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Surf no lixo contemporâneo: a que ponto chegamos! E que mundo deixaremos de herança para Keith Richards?

quarta-feira, 17 de outubro de 2007


Para Veja, o inferno são os pobres

A revista & partidão de direita Veja desta semana segue fazendo a suíte do filme Tropa de Elite. Diz que o filme “é uma obra de ficção”, mas que “retrata com uma fidelidade jamais vista como a criminalidade degradou o Brasil de alto a baixo”.

Acho que entendi, assim: a criminalidade (das classes populares) afundou o Brasil? Quer dizer, se não fossem os pobres, os ignorantes, os iletrados, que insistem em desobedecer as leis e os bons costumes, o Brasil não estaria tão rebaixado! [E ainda por cima, votam naquele jegue nordestino! – não precisa dizer, está implícito.]

Essa é a sociologia do inferno de Veja. O inferno são os pobres!

O filme de José Padilha é obra de ficção – eu diria – só como medida preventiva, para não comprometer a vida dos autores das denúncias de corrupção policial e atos de tortura como método privilegiado de combate ao crime. O filme de José Padilha, rigorosamente, é um documentário da vida como ela é. Aliás, a idéia original de Padilha era fazer um documentário mesmo, mas depois de considerar as dificuldades em tomar os depoimentos (todos teriam que ser borrados e com voz de pato), optou por fazer uma ficção, contratando atores consagrados, como o próprio Wagner Moura – que está ótimo no papel de um obcecado policial psicopata.

O BOPE é uma polícia de elite que serve para torturar e matar os que não são da elite social, os pobres, os favelados, os feios, os encardidos e os malvados. O BOPE mete o pé na porta dos condomínios fechados da Barra? Asfixia com saco plástico os brancos bronzeados do Leblon ou da Urca? Recolhe os cadáveres dos brancos do Recreio? O dia em que isso acontecer, sai na edição seguinte do New York Times, para não falar em capa de O Globo, Estadão, etc, por uma semana inteira.

Mas vamos deixar de conversa, e ler mais sobre a aula de “sociologia” do partidão Veja:

[...] O Brasil, infelizmente, é um país de idéias fora do lugar por causa da afecção ideológica esquerdista que inverte papéis, transformando criminosos em mocinhos e mocinhos em criminosos. Aqui, a "questão social" é justificativa para roubos, assassinatos e toda sorte de crime e contravenção – mesmo quando praticados por quadrilhas especializadas, compostas por integrantes que nada têm de coitadinhos. O apresentador Luciano Huck que o diga. Dois ladrões roubaram-lhe um relógio caro em São Paulo e ele, indignado, atreveu-se a escrever um artigo no jornal Folha de S. Paulo para reclamar da falta de segurança. Por ser um homem rico, da elite, Huck sofre um linchamento moral. Há até quem pergunte se ele "mereceu ser roubado". Existe quem mereça?

Tirem as suas conclusões, nobres cavalheiros e distintas damas.


Leia a nossa crítica do filme Tropa de Elite, num post abaixo, publicado sexta-feira passada.


15 comentários:

Carlos Eduardo da Maia disse...

A Veja, em momento algum, afirma ou afirmou que o fato inconteste do Brasil ser um país violento é culpa dos pobres. Na verdade, os pobres são as vítimas. São as vítimas, porque a violência que existe nas favelas das grandes cidades do Brasil é resultado direto da ausência e da ineficiência de Estado, da falta de educação, de saúde, de segurança. A Veja critica -- e com muita razão -- certa esquerda brasileira, porque ela gosta de manipular, de ideologizar questões que são bem práticas. Basta o Estado tomar conta das favelas, como está ocorrendo hoje na Colômbia. Basta o EStado colocar escola, hospital, posto policial dentro da favela. Mas isso não interessa à criminalidade -- que está integrada na vida das favelas, é ali que ela se estabelece e não no Leblon, onde ela vende seus pós e seus fumos -- aos traficantes, aos Robin Hoods da vida e, também, a certa esquerda brasileira que abomina qualquer tipo de crítica à religião politicamente correta que ela mesmo inventou e que é intocável. Intocável, por que, homem branco?

Anônimo disse...

Aqui em SP o equivalente do BOPE, é a famigerada ROTA, tão ou mais amada pela direita predadora.

A revistona dos Civitas, devedores do INSS e de outras repartições da Fazenda Pública, consegue superar o sua alma atual, o "tio" Reinaldo Azevedo. É muito lixo acostado num único lugar.

Anônimo disse...

Esse lixo todo será que não gera gás metano?

Mas acho que não, isso deve ser lixo atômico, só mandando em conteiners lacrados e lançando na órbita terrestre. Daqui a mil anos quando essa merda explodir, os conteiners, será o Armagedom.

Veja o Armagedom! Veja, o Armagedom!

Anônimo disse...

Mais...O conteúdo da veja mostra como pensa a elite e a classe média desse país. Esse é o real problema. Ela só publica o que interessa a seu público alvo. Ponto. Quem é esse público? O maia e seus amigos.

E achei a tua crítica do filme a mais pé no chão até o momento, sem pretensões e realista. Lí algo hj em dois outros blogs q me deixaram chocada pelo conteúdo preconceituoso e pretensioso.
Parabéns a vc!!!!

