomado por facções.Governos de negócios com entes privados, corruptos, polícia mal paga e parte igualmente desonesta, poder judiciário comandado por amigos banqueiros e latifundiários.Querem o quê?Como sempre o povo pobre paga a conta!

Anônimo disse...

Boas notícias para o povo do RS que já deve estar cansado de tanto escândalo no Governo Federal.
Hoje pela manhã, ouvindo o excelente radialista Rogério Mendewski, momento em que entrevistava o Exmo. Sr. Victor Faccioni, ficamos sabendo que as contas de 2008 do Governo Estadual foram aprovadas. Houve algumas ressalvas que o conselheiro do Tribunal de Contas explicou serem perfeitamente aceitáveis na maneira em que é praticamente impossível atendê-las em quase todos os Estados. Seguindo um velho didato significa "o que não tem remédio, remediado está".
Como seria bom segunda-feira o Mendewski noticiar que acabou o roubo na Petrobrás, mandaram o Presidente da Estatal para rua e o fizeram devolver tudo o que foi desviado, etc, etc...
Mas acho que isto sim é mais impossível que cumprir todas as exigências cosntitucionais para se ter as contas aprovadas 100%.

Anônimo disse...

Não há dúvida de que, a médio prazo, o que quebra este ciclo de violência é o Estado atuar na favela, levar escola e assitência social.

A curto prazo, no entanto, pra garantir que esse cidadão possa sair na rua para trabalhar e voltar no fim do dia para sua casa sem levar um tiro, o que se tem que fazer é estancar essa guerra do tráfico.

Que se bote lá o representante do Estado mais adequado a um cenário de guerra: o exército. Que façam esses vagabundos que subjugam a população honesta irem brincar de guerrinha atrás das grades.

Anônimo disse...

Bem, se o Merdelski disse...

Hélio Sassen Paz disse...

Cristóvão,

Excelente. Eu morei no Rio durante um ano e sei como é o complexo da Maré.

No mais, uma sugestão de pauta. Acabei de ler o post do Azenha no Vi o Mundo com a colaboração de Celso Lungaretti sobre Folha e Sarney.

http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/lungaretti-caem-as-mascaras/

Perrgunto: afora as acusações de nepotismo, de vínculo com a ditadura e com a direita reacionária e de corrupção, em outros quesitos, não poderíamos dizer que Pedro Simon seria uma espécie de Sarney guasca?!

[]'s,
Hélio

Anônimo disse...

http://www.cic.unb.br/~pedro/trabs/fraudeac_files/fraudeac.pdf

“Anatomia de uma fraude” – Adriano Benayon.

Anônimo disse...

Hélio, até onde sei o Simon não ficou milionário na política. Outro item.

Não força a barra. Sei que a esquedralha guasca resolveu perseguir o véio agora, com sua máquina de sujar reputações. Mas não vão conseguir apagar a biografia do Simon.

Com todos os defeitos que qualquer senador gaúcho possa ter, a verdade é que eles não condenaram seu estado à pobreza, como fez Sarney, Barbalho e tantos outros que integram esse tipo de político corrupto.

Amanda Lins disse...

E o que tu achou da nova lei de imprensa do Chavez?

Anônimo disse...

Minha cadela deu cria!!

Anônimo disse...

Quem tá sujando a reputação do Simon é... o Simon.

Anônimo disse...

Essa esquerdalha guasca e sua máquina de sujar reputações não tomam jeito, estão emporcalhando a história honrada do Simon, do Vaz Neto, do Germano, da Yeda, do marido da Yeda, do Lair, do Cavalcante (ops, esse não conta mais)

João L. disse...

Do viado do Maia...(ops,esse não conta mais)

Carlos Arruda disse...

Do Anônimo "Bixa Loka".(ops,esse não conta mais).

Jordi disse...

Quem vinha reclamando que não se divulga a agenda da Yeda? Pois sua assessora de imprensa Vivian Rosane de Oliveira Eichler está fazendo direitinho seu dever de casa.

“À tarde, Yeda despachou com o chefe de gabinete, Ricardo Lied, e com assessores jurídicos da Casa Civil, que levaram pilhas de papéis da Capital. Ela assinou convênios nas áreas da saúde, agricultura e desenvolvimento. A governadora gravou, ainda, um vídeo para a TV Piratini para divulgar a contratação de ambulâncias em caráter emergencial por 120 dias.”

Outras coisas hilárias da ocupante interina da colmeia:

“Até o coronel Paulo Roberto Mendes, ex-comandante-geral da Brigada Militar, apareceu por lá. Mendes se reuniu durante 40 minutos com Yeda e disse apenas que foi entregar à governadora um mimo especial.”

“Até sugestões como a de que o Palácio Piratini deveria adotar um critério e afastar integrantes sobre os quais recaem suspeitas não precisariam ser repetidas.”

Curioso, “o Palácio” deveria afastar suspeitos? Mas então quem afastaria a chefe da quadrilha, sobre a qual desabam muitas suspeitas?

André F. disse...

O MIMO especial é uma Espada prá Véia afastar algum justiceiro ensandecido!!

Curunílha disse...

Só se fosse espada de são jorge!

Oscar T. disse...

Incrivel a capacidade dos leitores e comentaristas desse blog em desviar do assunto!!
Mas este relato do morador é um reflexo de décadas de liberalismo, de ausência de Estado, de total tolerância c/ os usuários, consumidores de drogas da classe média.

Anônimo disse...

Incrível a capacidade dos chatos de dar lição de moral nos outros por desviarem o assunto, depois dizer um lugar-comum no melhor estilo 'Tropa de elite'.

Anônimo disse...

Depois do primeiro corno, a Rainha Loka está precisando mesmo é de um espada.

Gabriela B. disse...

O prefeito, o governador, o deputado os vereadores do rio, estão ligados diretamente com o crime organizado das favelas. Falam do erro dos EUA em relação a guerra no Iraque, mas temos ''isso'' em nosso país!!!!. Nossos '' representantes'' não exercem função nenhuma visando diretamente os interesses da população. Somos a maioria, temos que nos unir, e consientizar a todos do nosso poder!!. Onde estão os protestos! onde estão as reividicações!!!! Somos um país democrático!!!!!!!!! Não estamos na ditadura!!!!! Unidos somos fortes!!!!!!!! Isso deve ser diceminado!! Protesto já, contra o crime organisado nas favelas e pelos políticos corruptos! Os políticos são mais corruptos do que os marginais das favelas, porque eles (os políticos) não sofreram influência da precariedade de se viver, sempre tiveram uma linha linear de boa educação e cultura, somente pela busca do SUPERFLÚO que é enriquecer cada vez mais q eles cometem essas atrocidades. Eles tem mais do que necessitam para viver e para eles isso não basta.

Athos... disse...

Os empresários controlam a mídea, e para os políticos a auxiliar, a TV apresenta somente o que é de interesse dos políticos. Essa guerra cívil no rio só explodiu depois das eleições, agora no final de novembro de 2010. O governo não tenta ver com os olhos da populaçãoa situação real que se encontra nossa país. Todos fazem parte de uma corja de lúcifer.

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