O general em seu labirinto
O velho militante de esquerda Diógenes de Oliveira, que agora irá gozar as privilegiadas delícias de perceber a indenização de R$ 1.627,72 por mês, segundo notícia de Zero Hora de hoje, comprou briga com um osso duro de roer. Trata-se do general Francisco Batista Torres de Melo, que ataca Diógenes hoje nos jornais.
O velho general Melo é um recalcitrante por excelência, e agora no crepúsculo da vida procede como Garcia Márquez dizia de Simon Bolívar, na obra “O general em seu labirinto”: o velho general revolta-se com "a melancólica certeza de que há de morrer na cama, pobre e nu, e sem consolo da gratidão pública".
O general, coordenador do grupo ultra-direita Guararapes, assim se pronuncia nos documentos que divulga a seus ex-companheiros de caserna (neste excerto de 2005):
"Não vou perder a minha esperança. Um dia, ainda antes de morrer irei ver na cadeia esses comunistas - não venham dizer que estou abusando de adjetivos, pois, o Carlos Lacerda gostava deles e o estou imitando - os abjetos, os abomináveis, os amorais, os biltres, os canalhas, os crápulas, os cafajestes, os caras-de-pau, os covardes, os cretinos, os cínicos, os debochados, os descarados, os desmoralizados, os depravados, os desprezíveis, os desavergonhados, os devassos, os execráveis, os gatunos, os infames, os falsos, os idiotas, os imorais, os indignos, os impudentes, os larápios, os ladrões, os libertinos, os mentirosos, os mentecaptos, os obscuros, os patifes, os pusilânimes, os poltrões, os pornográficos, os pulhas, os ratos, os reles, os safados, os tratantes, os velhacos, os vis.
Grite. Revolte-se !
"Conclamo a que, onde estivermos, tenhamos a coragem de gritar. Não podemos ficar esperando que só os camaradas da ativa sejam responsabilizados. Nós estamos vivos e pertencemos às FORÇAS ARMADAS.
Chega de tanto comodismo. É a hora da luta, de mostrarmos que temos vergonha na cara. Lembre-se que os camaradas da reserva estavam vivos em 64.
Ficar em casa é um crime de lesa-Honra, quem sabe, até de lesa-Pátria.
Não podemos aceitar que o nosso País seja governado por incompetentes e marginais e mentirosos.
É fundamental que os nossos BRADOS não sejam esquecidos. Não há do que nos envergonharmos." Estou me dirigindo, portanto, aos HOMENS DE BEM DE MEU PAÍS e às minhas queridas FORÇAS ARMADAS.
A Marinha diz: SUSTENTAR O FOGO QUE A VITÓRIA É NOSSA!
O Exército fala: SIGAM-ME OS QUE FOREM BRASILEIROS!
A Aeronáutica exclama: BANDEIRANTES ALTIVOS DO AR!
Não preciso dizer mais nada. Acredito na VERDADE E HONRA DA FARDA.
Assinado: General Francisco Torres de Melo
Pelo visto, o general não usa pijama, apesar de reformado há anos. Dorme fardado e de coturnos.
37 comentários:
Eu escolho qualquer desses adjetivos que o general cita, só não aceito "homem de bem". Pra mim esse é o ultraje maior, ser chamado de homem de bem.
ugo tozzi
Além de atazanar a vida de milicos como esse, nosso amigo Diógenes comentou hoje que muita gente boa do PT, os mais éticos é certo, fica incomodada com a referência, equivocada, de que ele teria sido Dirigente do Partido.
Além de atazanar a vida de milicos como esse, nosso amigo Diógenes comentou hoje que muita gente boa do PT, os mais éticos é certo, fica incomodada com a referência, equivocada, de que ele teria sido Dirigente do Partido.
calma tiozinho, calma, amigo, amigo... vai tomar o remedinho, tá na hora...
Isso é chavismo. Ou seja, fazer cortina de fumaça em torno de uma crítica de um general de pijama e deixar a segundo plano uma grande e imensa vergonha nacional. Vejam o que fez Diógenes de Oliveira, segundo artigo do Gaspari: No dia 24 de janeiro passado, o governo concedeu-lhe uma aposentadoria de R$ 1.627 mensais, reconhecendo ainda uma dívida de R$ 400 mil de pagamentos atrasados.Em 1968, com mestrado cubano em explosivos, Diógenes atacou dois quartéis, participou de quatro assaltos, três atentados a bomba e uma execução. Em menos de um ano, esteve na cena de três mortes, entre as quais a do capitão americano Charles Chandler, abatido quando saía de casa.
