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Surf no lixo contemporâneo: a que ponto chegamos! E que mundo deixaremos de herança para Keith Richards?

quinta-feira, 18 de outubro de 2007


Os Jack Bauer morenos


Uma operação policial na favela da Coréia, em Senador Camará, na zona oeste do Rio de Janeiro, deixou doze pessoas mortas nesta quarta-feira. Entre os mortos estão uma criança de quatro anos e um policial civil. As outras vítimas são suspeitas de envolvimento com tráfico de drogas. Mais de 250 policiais participaram da ação, que tinha como objetivo a apreensão de armas na favela. Onze pessoas foram presas. Em protesto contra a morte da criança, que foi atingida dentro de casa, moradores do local queimaram um ônibus na região. A informação é da Agência Chasque.

.......

Eu nunca vi essa notícia (e nunca verei): “Uma mega operação policial no condomínio de luxo de São Conrado, na Zona Sul do Rio de Janeiro, deixou doze pessoas mortas ontem. Entre as vítimas uma criança de quatro anos”.

O dia que isso acontecer, todas as estações de televisão do planeta darão manchetes escandalosas sobre o gravíssimo fato que reprime e aniquila famílias pacatas e cidadãos probos do Rio de Janeiro.

Polícia, conceitualmente falando (desculpem), é para isso: reprimir e se possível eliminar pobre e iletrado. Isso não é só no Rio de Janeiro. É também em Nova York, Londres (vide Jean Charles de Menezes), Paris (vide os jovens muçulmanos da periferia), Tóquio, Porto Alegre, Helsinque, Pretória, Sidney e Cabrobó do Judas.

Avaliações rasteiras do filme Tropa de Elite, como eu li no portal do PCB, hoje, querem umedecer o mar, ou (já que estamos falando de repressão policial) arrombar portas abertas, pregando adjetivos contra o BOPE, reclamando de sua violência, que tais abusos replicaria a violência da ditadura militar de 1964-1985, etcetera, e por aí vai num cândido rosário de declarações de princípios e ratificações redundantes de humanismo e coragem moralizadora.

Ora, o filme de José Padilha dá uma dica mais que direta para esses espíritos moralistas. Ele diz, com todas as letras, todos os signos, todos os sons, e todas imagens que: “este filme é baseado no trabalho de Michel Foucault, obra tal, editora tal, ano tal...”. Só falta correr essa legenda no final da projeção. Mais claro, impossível! Mais claro, só se o pessoal do Padilha desenhar na lousa com giz multicolorido.

O mais curioso é que Padilha é adulado pelo seu “Ônibus 174”, com a mesmíssima temática, só que de outro ângulo. Agora, o diretor apenas vira a câmera, e sustenta-a num roteiro inspirado nas sólidas categorias foucaultianas, e imediatamente deixa de ser o que foi. Agora, Padilha “é fascista” – como eu li hoje.

Que notável metamorfose! É como se o Ingmar Bergman, lá no céu estrelado dos cineastas geniais, recomeçasse a fazer cinema inspirado nos filmes de Victor Mateus Teixeira – o nosso Teixeirinha.

- Ô, Teixeira, como é mesmo que vocês fizeram aquela cena em que sua mãe morre carbonizada, cara?


13 comentários:

Anônimo disse...

tem um blogueiro aí do sul que também foi nessa linha dos caras do PCB, eu acho que a coisa é bem mais simples, os caras não entenderam o filme, apenas isso.

Carlos Eduardo da Maia disse...

Está ai um monopólio do Estado, o poder de polícia que existe em qualquer sistema, em qualquer lugar do mundo e sempre existirá, inclusive os BOPEs da vida. Polícia não serve para reprimir e se possível eliminar pobre e iletrado, como entende o Feil. Mas a polícia tem que agir onde floresce a criminalidade. E onde floresce a criminalidade? Nos mesmos lugares de sempre: nos locais onde não existe ou pouco existe Estado. Por isso é baboseira esse papo neoliberal de Estado mínimo num país como o Brasil. O Brasil precisa de um Estado que funcione, que gera educação, saúde e segurança DECENTE. No Leblon, nos Jardins, nos bairros de classe média alta, a criminalidade pode atuar, vendendo seus pós, seus fumos, furtando e roubando carros e residências, mas não é ali que ela floresce. Ela floresce na falta de oportunidade, na falta de investimento social, no abandono. Ela floresce nos morros do Rio, nas vilas das grandes cidades, Em St. Denis, subúrbio de Paris, nos bairros de imigrantes da Europa. O lugar é sempre o mesmo e é sempre o mesmo, porque o Estado (esse ente que nunca vai perecer, como religiosamente acredita Istvan Meszarós e seus cordeirinhos) e seus diversos poderes e serviços de assistência - não existem ou pouco existem.

Anônimo disse...

Carlos Eduardo falou tudo e falou certo.

Nos bairros "burgueses" a criminalidade não fecha ruas, não impõe a lei do silência, não possui milícias armadas (isso é uma redundância).

O crime organizado se cria, cresce e se multiplica onde a educação não chegou. E é lá que deve ser combatida.

Não podemos esperar que os policiais cheguem batendo à porta e pedindo permissão para entrar. É necessário agir no mesmo nível.

Abraço

Anônimo disse...

Maia, esses teus filhotes são muito ingênuos, traz outros mais safos.

Quer dizer, Marcelo, que crime organizado é feito só pela chinelagem de favela, tem certeza disso, meu bom rapaz?

Vc. sabe que hoje neste momento tem 3 trilhões de dolares circulando no mundo, que são frutos do crime organizado. Agora. São os chinelos de morro que movimentam esses montantes, Marcelo. São, né?

