Galeano homenageia Che
Há quarenta anos atrás, quando Che Guevara foi assassinado, dias depois do fato ocorrido na Bolívia, Eduardo Galeano escreveu este texto aqui sobre o Che. Uma beleza de texto, para guardar no peito e no arquivo.
O escritor uruguaio, já prevendo o que a direita diria sobre o herói assassinado, conclui assim o seu artigo:
[...]
Os escribas de aluguel, no entanto, não perderam a ocasião de exibir sua capacidade de infâmia: uma revista argentina sugere que foi “Che” o assassino de Camilo Cienfuegos; outra afirma que está melhor morto do que vivo, pois assim fica claro que o terror não é o caminho do progresso para a América Latina; uma terceira se surpreende de que os guerrilheiros não sejam produzidos pelo Ocidente, e sim pelos “países comunistas” . Imagino o “Che”, afastando, com um sorriso ligeiramente amargo, todo este palavrório luxuosamente impresso que ofende tanto a inteligência como a sensibilidade.
Penso na frase certeira de Paul Nizan: “Não há uma grande obra que não seja uma acusação do mundo”. A vida de “Che” Guevara, tão perfeitamente confirmada por sua morte é, como toda grande obra, uma acusação formulada, desta vez a balas, contra um mundo, o nosso, que converte a maioria dos homens e mulheres em bestas de carga de uma minoria de homens e que condena a maioria dos países à servidão e à miséria, em benefício de uma minoria de países; é também uma acusação contra os egoístas, os covardes e os conformistas que não se atrevem a mudá-lo.
Por que a morte de “Che”, de agora em diante, ter-se-á que merecê-la.
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