Banco do Sul preocupa FMI e Banco Mundial
No momento em que o Banco Mundial e o FMI estão envolvidos em questionamentos sobre a sua eficácia e o seu futuro, a Venezuela apresentou em Washington, sede dessas duas instituições, o Banco do Sul, uma instituição que pretende substituir os organismos financeiros internacionais junto aos governos da América do Sul e saciá-los de créditos fartos e baratos. A informação está no jornal El País, da última quarta-feira.
O ministro venezuelano de Finanças, Rodrigo Cabezas, disse diante de um grupo de jornalistas que o Banco do Sul é “o primeiro elo de uma nova arquitetura financeira” com a qual se procura por fim a dependência dos países sul-americanos do mercado tradicional de empréstimos e às condições impostas pelo FMI. O passo seguinte, explicou Cabezas, será a criação de um fundo monetário sul-americano ou um fundo de reservas “que administrará 16 bilhões de dólares de reservas globais na região para colocá-las a serviço do desenvolvimento”.
O ministro disse que os oito países que a princípio formarão o Banco do Sul (Venezuela, Brasil, Argentina, Equador, Bolívia, Uruguai, Paraguai e Colômbia – anunciou a sua participação na semana passada) estão trabalhando intensamente para que a ata de fundação do novo organismo possa ser assinada no dia 3 de novembro em sua sede em Caracas, mesmo reconhecendo que restam pendentes algumas discussões que poderão atrasar essa data. No momento, a instituição se limitará ao âmbito da América do Sul.
As dificuldades maiores se relacionam com os aportes de capital de cada um dos membros, assim como sua capacidade de decisão. Cabezas disse que o aporte inicial “se fará por vontade de cada uma das nações”, ou seja, que ninguém será obrigado a depositar uma quantidade para ser sócio. Em suma o banco pretende iniciar com 7 bilhões de dólares.
O governo do Equador sugeriu que cada um dos membros aporte como mínimo a mesma quantidade com que participa do Banco Mundial e o FMI. O Brasil, que com maior insistência está pedindo rigor no manejo da instituição, prefere alguma forma de obrigatoriedade nos primeiros aportes e que estas não dependem apenas da Venezuela e do próprio Brasil.
O governo venezuelano pretende assim mesmo que a ata de fundação garanta o princípio de um voto para cada país, de forma que todas as decisões se tomem por consenso, sem levar em conta o tamanho de cada economia ou sua contribuição ao capital total. “Se trata de demonstrara que isso não é o banco de Chávez e para Chávez”, disse Rodrigo Cabezas, procurando desmentir as suspeitas de que o Banco do Sul é um instrumento da política exterior do presidente da Venezuela contra os EUA.
Ainda que neste país não se tenha produzido ainda uma reação oficial, alguns funcionários estadunidenses reconheceram em privado sua preocupação com as possibilidades que esta instituição dê a Hugo Chávez a capacidade influir na estabilidade da América Latina por décadas.
Essa mesma preocupação era visível nos organismos de crédito tradicionais, especialmente na instituição mais ameaçada com a nova criação, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Fontes do BID reconheceram que se Caracas está disposta a por dinheiro a fundo perdido nessa iniciativa, o novo banco é perfeitamente viável a curto prazo.
Em que pese o ministro Cabezas assegurar que este projeto “não é contra ninguém”, é óbvio que a Venezuela procura aproveitar as dificuldades do BID e de seus irmãos maiores, o Banco Mundial e o FMI, grandes protagonistas da economia mundial no passado para adaptar-se a novos tempos. Ainda que os três grandes tenham colocado acento nos últimos anos em atender as necessidades dos países pobres, seus conceitos e condições às vezes resultam incompatíveis com alguns governos que tem assumido o poder na América Latina.
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