Maia, não traz mais essa gente de fralda aqui!

Anônimo disse...

Santo Cristóvão!!!!!

A hipocrisia de certos membros da "intelectualidade" (entre aspas mesmo) beira ao rídiculo. Muito bem lembrado q louvavam o Padilha pelo 174 e agora o transformaram em monstro fascista.

E sobre a ação da polícia. O q mais me enojou foi a globonews mostrando imagens de dois rapazes´(possíveis traficantes)correndo morro abaixo (morro mesmo, no meio do mato)e sendo caçados como animais pela polícia,levando bala..eles mostraram os garotos fugindo e sendo alvejados pelos policiais. E a cara de felicidade sarcástica dos âncoras do jornal foi impagável.

Guga Türck disse...

Tropa DA Elite

Anônimo disse...

é nos bairros "chiques" que está a origem de tudo, o financiamento. e fim de papo.

Anônimo disse...

Será que sem as reações do filme "neutro",que mosta a realidade nua e crua sem viés, baseado em Foucault (aliás esse é de esquerda né?),a oligarquia midiatica, em rede nacional, teria a cara, e a legitimidade, de mostrar um assasinato a sangue frio, numa brincadeira de tiro ao alvo, de dois pé rapados, desarmados, sob a justificativa de que eram bandidos? Qual o papel que o filme tropa de elite cumpre na luta de classes??? Não estaria ele legitimando (é, Weber pode ser útil também, mais que Foucault)ações represivas contra a população pobre? Na sociedade que vivemos~, com o controle midiático que temos, não basta passar um lado, se ele é errado tem que criticar SIM! Ou a luta de classes acabou?? Mostremos a visão da burguesia de qlquer lado...para nós (vanguarda) será chocante, para massa será o fato, ou o único fato. Ou caimos na velha ingenuidade idealista pequeno burguesa. É um filme para ENTENDER como de esquerda...Entendo uma coisa só, que 99% dos que viram entenderam a msg sim. E por isso Porto Alegre amanheceu sitiada. Ou vcs não notaram??? Policia vai a favela pegar bandido! Estamos falando de uma massa influenciável, exemplo pedagógico!Essa é análise que deve ser feita. Ele mostrou o lado dos puliça, só isso, ingenuamente, para sucitar uma reflexão...então pq no cartaz (em "cartaz" no blog mais próximo) se lê, que uma guerra tem duas versões, esta é A verdadeira?


Aaaaa Dr. Feil, menos idealismo e mais dialética por favor.

Anônimo disse...

E em ultimo, virar a camera como o sr. coloca nãoo é um ato tão simples como parece. Em uma sociedade dividida em classes (Em que 99,9% nunca ouviram chongas de Foucault, mais compraram o TE pirata)as consequencias podem ser devastadoras. Vai ver o cam~peão não veja diferença em um regime de "exceção" e o atual pq é da turma de intelectuais não muito interessada na ação direta!
Deprimente seu comentário, principalmente essa parte, é o mundo da ilusão descrito com uma fidelidade entristecedora. Agora a massa precisa entender que o filme foi baseado em FOCAULT, só que meio acritico convenhamos. A não tem as entrelinhas!:
dá uma dica mais que direta para esses espíritos moralistas. Ele diz, com todas as letras, todos os signos, todos os sons, e todas imagens que: “este filme é baseado no trabalho de Michel Foucault, obra tal, editora tal, ano tal...”. Só falta correr essa legenda no final da projeção. Mais claro, impossível! Mais claro, só se o pessoal do Padilha desenhar na lousa com giz multicolorido.

Cristóvão Feil disse...

Tem uns empedernidos e refratários que criam um clone do que se escreve e colocam essa imagem projetada em um pelourinho.

Depois que o clone está solidamente preso àquele instrumento de tortura, esses empedernidos e refratários juntam todas as pedras do pedaço e passam a jogá-las naquela imagem que fizeram do teu texto.

O texto mesmo e o sujeito do texto ficam intactos e assistindo àquela selvageria explícita e sem nexo (e mal redigida, ou melhor, redigida por mãos e cabeça de neurose).

Tudo isso para perguntar: onde está escrito que a massa precisa entender de Foucault? Onde?

E agora corre pra tomar o remedinho, que já deve estar na hora. Atenção ao que o psi disse!

Anônimo disse...

Não precisa escrever...e sim compreender as consequencias do texto, e tentar interpreta-lo, obviamente. Esta bem claro, falta voce entender, inclusive o que escreves. O texto do Ivan (excelente) mostra as consequencias do filme, vc da uma resposta daquelas...O filme esta ai, massificado...
Globo, Veja, Zeaga e Mendelski estão ai, fazendo ode ao tropa de elite. Cristóvão Feil entendeu diferente deles, achou de esquerda. Aliás uma parábola de Foucault. Tá bom.

Já eu, que não preciso afirmar minha inteligencia em pequenos detalhes (devo ser melhor resolvido), achei que a parte do filme serve para criticar (ridicularizar) a intelectualidade pequeno burguesa universitaria que tenta categorizar (demonizando-o) o aparelho de repressão do estado enquanto que patrocina o "crime". MAs quem sou eu...deve ser uma análise rasteira e moralista, pois, bonapartismo, fascismo e democracia burguesa são a mesma coisa.

Esgotei.

Anônimo disse...

a parte do filme em que o diretor da a "deixa" (e assim deixa claro) para mostrar como o filme foi fundamentado no Vigiar e Punir. Rá!

Cristóvão Feil disse...

Prezado senhor ou senhora anônimo, refleti por trinta segundos e concluí que vc. tem razão.
Saudações!


[Já ouvi em algum lugar que não se pode contrariar louco nem acordar sonâmbulo.]

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