Anônimo disse...

A criminalidade das favelas é o resultado sim, da falta de oportunidades que os pobres, pretos, encardidos índios,etc,etc tiveram ao longo de décadas no nosso país. E quem esteve sempre no poder, foi essa elite nogenta que olha para pobre como se esses tivessem doença contagiosa. Os governos que mandaram até então foram sempre esses direitosos, que mesmo num "dito governo de esquerda" continuam chupando o pirulito.
Se "a esquerda manipula, questões que são bem práticas" a direita sempre roubou a chance dos "favelados" de saírem dessa situação de pobreza. E continuam não querendo a transformação social é só ficar atento para as manifestações de querer tomar conta das vagas por cotas ou da bolsa PRO UNE criada por esse governo de esquerda.

Anônimo disse...

Sil, tem gente que não gosta do filme e não gosta de quem gostou. Mas também não sabe porque não gosta das duas coisas. Se isso não for um sintoma de neurose, então não sei mais nada.
Eu também não gostei do TdeE, mas eu sei o motivo pelo qual eu não gostei. É que por uma razão bem simples me agradam outros gêneros de filmes.

Anônimo disse...

Sim, sonia...O teu não gostar é totalmente explicável, digamos assim.
Eu entendo que um "leigo" vá ao cinema e ache q o bope é o ideal.
Mas acho ridículo (no mínimo) algumas críticas que lí sobre o filme, vindo de pessoas que com certeza tem todas as condições de entender o enredo de TE e não o fizeram pq (creio eu) acham o filme não é intelectualizado o bastante.
Não aceitam que o filme foi feito para o grande público e q não é um documentário onde poderiam ter aprofundado algumas questões.
Leia a crítica do Wesheimmer na Carta Maior, foi a que mais me surpreendeu pela falta de capacidade de interpretação.
Isso q sempre achei ele uma pessoa bem ponderada, por isso mesmo fiquei bastante surpresa.

Anônimo disse...

Em primeiro lugar, o filme foi muito bem produzido, e mostra a relação dos personagens da ficção, com o mundo bem real do Rio de Janeiro.Mostra também as relações viciadas, torpes e mesquinhas de pessoas e instituições que deveriam ter outra postura e atitude com os menos favorecidos. A classe dominante ou "sistema" como mostrada no filme, revela a manutenção deste poder podre vigente, através da policia corrupta, dos politicos omissos, os jovens brancos e cínicos viciados(que para se divertirem na vida real, botam fogo nos pobres), a imprensa sensacionalista e outras formas de poder.Mas o filme na essência mostra a ideologia dos ricos, e a maneira como pretendem manter este poder podre, e utilizar o "medo" das pessoas para dominarem cada vez mais.

Anônimo disse...

Políticos omissos, não, o cara da ONG é tucano, e milita junto com os trafica.

Anônimo disse...

Bah, desses blogs de bombachas o menos bombachudo é esse do Feil, o Marco Weis fez um artigo errado dizendo que o escolhido do Cap. Nascimento é o negro, e não era, ele escolheu um branquinho que morreu quando entrega os óculos na favela. Pisada feia, meu. Mas eu não entendi o artigo do cara e ainda fala do Indio Vargas numa confusão dos diabos. Eu concordo que é complicado, mas não precisa complicar mais ainda.

Anônimo disse...

Isso peninha....o Weis pisou feio mesmo, eu até enumerei esses mesmos erros para ele lá no blog. Fora q ele fez uma interpretação bem às avessas. Realmente parecia q não tinha assistido ao filme.

Eu não sei, mas não ví o filme como uma defesa da estrutura que a elite quer manter. Acho que a elite está interpretando o filme assim, mas eu ví como se o filme quisesse mostrar a essa mesma elite o quão torpe é essa relação (ex, os estudantes universitários) e o quão frágil tbm.

Anônimo disse...

Eu acho, Sil, que o Weis quis ensinar o diretor como se deveria fazer o filme. Ele não fez uma crítica ao filme, ele fez uma pedagogia do cinema (de como ele acha que os filmes realistas sobre violencia devem ser no Brasil). Mais um pouco ele baixa um decálogo do que é certo, do que é errado na cinematografia brasileira.

Brincadeir gente, eu até gosto do cara, ele tem grande valor nas matérias que faz na CM, mas todo o Pelé tem o seu dia de Fernandão.

Carlos Eduardo da Maia disse...

Concordo com o Peninha, o Weissheimer pisou na bola. Eu ainda não vi o filme. EStou louco para ver, mas tenho de buscar espaço na agenda. Vida de trabalhador não é mole.

Anônimo disse...

Eu não concordo com o Peninha, nem com o Weissheimer. Eu ainda não vi o filme.

Anônimo disse...

Tem gente que não quer nem ganhar dinheiro vendendo esta imundice midíatica que é a Veja.
Mas claro que está nas aguas do Carlos Eremildo Maia, é auto defesa.
Que bom que ele vai discordar, e sempre, e naturalmente do Wwissheimer, este não erra nunca, ou pelo menos não auga a caneta.

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