Não sei o que é pior, o Macalão ser reintegrado no emprego ou o Diógenes ter sido premiado com 400 mil paus e mais pensão mensal vitalícia de 1.600. E o carinha que o Diógenes tirou a perna não recebe nada. Este país é mesmo uma vergonha.
acho que estou incurso em todos os adjetivos que o general aponta, menos o de energúmeno reacionário
O general grita, quando grafa com letras maiúsculas ele está gritando. Como todo milico valente.
callado
De quantos combates, combates de guerra mesmo, esse general participou? É fácil ficar brabo contra inimigos abstratos e sem cara, uma guerra ideológica, mais fruto da própria neura, do que propriamente uma luta real.
Acho que ele dorme de coturnos mesmo, Feil.
callado
Olha, isso tudo seria cômico se não mostrasse muito do que nossa sociedade pensa sobre esse tema.
Tente perguntar para qualquer ser leitor de ZH, por exemplo, o que acha dessas indenizações.
Estava assistindo à TV Senado agora a pouco e um senador quase q estava a espumar de raiva falando do absurdo de se indenizar TERRORISTAS.
É mole ou quer mais?
sil
Sil, não é apenas leitor de ZH que pensa assim. A indenização para Diógenes é um deboche, uma vergonha. Diógenes não fez nada, absolutamente nada, para construir um Brasil melhor e possível.
Obrigado General pela parte que me toca! Dá-lhe Diógenes! Rebentaram tua vida duas vezes e sempre deste a volta por cima! Isto se chama fibra!
Há, desculpe. Os leitores de ZH e o Maia.
Risos.....
sil
PS: eu tbm acho, deveríamos então indenizar os generais. Tantos calos nas mãos torturando aqueles comunas!!!! Putz....É de dar pena.
nao, os canalhas nao tem calos, pq como bons calhordas que são mandavam alguem (soldados, sargentos, um tenentinho tvz) fazer o selviço.
Conheci alguns desses canalhas covardes de perto. "Corajosos" e "valentes" dentro do quartel. Hoje são o que sempre foram: covardes canalhas ou canalhas covardes.
O que falta é termos vontade política e fazermos o que os nossos vizinhos fizeram: cadeia para essas "árvores de natal" (tantos eram os penduricalhos) por crimes contra a humanidade.
armando
http://jg.globo.com/JGlobo/0,19125,VTJ0-2742-20080312-317952,00.html
DEBATE ABERTO
Muito além de um lide policialesco
O jornal Zero Hora pode ter Álvaro Uribe como o seu herói, como o foram os cinco ditadores do golpe que o jornal chamava reverentemente, como de resto a mídia hegemônica, de “revolução de 1964”. Mas não pode negar uma verdade factual.
Ayrton Centeno
Um farol generoso banha com sua luz uma região sombria da diplomacia internacional. É Zero Hora dominical que dirige seu facho desde a avenida Ipiranga até os rincões recônditos do Itamaraty. Em sua matéria de capa (América desunida, 09/03), o jornal dos Sirostky ensina em que consiste o conflito entre Colômbia e Equador. Nas suas próprias e precisas palavras: “Quando sua moradia é assaltada várias vezes por um criminoso e este foge para a casa de um vizinho, um cidadão tem direito de invadir a residência ao lado para buscar o delinqüente que ali se escondeu?”
Para ZH este é resumo da ópera que colocou em cena Colômbia e Equador nas últimas semanas. Desatento, pensei até que fosse um “Para o seu filho ler” com três páginas [seção criada pelo jornal gaúcho para explicar temas polêmicos a crianças]. Não era. Mas era o lide! Imagino o ministro Celso Amorim, as mãos trêmulas de emoção e orgulho pátrio, compulsando esta síntese de diamante, poderosa e exata.
O problema – e sempre existe um problema para manter a vida imperfeita como ela é – é que a questão não é esta. Ou, de outro modo, já foi assim mas somente na proto-história do direito internacional público. Não é mais. Ainda bem. A inviolabilidade das fronteiras é uma regra de ouro do processo civilizatório e da constituição dos Estados nacionais. O criminoso é quem as viola, seja por qual motivo fôr. No caso, o criminoso tem nome e sobrenome: Álvaro Uribe Vélez. ZH pode tê-lo como o seu herói, como o foram os cinco ditadores do golpe que o jornal chamava reverentemente, como de resto a mídia hegemônica, de “revolução de 1964”. Mas não pode negar uma verdade factual.
