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segunda-feira, 8 de outubro de 2007


As babadas do historiador do Fantástico

O historiador do Fantástico, como está sendo conhecido Eduardo Bueno, colocou o ovo em pé, falando em termos de História. Peninha, como é chamado o serelepe jornalista guasca, fez uma releitura da historiografia brasileira. Um releitura jornalística, digamos assim, despretensiosa, em linguagem mais leve, com muitas e boas ilustrações, chamando a atenção para aspectos hilários e pitorescos dos grandes vultos, desmistificando algumas narrativas viesadas, tirando o mofo acadêmico do texto, etc.

Mas tem problema, o seu Peninha. Como ele não tem método nenhum para contar a história, senão um aligeirado senso jornalístico-comercial, ele parece ter adotado como seu, o tom debochado de Mendes Fradique (não confundir com Fradique Mendes, personagem ficcional da dupla Eça-Ortigão), quando este escreve em 1920 o hilário compêndio História do Brasil pelo método confuso.

No festejado “Brasil: uma História” (Editora Ática), Peninha comete erros de amargar, para um guasca do Sul, muito mais grave por este ser metido a historiador, ou divulgador da História, melhor dito. Na página 252 (1ª edição), ele trata muito rapidamente da Revolução Federalista do RS. E o faz de maneira quase irresponsável, assim:

[...]

“A guerra civil de 1893 no Rio Grande do Sul foi um conflito eminentemente político – retrato fiel das dissidências que, desde o Segundo Reinado, rachavam o estado. Foi uma das raras guerras civis na qual fatores econômicos não tiveram importância [...] Foi um confronto terrível que colocou frente a frente “maragatos” – como se chamavam os republicanos jacobinos e positivistas liderados por Júlio de Castilhos – e “pica-paus” - que eram os antigos liberais do regime monárquico, chefiados por Gaspar da Silveira Martins.”

Três erros grosseiros num pequeno trecho de uma obra de mais de 400 páginas.

Primeiro erro: a revolução de 93 não foi “um conflito eminentemente político”, tinha sim profundas motivações econômicas, os estancieiros “federalistas-gasparistas” estavam prestes a perder centralidade econômica na formação social meridional.

Segundo erro: “uma das raras guerras civis na qual fatores econômicos não tiveram importância”, é de se perguntar então sobre qual o motivo além do imediato interesse econômico, já que os gasparistas estavam ameaçados pela Constituição de 1891 de ter que pagar imposto territorial rural, como de fato acabou ocorrendo depois da derrota federalista de 1895. Um dos principais motivos da revolução de 93 foi a cobrança de impostos da terra (muitas vezes roubada do Estado, especialmente no final do Império).

Terceiro erro: esse é o mais clamoroso, “maragatos” eram os gasparistas-federalistas-estancieiros; “pica-paus” ou “chimangos” eram os castilhistas republicanos. Seu Peninha babou feio, nessa!

Este é o “historiador” do Fantástico. Fantástico!


P.S: Admira que a historiadora Mary Del Priore tenha se prestado para fazer a Apresentação de obra tão jornalística (no pior sentido), com fumos acadêmicos sérios.


8 comentários:

Guilherme Mallet disse...

A forma como ele narra a história é muito interessante do ponto de vista pedagógico.

Mas realmente esses erros grosseiros detonam a credibilidade do cara.

Já estou achando que mentir, distorcer e manipular (dolosa ou culposamente) é um pré-requisito para aparecer na telinha da Globo. Hehehe

Um abraço.

Unknown disse...

Surpreende quem não a conhece (Mary Del Priore) , pois é daquelas, como certos promotores, que não podem abrir um geladeira e começam a dar entrevista...

Anônimo disse...

História vem do grego "Historien" que significa narrar, que por sua vez provém da palavra "Histor", que significa "Juiz". Então, História não só conta uma história, senão que a julga, ordena e dá significado. Wendy Beckett/História de la Pintura.

O Peninha fez uma bela tradução do clássico beatnik "On The Road". Depois descobriu um filão caça níquel nesses livrinhos de história (h minúsculo mesmo).

Anônimo disse...

Inadimissível isso. Eu escutei ontem. Mas esperar o quê de quem é cria da zeagá e filhote do Augusto Nunes.

Anônimo disse...

O Cristovão! Achei que tu tinhas mais cuidado com o dinheiro e não gastasse em porcarias...

Anônimo disse...

O livro não é meu. Tomei-o emprestado domingo. Em 15 minutos detectei vários erros grosseiros. As 400 páginas devem ter uma constelação de erros, equívocos e mentiras. O cara vende gato por lebre. No Código Penal deve ter o nome e o enquadramento de delitos destes.

Anônimo disse...

uma vez me prestei a ler um livro desse sujeito... uma bosta!!!!

Anônimo disse...

Pô, o cara chamou os chimangos de maragatos, os maragatos de chimangos, disse que a economia não tinha a mínima importância na Revolução Federalista... E aparece no Fantástico!!!

Esse é um debate que volta e meia aparece entre meus colegas na faculdade de História na UFRGS. O que o Peninha escreve é, de certo modo, História. Não se pode atacá-lo simplesmente por não ser formado em História, aí não seria crítica e sim corporativismo.
O problema do Peninha, além dos erros (fruto de um certo desconhecimento da História, visto que ele escreve apenas o que interessa às editoras), são as análises extremamente superficiais que ele faz. Não digo que para a obra dele ser historiográfica, ela precise ter uma linguagem igual à da História produzida pela maioria dos acadêmicos (que eu, estudante de História, acho um porre, uma leitura extremamente chata, já que em geral os acadêmicos escrevem para seus pares e não para o grande público. E é possível fazer análises mais profundas, combinadas com textos de leitura fácil.

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