Como é bom, ser bom!

Tu, que vês tudo pelo coração,

Que perdoas e esqueces facilmente,

E és, para todos, sempre complacente,

Bendito sejas, venturoso irmão.

Possuis a graça como inspiração

Amas, divides, dás, vives contente,

E a bondade que espalhas, não se sente,

Tão natural é a tua compaixão

Como o pássaro tem maviosidade,

Tua voz, a cantar, no mesmo tom,

Alivia, consola e persuade.

E assim, tal qual a flor contém o dom.

De concentrar no aroma a suavidade,

Da mesma forma, tu nasceste bom.

José Martins Fontes (1884-1937)

Quero dedicar este poema a todos aqueles que tiveram (e tem) um olhar óbvio sobre o filme Tropa de Elite. Faz uma semana que este filme foi lançado no circuito comercial e eu confesso que já fazia muito tempo que não ouvia e lia tantas platitudes sobre um só objeto de crítica. O filme de Padilha é uma obra objetiva, plana, praticamente sem contradições e reeentrâncias, com linguagem direta, onde tem uma única e pequena chave para abrir o seu suposto (quase falso) enigma: as categorias de Vigiar e Punir. Pois nem assim eles conseguiram entender esse filme raso (que, aliás, não é o tipo de filme que me agrade). Esse pessoal é uma mescla daquilo que Kosik denominou de bela alma e o espírito de comissário. Ora são ingênuos, na linha do como é bom, ser bom!, ora são tão dogmáticos que ficam impedidos de operar o pensamento dialético. O filme tem policial que tortura e mata pobre e favelado? Ah! É um filme fascista, onde já se viu! Estamos retrocedendo aos tempos da ditadura militar, que absurdo! Eu nunca pensei que a polícia militar fosse capaz de tanta maldade!

E por aí vai..., mas te consola, meu filho, tu nasceste bom! Isto te basta.