O fato ocorrido constitui uma violação da soberania e da integridade territorial do Equador e dos princípios do direito internacional, afirma a declaração da Organização dos Estados Americanos (OEA) de 3 de março sobre o tema, acentuando que tal iniciativa provocou “uma grave crise”. A resolução reafirma o princípio de que o território de um Estado “é inviolável e não pode ser objeto de ocupação militar nem de outras medidas de força tomadas por outro Estado, direta ou indiretamente, qualquer que seja o motivo, ainda que de modo temporário”.
Qualquer outra interpretação não está em discussão em nenhum outro foro exceto em ZH. Por sinal, logo depois, no encontro do chamado Grupo do Rio, em Santo Domingo, inclusive o presidente do México, Felipe Calderón, fiel aliado de George W. Bush a exemplo de Uribe, evocou o princípio da inviolabilidade territorial. No imbroglio, Uribe foi o “delinqüente” - aliás, coincidentemente, o mesmo termo escolhido pelo coronel Mendes [da Brigada Militar] na mesma ZH para definir os militantes sociais.
O diário da RBS, na verdade, usa o mote da agressão colombiana para aplacar sua antiga obsessão de fustigar Hugo Chávez. Em tom de denúncia, explora a suposta vinculação do ogro venezuelano – é assim que o baronato midiático o vê - com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC). Não que este assunto não mereça atenção. Mas é curioso, jornalisticamente, o desinteresse pelo gesto estranho de Uribe, totalmente inadequado às circunstâncias sobretudo porque estava em curso uma operação humanitária de resgate de seus compatriotas em que se empenhavam países vizinhos e a França e desejada pela comunidade internacional. A conseqüência imediata foi a suspensão do processo que beneficiaria a todos os protagonistas: os reféns, suas famílias, Chávez, as FARC, Sarkozy. Beneficiaria, especialmente, a busca de uma saída pacífica para a Colômbia. Mas talvez não beneficiasse Uribe.
Em uma América do Sul que se renova politicamente e bane oligarquias
enquistadas no poder há décadas, quem ameaça a estabilidade, como nota o jornalista Alon Feuerwerker é Uribe, cuja solução para se perpetuar no poder passa pelo prosseguimento da guerra civil. Ele é o perigo.
Aprisionada em um embate eterno e estéril entre dois partidos tradicionais, um liberal e outro conservador, a Colômbia é um poucos países do continente em que os ventos de mudança ainda não sopraram. Há uma explicação para isso, como recorda uma reportagem do Le Monde Diplomatique.
Em 1984, o governo colombiano de Belisario Betancourt e as Farc abriram um processo de conversações. Que evoluiu para um acordo, em cujo leito os guerrilheiros – como aconteceu em tantos outros países – caminhariam para a legalidade e a disputa do poder pela via eleitoral. Sob estes auspícios nasceu, no ano seguinte, a União Patriótica (UP), partido destinado a defender os pleitos das FARC. Porém, no mesmo ano, deflagraram-se as perseguições e os massacres pelo próprio Estado ou com a sua anuência. Em 1988, 40 militantes foram executados em praça pública, na cidade de Segóvia. Também foram assassinados dois candidatos presidenciais, Jaime Pardo Leal e Bernardo Jaramillo Ossa, o primeiro em 1987 e o segundo em 1990.
Três anos mais tarde, a UP perderia, igualmente por assassinato, seu último senador, Manuel Cepeda Vargas. Antes, oito parlamentares da UP já haviam sido executados. Houve mais de 30 atentados a bomba contra os comitês da UP. Calcula-se que três mil pessoas morreram na transição frustrada das FARC para a legalidade. E a chacina continua. Sob o governo Uribe, mais de 150 remanescentes da UP foram mortos ou “desapareceram”. Como se vê, independentemente do que tenham feito ou deixado de fazer as FARC, a realidade é complexa. E, por certo, não cabe dentro de um lide policialesco.
Ayrton Centeno é jornalista
Armando, o valentão.
É isso aí, vamos processar um milico com 100 anos de idade enquanto o companheiro Diógenes fatura sua graninha.
