Quanto bravura neste pequeno corpo!
Sou um cara que coleciona fotografias. Amador, tenho uma coleção razoável delas, todas digitalizadas. Uma foto que sempre me chamou a atenção, pelo seu caráter forte e enigmático, foi essa aí. Uma certa menina se recusa a cumprimentar o ditador general Figueiredo, que lhe estende a mão, imperativo e intimidatório. Ela resiste, escondendo as mãozinhas sob os braços ousados.
Um gesto forte (politizado, apesar dos cinco aninhos de sua protagonista) que simboliza o cansaço popular para com a ditadura que golpeara um governo civil e democrático em 1964. Uma homenagem de todos nós ao Dia Internacional da Mulher, a ser comemorado amanhã, 8 de março.
Pois agora recebo e-mail do velho jornalista Rui Martins, que vive em Genebra há muitos anos, e que está ajudando a procurar essa menina-mulher que disse não a tudo o que representava o general Figueiredo. Eis o texto que recebi, contando a história da fotografia, seu autor e a busca pela menina-mulher anônima.
Algumas imagens “falam” por si sós. É o caso desta foto de Guinaldo Nicolaievsky, que desafiou a ditadura militar com uma birra de criança – uma menina de muita personalidade, que se negou a apertar a mão do então presidente, general João Baptista de Oliveira Figueiredo (1918-1999), mesmo sob insistência dos fotógrafos. Neste Dia Internacional da Mulher, a BR Press lança a campanha Quem É Esta Garota? e procura a menina da foto – que, quase 30 anos após o início do governo Figueiredo, em 1979, também simboliza o início da abertura política no Brasil.
Esta menina – hoje mulher – deve ter boas recordações de sua rebeldia. Ela não parecia convencida de que Figueiredo daria continuidade ao projeto de abertura com a Lei de Anistia, aprovada em agosto de 1979, que, apesar das restrições e de ter anistiado torturadores e assassinos a serviço da Segurança Nacional, permitiu aos exilados, presos políticos desde 1964, a saída da clandestinidade.
E foi a presença de espírito deste repórter fotográfico veterano e admirado que é Guinaldo Nicolaievsky, então à serviço de O Globo,
Com a palavra, o autor da sensacional imagem:
“Lançamento do carro a álcool
Guinaldo Nicolaievsky continua e aqui vem a melhor parte da história: “Corri para a redação para revelar e transmitir a foto para o Rio. Para minha surpresa eles [redação de O Globo] não publicaram a foto. Desconfiaram! Queriam o “cumprimento”. Fui ameaçado de dispensa caso não entregasse o fotograma. Foi exigido que mandasse o filme sem cortá-lo, no primeiro vôo para o Rio. O que foi feito. Não publicaram nada… resolvi por minha conta, mandar para outros veículos, que publicaram com destaque, até no Exterior.”
Quem souber do paradeiro da “menina” que negou a mão ao general ou caso ela mesma se depare com esta mensagem, favor entrar em contato com pauta@brpress.net.
8 comentários:
Esta história nos enche de orgulho.
um abraço e obrigada pela bela nomenagem.
Carmelita
Bela homenagem às mulheres, maior ainda por ser com a força de uma criança que não sujou suas mãos.
armando
devia era ter cuspido na mão desse canalha, digno ancestral dessa jaguarada rastaquera dos pp=pds=arena e demos da vida...
Cristóvão,
Parabéns pela melhor homenagem possível ao Dia Internacional da Mulher que encontrei na blogosfera esclarecida e politizada! ;)
El Barto,
A menina demonstrou ser uma pessoa MUITO MELHOR ao apenas recusar-se ao cumprimento do que se tivesse sido agressiva.
Isso enobrece ainda mais o seu pequeno grande ato.
[]'s,
Hélio
Prezado Cristóvão!
Sem dúvida uma grande homenagem as mulheres!
Pergunto, seria difícil descobrir quem estava na redação do dito jornal naquele dia??
Abraços!
Humberto
Gente, quem dá significado a esta birra infantil somos nós, adultos e agora. Não significa que a menina tivesse noção do contexto daquele momento aos 5 anos de idade. Talvez - talvez - ela tenha ouvido um comentário do tipo "ah, hoje vais apertar a mão do presidente" em casa e terminou agindo de forma birrenta, e, só para contrariar, a menina fez o que fez. Não credito a ela uma consciência política para justificar tal gesto.
Lembro os meus 5 anos e ainda morava na Argentina. Me recusava a tirar foto com minhas coleguinhas de jardim de infância; não dançava, de propósito, as coreografias em dia de festa. Tudo para fazer birra, para ser a diferente!
Isso não é birra Claudia. Essa menina ouviu de seus pais que esse não era o cara. Ponto.
Mesmo se ela não tivesse noção do que estava acontecendo, ela poderia muito bem não ver nada de bom naquele homem e pronto. Minha professora de história enche o peito com orgulho para dizer que, quando o presidente figueiredo veio para a minha cidade, ela não balançou a bandeirinha do Brasil que disseram que era pra ela balançar e mesmo a professora dela dizendo que se ela não balançasse os pais dela iam ser presos.
Ela não balançou porque não viu motivo nenhum pra sacudir a bandeira para um homem que ela nem sabia quem era. Tem personalidade aí e nada de birra.
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