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Surf no lixo contemporâneo: a que ponto chegamos! E que mundo deixaremos de herança para Keith Richards?

quarta-feira, 19 de março de 2008


Jabuti não sobe em árvore

Já comentamos aqui neste blog de província o fato de o presidente Lula estar terçando com pau de dois bicos na corrida eleitoral de 2010 ao Planalto. De um lado, fomenta vôos eletivos inaugurais da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, de outro, costura com fios de paciência chinesa, uma candidatura exótica (não-petista), que seria o atual governador de Minas Gerais, Aécio Neves.

Neste último final de semana, houve um reforço do lado mineiro da equação lulista. Num embate branco no diretório petista de Belo Horizonte, o grupo do ministro Patrus Ananias foi batido pelo prefeito Fernando Pimentel, no debate sobre a antecipação do lançamento de um candidato não-petista à prefeitura da Capital mineira. Como sabemos, Pimentel é plenipotenciário de Lula para tratar com o governador mineiro de uma aliança que começa agora em BH, mas que visa objetivamente 2010, com Aécio, de preferência fora do PSDB e filiado ao PMDB. Já se vê que estamos diante de uma costura de pontos miúdos e grandes cerzidos.

A todas essas, a candidatura da ministra Rousseff recebe o estímulo do vinagre, agravada pela sua inapetência para o rito cordial ( no sentido buarqueano da expressão) da política partidário-eleitoral. Como dizia Ulisses Guimarães, repetindo o dito popular, jabuti não sobe em árvore, se lá está, ou foi gente ou foi enchente. Rousseff está dependurada onde Lula a colocou, mas não é o seu chão predileto.

Haja vista, a impropriedade que cometeu neste domingo, em Porto Alegre, quando mencionou uma suposta fila petista à deputada Maria do Rosário, que disputava a pré-candidatura do PT às eleições de outubro próximo, sugerindo que a parlamentar estava derrotada e que teria que aguardar a sua vez de disputar o Executivo municipal. Ocorre que a deputada venceu a disputa com o candidato da ministra, Miguel Rossetto. E a ministra, ao que se saiba, contribuiu apenas com o seu singular voto na corrida petista de Porto Alegre.

Erro primário para quem se deixa conduzir para galhos de altas árvores. Mas nem tudo está perdido para a ministra, ao contrário, sua candidatura ao Palácio Piratini – especialmente depois que surgirem os primeiros resultados dos imensos investimentos do PAC no Estado – tem franca viabilidade dentro e fora do PT/RS.

Hoje, eu diria que é pule de 10, na paupérrima galeria das atuais lideranças guascas, além de cumprir o reembaralhamento das cartas petistas, tão esvaziadas de projetos políticos estratégicos e tão comprometidas pelo ultrapragmatismo mais imediatista e rasteiro.

6 comentários:

Anônimo disse...

Matriarcado no Rio Grande?

Anônimo disse...

O Aécio mora, na maior parte do tempo, no Rio de Janeiro!!!!

Além disso, o seu governo PSDB está com lama até o pescoço - redundância até. Blindado pela mídia até o não mais poder, segue incólume como um "estadista" (sic).

É IMPRESSIONANTE constatar esta preferência eleitoral do Lula...

Carlos Eduardo da Maia disse...

Bom mesmo é o PT fazer aliança com a banda podre do congresso, como está fazendo, com os bispos da IURD e com os coronéis do nordeste.
Eu ainda sonho com uma grande aliança social-democrata no Brasil, com a participação da parte arejada do PT e da parte arejada do PSDB, assim como ocorreu no PS Chileno, no PSD alemão e no PS Francês. Este é o meu sonho para um Brasil melhor e possível.

Anônimo disse...

E com a bancada rural-escravagista do Congresso, né Maia? Os que são anistiados das dívidas com os bancos estatais e recebem grossos subsídios nos preços dos grãos, né Maia? Que frentão hein Maia!
O Sergião Motta errou. Isso é pudê pra 40 anos, sô!


Barduíno

Anônimo disse...