Sem mais.
anônimo, o covardão
não, vamos deixar os covardes, como você que se escondem no anonimato, livres servindo como exemplo para outros covardes, uma vez que não tem punição. Pinochet com 90 anos respondeu a processo e ficou confinado. Aqui terra de covardes e anônimos, é que toleramos canalhices desse tipo.
armando
pinochet...deram a ele 5 gramas de ouro para cada socialista morto no Chile, Salvador Allende deve ter tido um valor mais alto, uns 20 kgrs de ouro...depois q pinochet morreu os seus patroes anunciaram onde o ouro estava...180 kgs depositados em um banco em Hong Kong...além de covardes esses militares sao burros.
Bem, penso que não devamos nos preocupar tanto com os brados do general! Veja que ele "convoca" todos milicos para uma possível ação, porém não há mais patrocínio para essas coisas! A Rice veio ao Brasil, tá certo, mas não é para isso!
Além do mais, a turminha do barulho está mais ocupada em se masturbar e jogar videogame do que perseguir comunistas....
Abraço à todos!
Baicurs
Caro Maia, responda-me, sinceramente: o que veio primeiro? A ditadura militar ou a reação contra esta ditadura?
Caro Maia: melhor dizendo. O que veio primeiro. A ditadura? Ou a guerrilha?
No fundo, no fundo, nenhum dos dois têm razão. Nem a ditadura e nem a guerrilha. Guerra de guerrilha num país como o Brasil é que nem acertar um tiro de revolver na lua, é impossível. E a ditadura militar (que eu lutei e muito contra ela, sem pegar em armas) caiu sem a participação da guerrilha. E o pior, os sequestros e mortes realizados pela guerrilha de esquerda foram justificativas para o endurescimento do regime, infelizmente. Em resumo, tudo errado. E o erro continua, com esses atos bizarros de conceder uma indenização para um sujeito que sempre foi um picareta. Ele não vale um tostão.
E a força motriz, o vetor, para isto?"E o erro continua, com esses atos bizarros de conceder uma indenização para um sujeito que sempre foi um picareta. Ele não vale um tostão", qual foi?
Ai, que medão do Armando valentão!
maia, te convido prá tomá uns mates lá na Lopo, com o velho Dija, amanhã cedo. Topa já tem outro compromisso?
Se quizeres pode levar tua mãe junto.
Tenho o maior respeito pela história de vida do Diógenes, durante a ditadura militar, e não compartilho do constrangimento de alguns filiados petistas sobre os acontecimentos que o levaram a sair do PT. Pelo contrário, apreciei muito conversar com ele.
Infelizmente, Cláudia, os constrangidos são muitos e, se não maioria, são os mais éticos.
o anônimo pode levar a mãe dele também.
armando
Então, Armando, tu também tem que vir, prá tomar conta da mãe do anônimo.
Cristóvão, acho importante dar conhecimento desta Nota do Ministério da Justiça:
14/03/2008 - 17:30h
Nota de Esclarecimento
Brasília, 14 de março de 2008.
NOTA DE ESCLARECIMENTO
1. As recentes matérias veiculadas na imprensa nacional comparando as indenizações que o Estado brasileiro concedeu aos cidadãos Diógenes de Oliveira e Orlando Lovecchio ocorrem em impropriedades jurídicas flagrantes e, por isso, exigem a presente prestação de esclarecimento à sociedade brasileira.
2. A Lei 10.559/02, aprovada por unanimidade pelo Congresso Nacional, e originada pelas Medidas Provisórias 2151/01, 2151-3/01 e 65/02 de iniciativa do então Presidente da República Fernando Henrique Cardoso, concede reparação econômica a todos os perseguidos políticos pelo Estado brasileiro que apresentarem requerimento e documentação comprobatória junto à Comissão de Anistia do Ministério da Justiça.
3. Ambos os cidadãos exerceram seus direitos de peticionar à Comissão de Anistia requerendo reparação econômica.
4. O Sr. Diógenes de Oliveira foi declarado anistiado político após instrução processual que durou quase cinco anos, onde se verificaram os dois requisitos principais da Lei para concessão de anistia: a) a inequívoca perseguição política, tendo inclusive sido o perseguido banido do território nacional em ato de exceção, nos termos do art. 2º, I, VI e VII; b) perda do vínculo laboral que mantinha com a Companhia Estadual de Energia Elétrica do Rio Grande do Sul (CEEE), motivado diretamente por esta perseguição – fato este que define o valor da indenização, nos termos rigorosos dos artigos 5º e 6º do mesmo diploma legal.
