O ex-banqueiro Cacciola e o inelutável
O Slavoj Zizek que me perdoe, mas pior que o deserto do Real é o deserto do Joshua Tree.
Acho que foi o genial Sergio Leone que filmou o inelutável, e o fez no Joshua Tree. Imaginem filmar o inelutável? Como fazê-lo? Como descobrir uma imagem para dizer: isto é o inelutável, o inescapável, o fatal, o fim da história (sem duplo sentido).
Pois Sergio Leone, o cineasta italiano genial, conseguiu metaforizar o inelutável. O gordo Leone foi para o deserto do Joshua Tree, na Califórnia, o lugar onde o diabo perdeu as havaianas, e filmou o inelutável. Claro que ele fez tudo isso de mentirinha, nos estúdios da Cinecittà, arredores de Roma, mas nos seus filmes de western spaghetti era nas areias secas do Joshua Tree. O inelutável para o gordo era quando ele mostrava o sol chapado e reverberante na tela, com a música reverberante de Ennio Morricone. Reverbera até hoje nas nossas retinas e ouvidos. O herói ou o anti-herói já não tinha como sair daquela, na secura do deserto, urubus se aproximando de cima, lobos uivando, o cantil está empoeirado por fora e por dentro, os lábios escamam e então a câmara sobe lentamente e estampa o sol, radioso e inclemente. O inelutável! O sujeito na cadeira, contrito, diz para o seu botão ouvinte: pronto, terminou o filme. No way out. Qual nada, é aí que o gênio do gordo começava a mostrar como se faz cinema. E por aí vai.
Pois o ex-banqueiro Salvatore Cacciola há poucos dias também esteve face a face com a fatalidade, lobos uivando, urubus sobrevoando a área e o sol inclemente indicando que as saídas estão todas vedadas. Mas o Salvatore Cacciola transforma-se numa moeda, como num passe de mágica. Algum Sergio Leone de Brasília fez a mágica e transformou o Cacciola numa moeda valiosa.
Essa moeda valiosa está sendo trocada com o tucanato pela aprovação da CPMF no Congresso Nacional. De fato, o ex-banqueiro dos lábios escamosos, frente ao inelutável, iria entregar todo o roteiro das maracutaias no qual esteve envolvido durante o período planaltino do professor Cardoso e seus tucanos amestrados. Qual nada, entraram os negociadores lulistas do Planalto e conversaram com os cardeais tucanos, esses híbridos da política brasileira, e está tudo resolvido. Não se fala mais em Cacciola nessa casa e a CPMF será aprovada, para alegria das criancinhas do Nordeste – este sim, o verdadeiro deserto do Real.
Mas o que é o deserto do Real frente ao deserto do Joshua Tree, da falsa Cinecittà de Brasília, não?
Foto do Joshua Tree Park, na Califórnia, e o arbusto (cactus) que lhe dá o nome.
O Slavoj Zizek que me perdoe, mas pior que o deserto do Real é o deserto do Joshua Tree.
Acho que foi o genial Sergio Leone que filmou o inelutável, e o fez no Joshua Tree. Imaginem filmar o inelutável? Como fazê-lo? Como descobrir uma imagem para dizer: isto é o inelutável, o inescapável, o fatal, o fim da história (sem duplo sentido).
Pois Sergio Leone, o cineasta italiano genial, conseguiu metaforizar o inelutável. O gordo Leone foi para o deserto do Joshua Tree, na Califórnia, o lugar onde o diabo perdeu as havaianas, e filmou o inelutável. Claro que ele fez tudo isso de mentirinha, nos estúdios da Cinecittà, arredores de Roma, mas nos seus filmes de western spaghetti era nas areias secas do Joshua Tree. O inelutável para o gordo era quando ele mostrava o sol chapado e reverberante na tela, com a música reverberante de Ennio Morricone. Reverbera até hoje nas nossas retinas e ouvidos. O herói ou o anti-herói já não tinha como sair daquela, na secura do deserto, urubus se aproximando de cima, lobos uivando, o cantil está empoeirado por fora e por dentro, os lábios escamam e então a câmara sobe lentamente e estampa o sol, radioso e inclemente. O inelutável! O sujeito na cadeira, contrito, diz para o seu botão ouvinte: pronto, terminou o filme. No way out. Qual nada, é aí que o gênio do gordo começava a mostrar como se faz cinema. E por aí vai.
Pois o ex-banqueiro Salvatore Cacciola há poucos dias também esteve face a face com a fatalidade, lobos uivando, urubus sobrevoando a área e o sol inclemente indicando que as saídas estão todas vedadas. Mas o Salvatore Cacciola transforma-se numa moeda, como num passe de mágica. Algum Sergio Leone de Brasília fez a mágica e transformou o Cacciola numa moeda valiosa.
Essa moeda valiosa está sendo trocada com o tucanato pela aprovação da CPMF no Congresso Nacional. De fato, o ex-banqueiro dos lábios escamosos, frente ao inelutável, iria entregar todo o roteiro das maracutaias no qual esteve envolvido durante o período planaltino do professor Cardoso e seus tucanos amestrados. Qual nada, entraram os negociadores lulistas do Planalto e conversaram com os cardeais tucanos, esses híbridos da política brasileira, e está tudo resolvido. Não se fala mais em Cacciola nessa casa e a CPMF será aprovada, para alegria das criancinhas do Nordeste – este sim, o verdadeiro deserto do Real.
Mas o que é o deserto do Real frente ao deserto do Joshua Tree, da falsa Cinecittà de Brasília, não?
Foto do Joshua Tree Park, na Califórnia, e o arbusto (cactus) que lhe dá o nome.
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