Não acredito na segunda via, Cristóvão. Para falar a verdade, acho que a Dilma está no comando e Lula voluntariamente é o "Rei" ora protegido ora exposto para levar o adversário a rever sua estratégia enquanto ela avança os peões do PAC sobre os territórios da cidadania. Por exemplo, é só ler as entrelinhas do que escreveu o André Machado sobre os investimentos em Rio Grande. Mesmo sem citar a origem do salto da zona sul, o cusco da província fez o serviço subliminar que a Dilma quer. Depois é só dizer quem fez. Estamos fazendo isso, em muito menor proporção, é claro, aqui em São Borja. Primeiro deixar claro que as obras são do governo Lula, depois que Lula é do PT, então que o PT local e as obras tem tudo a ver. A companheira não estaria onde está, depois de tudo o que passou sem entregar ninguém e sem se suicidar depois, se não compreendesse os vários níveis de linguagem que estão por trás da falta de comunicação. E depois o Brasil é um pais tropical, não há lugar para o homem das Neves, ele derrete antes de assumir a candidatura ou o cargo (vide Tancredo).

Anônimo disse...

Não interpreto assim a manifestação da Dilma sobre fila e tal. Pelo contrário, ela quis dizer que os quadros com relevantes serviços prestados ao partido e ao país não deveriam ser defrontados numa mera disputa eleitoral por alguém que precisa atalhar caminho para chegar lá. Na verdade, as candidaturas majoritária deveria nascer do coletivo e não de vontades individuais. Tem a ver também com o xis da questão: não devemos jogar todas as nossas fichas na disputa de cargos e esquecer a militância permanente. Acho essa interpretação que a Dilma teria menosprezado a Maria do Rosário ao falar em fila equivocada. Para não parecer contraditório com a "autocrítica" que fiz no RS Urgente, quero dizer que quando eu falo em celebridades de esquerda não quero reduzir a análise a um suposto fato que seria nossos quadros históricos da esquerda, não apenas do PT, estarem deitados sobre os louros das vitórias passadas conscientemente, e sim pela não priorização imediata da compreensão e correção dos erros que levaram a determinada situação. Guevara depois da vitória da Revolução cubana retomou o trabalho de base, pode ter se equivocado na análise de conjuntura em algum ponto, mas não subiu um Olimpo e permaneceu nas alturas, desceu e retomou a construção da tal sociedade fraterna e justa pelo mundo. Que ninguém se melindre com minhas palavras, se houver dúvidas ou elas passarem uma idéia imprecisa faço questão de tornar a esclarecer. Quero contribuir como alguém da base que vê em tudo o avanço da democracia republicana porque sabe na própria carne o que é o atraso e que o principal neste processo é garantir a permanência das conquistas. No mínimo, permanecendo sem avançar como gostaríamos já é um avanço porque o coletivo sendo influenciado pelo novo quadro constrói aos poucos novas dúvidas ou paradigmas ou idéias que levam a mais avanço. Mais avanço é menos atraso e isso é terra fértil para radicalizar a democracia. Só não podemos abandonar a lavoura ou arrendar para o pragmatismo. Por que menos da metade dos filiados foram votar? Se de kombi em kombi o pargmatismo encheu a urna, é fundamental descobrir em que momento da caminhada nos afastamos tanto das bases que foi preciso várias kombis para juntar os que ficaram para trás enquanto exercíamos o governo com os olhos voltados para o poder. Mesmo filiações em massa, se ocorreram de forma indiscriminada, alguém estava distraído ou ocupado com outras prioridades. Se não houver autocrítica, o pragmatismo vai continuar vencendo prévias e vamos continuar lendo convites para enterro do PT escritos pelos próprios petistas. Logo agora que tem tanta coisa para construir na América Latina. O que estamos falando sobre o Mercosul que nós queremos? Lula matou ou não a ALCA à mingua? Uniu ou não a América e é protagonista no mundo? No governo Olívio eu ficava indignado quando ouvia aqui no interior nossos deputados e representantes no governo sendo entrevistados pela mídia golpista. Só lembro de ter ouvido companheiros respondendo perguntas. Não tive a honra de ouvir um só a questionar a pergunta. A dizer "essa pauta é do seu veículo, de acordo com os interesses dos acionistas do seu grupo, a nossa pauta é o interesse da sociedade, portanto, o que está em jogo é a verba que a mídia recebia antes e que não recebe agora". Só como exemplo. Se alguém lembra alguém que tenha feito isso nos programas ao vivo no rádio e na TV, por favor me informe.

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