5. Pelo compromisso com o direito à informação e a transparência da atividade pública, é preciso que seja destacado que, para fins de declaração da condição de Anistiado Político Brasileiro, nos termos estritos da Lei, não há que se verificar os meios de resistência utilizados pelos brasileiros e brasileiras perseguidos pelo regime ditatorial. A anistia tem como objetivo a exata promoção da pacificação da sociedade visando, neste momento, apurar e reparar os danos causados pelo Estado a milhares de brasileiros e brasileiras. A Lei 10.559/2002, que prevê as reparações a perseguidos políticos, ressalta-se novamente: tem por objetivo reparar os danos morais e materiais causados pelo Estado a seus cidadãos. Verificado o dano, busca-se o modo de reparação.
6. O Sr. Orlando Lovecchio, por sua vez, teve em dois momentos seu requerimento de anistia apreciado nesta Comissão de Anistia. Este fato, por si, afasta a imputação que faz à administração pública, de omissão quanto a seu caso. Numa primeira oportunidade, em setembro de 2003, foi julgado por turma desta Comissão, que entendeu não ser ele perseguido político pelo Estado. Numa segunda ocasião, em 19 de outubro de 2004, teve seu recurso apreciado em Plenário, novamente chegando-se a mesma conclusão.
7. Tal destaque é relevante porque esta Comissão de Anistia está adstrita ao que sua Lei de instituição, voltada a todos os perseguidos políticos brasileiros, previu para que se concedesse anistia e reparações econômicas a pessoas perseguidas pelo Estado brasileiro.
8. Desta feita, o fato concreto é que não há dispositivo normativo na Lei da Anistia que preveja a reparação para o Sr. Orlando Lovecchio. A despeito disso, o Congresso brasileiro aprovou legislação específica e individual ao Sr. Orlando Lovecchio instituindo a sua atual aposentadoria (Lei 10.923/2004). Lei esta que beneficia unicamente a ele, criando regime jurídico exclusivo à ele e indisponível para esta Comissão. A produção de tal Lei constitui nova prova da ausência de omissão estatal em relação a sua situação concreta.
9. Nestes termos, constitui-se em definitiva impropriedade comparar os valores das indenizações de ambos. Os regimes jurídicos ensejadores das indenizações são distintos e incomparáveis. Enquanto o primeiro recebe prestação mensal, permanente e continuada concedida e arbitrada por esta Comissão a perseguidos políticos do período que se estende de 18 de setembro de 1946 a 5 de outubro de 1988, fulcrada na Lei 10.559/2002, o segundo recebe aposentadoria excepcional, de regime previdenciário, com valor fixado para si pela Lei 10.923/2004. Os critérios e parâmetros indenizatórios para cada caso foram estabelecidos pelo Congresso Nacional, por força das duas referidas leis.
10. Por fim, não há de se confundir o trabalho cívico e administrativo desta Comissão de Anistia, que é o de prestar contas à sociedade brasileira e a seus cidadãos em particular pelas ações equivocadas do Estado durante períodos de repressão, com o papel de um “tribunal da história”, onde se decide sobre a qualidade e justeza das lutas políticas das pessoas que tiveram seus direitos humanos fundamentais violados por quem os deveria proteger.
11. É nesse sentido que, buscando cooperar no processo de concertação nacional, a Comissão orienta seus trabalhos no sentido de não apenas indenizar os perseguidos políticos pelo Estado, mas também avivar a memória do período – em todas as suas facetas –, fortalecendo a democracia no Brasil. Assim como esta Comissão não tem competência para penalizar os torturadores do regime autoritário assim também não o tem para fazer merecida justiça ao Sr. Orlando Lovecchio. Qualquer extravasamento de sua competência seria correta e prontamente fulminada pelo Poder Judiciário.
Paulo Abrão Pires Junior
Presidente da Comissão de Anistia
Ministério da Justiça
Também é interessante observar que o jornalista Gaspari, especialista em Ditadura Militar, já que autor de 03 livros sobre o assunto, veio publicamente pedir desculpas a Dulce Maia, por envolvê-la equivocadamente no episódio:
Da coluna do Helio Gaspari no Correio do Povo de hoje, 16 de março:
ERRO
No artigo que o signatário publicou neste jornal quarta-feira havia a informação de que entre as pessoas que praticaram o atentado ao consulado americano, em março de 1968, estava Dulce Souza Maia. Ela nega ter participado, nem sofreu acusação de tê-lo feito, e aqui vai a pronta retificação, acompanhada do necessário pedido de desculpas.
