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quarta-feira, 10 de outubro de 2007



Delfim Netto é cabo eleitoral de Dilma Rousseff

O ex-czar da economia brasileira no tempo da ditadura militar, Antonio Delfim Netto, escreve o artigo abaixo, publicado na Folha de hoje. Sempre debochado, Delfim ironiza o “socialismo” da ministra Rousseff, de leve.

Noves fora tudo isso, quero dizer que estou convencido, desde ontem, que Rousseff está – agora sim – candidatíssima à sucessão de Lula, em 2010. Essa concessão de rodovias – privatização tout court – anunciada ontem é o seu passaporte inicial rumo a uma campanha longa e penosa que tem pela frente. Passaporte e requerimento simbólico para torná-la palatável aos mídias corporativos, às entidades centrais do empresariado que detém dois terços do PIB nacional, e aos observadores internacionais. Isso no que toca ao público externo.

No público interno – o PT, ou o que resta dele –, Rousseff ainda terá que gramar mais um pouco. Mas isso é outra história. Leiamos o artigo do ex-czar, que de uma certa forma está chancelando e anistiando o passado da ministra, além de ser o seu primeiro cabo eleitoral, discretamente.


Uma semana tranqüilizadora

O mínimo que se pode dizer da última semana é que ela foi tranqüilizadora. O desempenho da ministra Dilma Rousseff na sabatina da Folha mostrou que há mais esforço administrativo e menos ênfase ideológica no governo Lula do que sugerem seus críticos ideológicos. Com uma saborosa desenvoltura declarou-se "socialista".


Mas que socialismo? Não o do "século 21", que terminará bem pior que o do século 20, e muito menos o da luta armada para impor "democraticamente" a liberdade como pensava aos 19 anos. Segundo se viu, "socialismo" é o codinome da construção de uma sociedade constitucionalmente forte, com poder incumbente regularmente eleito por partidos competitivos e onde prevaleça uma certa justiça, uma relativa igualdade de oportunidade, onde a liberdade individual seja efetiva, onde as desigualdades de renda não sejam chocantes e o sistema produtivo seja a economia de mercado submetida a um regime competitivo. Em poucas palavras, "um capitalismo moralmente aceitável".


Outro fato tranqüilizador foi o visível avanço no setor da infra-estrutura. Finalmente desencantaram-se os "leilões" dos sete trechos de rodovias do Sul e Sudeste, que somam 2.600 quilômetros e que aguardavam solução desde 1996. Mais de uma vez criticamos neste mesmo espaço as dificuldades que tinha o governo para decidir. Pois bem, os projetos dos leilões surpreenderam: parecem muito adequados, e as condições de garantia da execução das obras são eficazes. Ao que tudo indica, haverá uma feroz competição que beneficiará os consumidores, inclusive com uma rápida antecipação da melhoria dos serviços antes da cobrança dos pedágios, o que reduzirá a resistência a eles. Abre-se, agora, a possibilidade de que o governo coloque, por concessão simples ou por PPP, outros 15 mil quilômetros de rodovias, o que as recuperaria em menos de três anos, como tem insistido o senhor Paulo Godoy, presidente da Abdib.


Na mesma semana, a Vale do Rio Doce arrematou 720 quilômetros da ferrovia Norte-Sul, e os investimentos sugeridos no PAC... começam a mover-se com maior rapidez, o que é fundamental para aumentar a eficiência da economia. Um fantasma, entretanto, ainda inquieta o investidor privado: a ausência de uma demonstração convincente do teorema de que não faltará energia a preços razoáveis (ainda que a custo marginal crescente), mesmo com um crescimento do PIB de 5% ao ano nos próximos dez ou 15 anos. Para isso seria bom se fossem acelerados, também, os leilões das hidrelétricas do Madeira.


7 comentários:

Anônimo disse...

"Não importa a cor do gato, desde que pegue ratos?"

Anônimo disse...

Feil, análise perfeita.

Anônimo disse...

Armando, também acho que cabo-eleitoral não tem cor nem ideologia, mas desde que seja incondicional.
O Delfim no final do artigo, banca o Pero Vaz de Caminha que pedia emprego pros parentes a El Rey, e também pede Pac's, hidrelétricas e etceterasssss... Feil tem razão o caminho de DR será muito penoso.

Carlos Eduardo da Maia disse...

O governo do PT, finalmente, está arregaçando as mangas e fazendo o que deve fazer: parcerias e concessões com a iniciativa privada, porque nenhum Estado moderno, ainda mais do tamanho do Brasil, tem condições de prestar todos os serviços ao mesmo tempo e agora. E Dilma parece ser a grande maestra, de olho em 2010. O Mino Carta nunca imaginou como é difícil convencer a esquerda brasileira de largar de mão os velhos dogmas do marxismo leninismo e o preconceito com o capital, como se este fosse apenas danoso e não gerasse empregos, impostos e desenvolvimento. Ontem o governo Lula deu importante passo ao privatizar e conceder a um grupo espanhol rodovias importantes do centro sul do país, sendo que o valor do pedágio ficou quase 50% menor do que o que é atualmente cobrado. Isso demonstra que revisões devem e podem ser feitas nos pedágios já concedidos. Que o PT leve essa política adiante e poderá ter meu voto, porque acredito num governo democrático de esquerda, sem preconceitos com o capital.

Anônimo disse...

Estou Armando uma resposta sobre o que Lemos e resolvi ficar Callado porque não da Maia pra segurar. O texto é de Feil e a persistência do Carlos é impressionante. A Dilma vai precisar de algo parecido, talvez não na mesma direção de Dom Quixote de La Maia montado em seu Rocinante esforço de combate aos dragões ideológicos em pele de moínhos, ou melhor, hidrelétricas. Em pouco tempo o Carteiro do Poeta retorna do exílio digital. Gostei do novo com domínio, Cristóvão.

Anônimo disse...

Estou Armando uma resposta sobre o que Lemos e resolvi ficar Callado porque não da Maia pra segurar. O texto é de Feil e a persistência do Carlos é impressionante. A Dilma vai precisar de algo parecido, talvez não na mesma direção de Dom Quixote de La Maia montado em seu Rocinante esforço de combate aos dragões ideológicos em pele de moínhos, ou melhor, hidrelétricas. Em pouco tempo o Carteiro do Poeta retorna do exílio digital. Gostei do novo com domínio, Cristóvão.

Anônimo disse...

Aguardaremos pressurosos, Eduardo!

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