Reflexos
O espelho na lareira reflete a refletida
Sala em minhas janelas; no espelho, à noite, esses efeitos
Mostram-me duas salas e na primeira o esquerdo é direito,
Enquanto a segunda, para lá da janela, tem a imagem corrigida
Mas aí estou, de costas para minhas costas. A lâmpada
Comum está três vezes no espelho, duas na janela,
O fogo no espelho jaz duas salas além, pela janela,
E pela janela chega o fogo ao terraço, uma sala depois,
E minha sala real é um sanduíche entre invenções
Da noite, luzes, vidros – e em todas as direções
Vejo além dos reflexos o brilho morto
Das lâmpadas da rua em minha sala encalhada
Que um táxi pode atravessar até à estante
Cujos livros ninguém pode ler e, vencendo a lareira
Que não me aquece, chegar até a minha mesa
Onde não posso escrever, porque não sou canhoto
Louis MacNeice (1907-1963) Poeta irlandês.
Nenhum comentário:
Postar um comentário