Como um jornalista que tem 03 livros publicados sobre a Ditadura Militar comete um erro desta grandeza?
Provavelmente outros erros cometidos em relação ao episódio Lovechio virão à tona, é esperar prá ver!
Cristóvão, o Arq.Sérgio Ferro é citado pelo Gaspari como um dos autores do ataque ao Consulado Americano e que teria identificado, sob tortura, Diógenes como mentor do atentado. Mora atualmente na Europa e, tomando conhecimento da matéria, enviou à Folha a carta que segue:
Obs.: Os erros de português são decorrentes do longo período que o mesmo encontra-se fora do Brasil).
CARTA SERGIO FERRO
O jornal A Folha de S Paulo publicou dois artigos, em 12/03/08 e 14/03/08 contra a injusta pensão especial recebida pelo Sr Orlando Lovecchio Filho, vitima de uma ação contra o Consulado Americano em 20/03/1968.
Devo, por ser o unico sobrevivente desta ação, retificar algumas
afirmações que constam nos dois artigos:
1 - O Sr Diogenes Carvalho de Oliveira e a Sra Dulce Maia não
participaram desta ação, a qual foi executada por Rodrigo Lefèvre, por
"Marquinhos"(não conheço seu nome, foi assassinado pela repressão pouco
depois) e por mim.
2 - O Sr Diogenes Carvalho de Oliveira tão pouco organizou a ação, que
me foi proposta pela direção da A.L.N. e não pela V.P.R..
Como acredito que o objetivo destes artigos foi de ajudar o Sr Orlando Lovecchio Filho, quero sugerir que seus autores utilisem os dois laudos
médicos que seus advogados anexaram ao processo que moveram contra mim ( a justiça se pronunciou a meu favor em duas instancias ) , os quais fiz examinar por médicos competentes. No primeiro, feito quando o Sr
Orlando Lovecchio Filho deu entrada no Hospital para tratar seus ferimentos, a cura parece possivel. Entretanto êle não pode receber então tratamentos, pois foi levado para o DEOPS. Não sei o que passou durante seu interrogatorio. Quando pode ser enfim tratado, o segundo laudo feito então, declara que sua perna havia gangrenado, tornando a amputação inevitavel. Sem que eu negue minha responsabilidade quanto a seu ferimento - o que pesa em mim ha 40 anos - penso que sua amputação o faz tambem vitima do poder de então. Devo ainda acressentar o seguinte: no meu julgamento feito pela Auditoria
Militar em 1971, sob a ditadura Médici, minha ação foi classificada como "propaganda armada" e não como "terrorismo". Nunca quizemos ferir ninguém e tomavamos muito cuidado afim de evitar acidentes. Isso não
bastou infelizmente, no caso do Sr Orlando Lovecchio Filho, vitima dos
dois lados que se enfrentavam, a resistencia à ditadura e as forças de
repressão. Ële merece muito mais que uma polemica: justiça.
Com relação a Dulce Maia o Gaspari já se desculpou publicamente. FARÁ O MESMO EM RELAÇÃO AO DIÓGENES?
Vale a pena ler também esta matéria assinada pelo jornalista Rui Martins, no jornal Expresso Portugal:
JORNAL EXPRESSO PORTUGAL
*UMA COMPARAÇÃO LEVIANA* . RUI MARTINS
*Berna (Suiça)* - Desta vez, o que me chamou a atenção foi um texto
distribuído pela Internet para emigrantes brasileiros na Suíça e Alemanha.
Um texto do respeitável e competente Elio Gáspari, cujos livros da série
Ditadura, adquiri nas minhas últimas viagens ao Brasil.
O texto publicado na Folha de SP, comparando o que uma vítima do atentado de
20 de março de 1968 contra a embaixada americana em São Paulo, recebe do
INSS, quando perdeu uma perna, com a aposentadoria paga a um dos autores do
atentado pela Anistia.
Elio Gaspari, jornalista e escritor, faz uma comparação, fora do contexto da
época, e leva os leitores a um julgamento fácil e rápido, de culpado e
inocente. Com esse mesmo tipo de argumentação se poderia condenar os
resistentes ao nazismo na França ocupada. Os culpados pelos massacres de
inocentes cometidos pelos nazistas em represália a atentados contra os
ocupantes teriam sido os resistentes.
Fazer uma comparação entre indenizações decididas, 40 anos depois, omitindo
o clima reinante na época da ditadura militar e aproveitando para colocar em
questão o que animava a extrema esquerda contra a ditadura, não é nada
correto. Conhecedor da situação como poucos, Gaspari optou por uma
argumentação minimalista e, por isso leviana, que ignora o complexo quadro
daqueles anos de chumbo.
Logo no começo da invasão americana ao Iraque, declarei, nas rádios em que
falava e onde escrevia, que sempre chamaria os iraquianos de resistentes aos
invasores e nunca de terroristas. Durante a ditadura militar, onde muita
gente boa se enrustiu, não havia terroristas (essa era a designação dada
pela governo e imprensa golpistas) mas resistentes. Idealistas, sonhadores,
iludidos, irresponsáveis, tudo isso pode se discutir, mas, no caminho certo
ou errado, eram movidos pelo desejo de resistir a uma situação ilegal,
criada depois da deposição de um presidente e por instigação americana.
E pagaram caro por isso. Uma parte morreu, outros foram torturados e sofrem
sequelas até hoje. Outros que não aderiram à luta armada mas que contestavam
o regime tiveram de fugir e perderam carreira, vivendo e sofrendo o exílio.
Diógenes, citado como um malvado premiado, sofreu torturas e, no exílo na
África, apanhou malária, outro tipo de tortura permanente.
É dentro desse mesmo raciocínio que defendo a concessão da condição de
refugiado ao italiano Cesari Battisti, ativista de uma facção de luta armada
italiana, preso no Brasil e sob ameaça de extradição.
Na verdade, existe hoje no Brasil, por parte da grande imprensa, a quase
totalidade daquela que aderiu aos militares, uma campanha para desestablizar
o governo, que apesar de numerosos erros, vem favorecendo o grande segmento
da população pobre antes esquecido. E, pelo jeito, surge uma tendência
negacionista, movida por uma lamentável vontade de reescrever a história.
Isso faz parte da democracia, o debate franco ou desleal, porém, não se pode
esquecer que no Brasil não existe imprensa de esquerda, que poderia defender
o outro ângulo. Existem apenas alguns sites, jornais e revistas mantidos no
benevolato, enquanto a direita dispõe de televisões, rádios e jornais de
grande tiragem numa espécie esdrúxula de ditadura democrática da informação.
O Gaspari de 2008 também não é mais o 1968 - CELSO LUNGARETTI
A direita brasileira não se notabiliza por produzir quadros
intelectualmente brilhantes (os Robertos Campos são raros!). Quem
melhor a serve, defendendo o status quo com argumentos menos
primários, costumam ser pessoas formadas pela esquerda que, em
qualquer ponto da trajetória, passam a remar a favor da corrente.
Há uma legião de jabores produzindo textos convenientes para a direita
e sendo recebida de braços abertos pelos sites e correntes de e-mails
das viúvas da ditadura. Gente que começa dissecando o conformismo da
opinião pública e acaba colocando seu talento a serviço de quem tudo
faz para manter bovinizada a opinião pública.
Torçamos para que não seja esse o novo rumo de Élio Gaspari. Seria um
triste epílogo para uma carreira que, garante-me o excelente
articulista Laerte Braga, começou na órbita do PCB.
"Em 2008 remunera-se o terrorista de 1968" publicado na Folha de S.
Paulo de 12/03/2008, é, seguramente, um dos escritos mais inoportunos
e infelizes da carreira de Gaspari. Parece mais uma peça complementar
da campanha da extrema-direita contra o programa de anistia do
Ministério da Justiça do que uma análise do autor de A Ditadura
Escancarada. http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc1203200806.htm
Contrapõe, utilizando uma narração piegas e folhetinesca no mau
sentido, as trajetórias de um militante da Vanguarda Popular
Revolucionária (Diógenes Carvalho Oliveira) e de um jovem piloto que
perdeu a perna quando da explosão de um petardo diante do consulado
estadunidense em São Paulo. Compara, de forma simplista e demagógica,
os valores de reparações concedidas pela União a ambos.
Segundo ele, tal atentado teria sido cometido pela VPR e seus autores
seriam Diógenes e os "arquitetos Sérgio Ferro e Rodrigo Lefèvre, além
de Dulce Maia e uma pessoa que não foi identificada". Esquece-se,
entretanto, de citar as fontes que amparam sua convicção – lapso
imperdoável num historiador!
A referência a "uma pessoa que não foi identificada" denuncia,
entretanto, a origem de sua suposição (até prova em contrário, não a
considerarei uma informação): os inquéritos policiais-militares da
ditadura. Se algum(ns) dos quatro apontados houvesse(m) admitido
publicamente sua(s) culpa(s), não teria(m) por que ocultar o nome do
quinto participante.
O que são os IPMs do regime militar, do ponto-de-vista jurídico? Nada.
Uma ignomínia que pertence à lata de lixo da História, já que tudo
neles contido tem origem viciada: foram informações arrancadas
mediante torturas as mais brutais, que várias vezes causaram a morte
dos supliciados, como no caso de Vladimir Herzog.
E era muito comum os torturados simplesmente admitirem o que os
torturadores pensavam ser verdade, ganhando, assim, uma pausa para
respirar. Então, ao ler a versão dos algozes, eu sempre noto que, em
cada ação da Resistência, são relacionados muito mais autores do que
os necessários para tal operação.
Para alguém que estava pendurado num pau-de-arara, recebendo choques
insuportáveis, é desculpável que respondesse "sim" quando os carrascos
perguntavam se fulano ou sicrano participara de determinado assalto a
banco. Fazíamos o humanamente possível para evitar a prisão e/ou morte
dos companheiros, mas não estávamos nem aí para o enquadramento penal
nos julgamentos de cartas marcadas da ditadura.
O Projeto Orvil, o chamado "livro negro da repressão" (síntese do
acervo ensangüentado dos IPMs), cita-me como um dos três juízes no
julgamento de um militante caído em desgraça com a VPR; no entanto,
além de não haver jamais julgado companheiro nenhum, nem mesmo tomei
conhecimento da convocação desse tribunal, se é que ele realmente
existiu.
Daí a impropriedade, a imoralidade e, até, a ilegalidade de se
utilizar esse entulho autoritário como argumento contra quem quer que
seja.
Em segundo lugar, Gaspari parece colocar em planos diferentes as ações
armadas cometidas pela Resistência antes e depois da promulgação do
AI-5, como se o País não estivesse sob ditadura.
O exercício do direito de resistência à tirania independe da
intensidade da tirania. Não existe meia virgem: ou era democracia, ou
era ditadura. O Brasil estava desde 1964 submetido ao arbítrio de
usurpadores do poder que já haviam praticado um sem-número de
barbaridades, como a humilhação, tortura e quase enforcamento, em
público, do lendário Gregório Bezerra.
Então, todo aquele que, por resistir à tirania, foi preso e torturado
como Diógenes, merece, sim, uma reparação, à luz do Direito das nações
civilizadas e segundo as recomendações da ONU.
E, se tudo que Gaspari supõe fosse provado, o justo seria o Estado
indenizar Diógenes pelos direitos atingidos e condená-lo à prisão
pelas matanças cometidas. As reparações da Comissão de Anistia não são
prêmio de boa conduta, de forma que uma coisa não invalidaria a outra.
Esta possibilidade, infelizmente, inexiste por causa da Lei da Anistia
de 1979, que, ao conceder um habeas-corpus preventivo para os
verdugos, acabou inviabilizando também a apuração de excessos
cometidos pelos resistentes. É urgente e necessária sua revisão, doa a
quem doer.
Quanto à linha de raciocínio de Gaspari, se levada às últimas
conseqüências, desembocará na conclusão de que assassinos podem ser
torturados pelos agentes do Estado. Então, repito: torço sinceramente
para que ele não esteja aderindo às tropas de elite do autoritarismo
redivivo.
P.S.: Antes mesmo do que eu esperava, a Folha de S. Paulo foi obrigada
a reconhecer a impropriedade de se utilizar o "entulho autoritário
como argumento contra quem quer que seja", publicando na edição de
15/03/2008 um "erramos" no qual admite que, tanto na coluna do Élio
Gaspari quanto no noticiário, acusara falsamente Dulce Maia de
participação no atentado ao consulado dos EUA.
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